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Capítulo 10°

Em luta com o inferno

Mas eis que, quando parecia que ia morrer, que já mal poderia com mais sofrimentos, seguem-se três meses terríveis de lutas supremas com os demónios.

Já de longe que eles a vinham acometendo sensivelmente de muitas maneiras: fantasmas, vozes, ameaças, palavras blasfemas e obscenas... mas nunca lhe tinham tocado no corpo. Agora, depois de a ameaçarem muitas vezes que vão dar cabo dela, chegam por fim a esse extremo e de modos formidandos.

Não havia hora do dia, por assim dizer, que mais ou menos se não sentisse vexada por eles, mas sobretudo do meio-dia às três da tarde e, à noite, das nove em diante.

Nesses dois ataques maiores diários, dava-se não só verdadeira obsessão diabólica, mas até instantes de possessão. A algum assisti eu, por exemplo, a 7 de Outubro de 1937. Em tais lutas, ela entrevada e esgotada de forças, pesando apenas uns 33 quilos, tão violentamente tentava despedaçar-se contra os ferros da cama, morder-se, etc., que nem quatro pessoas conseguiam dominá-la de todo. Isto presenciei eu nesse dia e o demónio levava-a a dizer blasfémias e palavras inconvenientes a que nem ela mesma sabia o sentido, como me declarou.

Num desses momentos mais violentos, interroguei eu, em latim, ao demónio quem era. Respondeu-me imediatamente, sem hesitação nenhuma: "Sou Satanás e odeio-te." Para maior certeza, dei outra volta à frase, sempre latim, e a resposta foi também imediatamente esta: “Sou eu, sou, não duvides."

Lembro-me que, nesse dia, disse lá Missa e ofereci sem previamente a avisar a ela, o santo Sacrifício, em primeira intenção, para que Nosso Senhor a livrasse daquelas vexações diabólicas. No fim da Missa, aproximei-me do seu leito e declara-me ela, sem mais:

– Nosso Senhor disse-me que não podia conceder o que V.R. lhe pediu; que precisa destes meus sofrimentos para acudir aos pecadores.

Interroguei-a então:

– Mas que é que eu pedi a Nosso Senhor?

Respondeu-me:

– Naturalmente, que me livrasse destes ataques do demónio...

– E não quer que peça isso a Nosso Senhor para que Ele lhe mude este sofrimento para outro?

– Não, meu P., peça antes que se faça em tudo a vontade de Nosso Senhor.

Citemos alguma carta em que ela se refere a esses combates; é de 30/VIII/37:

Têm-se repetido aqueles combates tão tremendos, que só o meu P. sabe: principal­mente um, logo na noite a seguir ao dia que aqui veio. Ó meu Jesus, que coisa tão horrível! E ainda me dizia o maldito:

"Praticas tão horrendos crimes e queres passar por boa, por inocente. É a paga de tudo contares àquele intrujão" (o director espiritual), e mais coisas ainda. E atirou comigo abaixo da cama; mas o meu querido Jesus não me abandonou; veio em meu auxílio.

Ainda antes de O ouvir falar, sentia uma grande paz. E dizia-me então Nosso Senhor:

– Quem poderá dar-te a paz que Eu te faço sentir? Coragem! É tua a vitória.

É impossível (quer dizer: não te deixarei) ofenderes-Me. Eu não posso dispensar-te de tão tremendos ataques, de tanta reparação para Mim. Que tesoiros de graças para Eu derramar sobre os pobres pecadores! Descansa em paz dentro do meu Coração. Os Anjos bons te defenderão dos maus. Recebe, meu anjo, as carícias do teu Jesus...

Se eu viver até estar com o meu P. lhe explicarei tudo melhor e desabafarei à vontade.

Quando era meia-noite, já estava livre do maldito.

Que horas tremendas! Diz o meu querido Jesus, e V. R. em quem eu tenho toda a confiança, que não ofendo a Nosso Senhor. De contrário era impossível convencer-me que com tais coisas pudesse passar sem O ofender...

No fim destas lutas, ficava-lhe o corpo todo triturado e a alma na mais medonha treva; mas, ordinariamente, depois dos combates, vinha logo Nosso Senhor a confortá-la, a dar-lhe coragem para a luta e a restituir-lhe a paz que o demónio lhe roubava, com as indecências que lhe sugeria e dizia; é particularmente, nestes momentos, que Jesus lhe mostra maiores ternuras e a trata com o termos mais delicados. Assim os descreve ela em carta de 24/IX/37:

Na noite de 16 (após um desses combates) falou-me Nosso Senhor assim:

– Minha filha, tomei-te para os meus braços, para te defender; e todas as vezes que seja preciso, Eu te defenderei. Aceitei a tua oferta de te dares a Mim; tomei-a bem à letra. Consolou-Me muito a simplicidade com que te ofereceste. Escolhi-te para Mim ainda no ventre de tua mãe, para que dentro em pouco, e bem depressa chegou, te pudesse chamar minha esposa. Eu e tua Mãe Santíssima olhamos-te com predilecção, pelos caminhos pedregosos e medonhos por que tiveste de passar. Fui Eu quem te destinei, para que agora pudesse ter assim uma vítima de tanta reparação. Repousa contra o meu Coração, aqui encontras tudo: luz para poderes caminhar, força para tudo suportares e amor para tudo sofreres.

Minha filha, tem dó do teu Jesus; não durmas. Desagrava-Me dos pecados que a esta hora se estão a cometer. Faz-Me companhia nos meus sacrários. Estou tão só!

No dia 17, falou-me assim:

(depois da luta) Cora­gem, minha filha, não te entristeças nem desanimes, nem um momento, que com isso lhes dás consolação, já que os demónios mais nada conseguem de ti. Eu não consentirei que eles consigam que tu Me ofendas. Comigo tu vences. Tem confiança em Mim. Se assim permito que tu sofras, é pelo amor que te tenho. Quero te dar um lugar no Céu alto, muito alto...

Copiemos ainda da carta de 2/X/37 o que ela diz, bem característico:

No 19 de Outubro, disse-me Nosso Senhor:

– Minha querida Alexandrina, vem: ouve o teu Jesus que vem a ti para te animar, para te dar força. Não te aflijas; não penses, minha querida filha, que Me ofendes... Ficas bela, cada vez mais bela, pura, cada vez mais pura. És a minha querida, cada vez mais querida. Minha filha, como Eu te amo!...

Que compreenda o teu P. Espiritual e que to diga. Que compreenda quem de direito o pode compreender. Podem fazer ideia, uma grande ideia de quanto te amo. Que amor sublime! Um sofrimento desta forma, em cima do que tanto há vem consumindo o teu frágil corpo! Podem ver aqui em que conta Eu tenho as almas dos pecadores, servindo-Me de tal sofrimento para os chamar. Não desprezo nenhuns; a todos quero salvar. Sou Pai; dei todo o meu Sangue; mas não basta: preciso dos teus sofrimentos (é o “completo o que falta à Paixão de Cristo”, de S. Paulo[1]) para Me ajudares.

Recebe, minha filha, as minhas carícias e descansa entre o meu santíssimo Coração e o de tua Mãezinha do Céu que contempla com ternura, a teu lado, o teu sofrimento, mas alegre, por ver a glória que Me dás, os pecadores que Me salvas e o que no Céu está preparado para ti. Associa-te aos Anjos e louva-Me com eles, na minha Eucaristia.

Finalmente, no dia 23/X/37, anuncia-lhe Nosso Senhor que está terminado este género de luta:

– Descansa, minha filha; acabou a guerra desta forma. Venceste tu e com grande vitória. Os demónios não tornarão a tratar-te desta forma. Atacarão-te (sic) horrorosamente, dolorosamente, mas de tal forma que poderás sofrer diante de todo o mundo, sem que o percebam.


[1] A frase de S. Paulo agora citada encontrava-se em latim na edição original: Adimpleo quae desunt Passioni Christi.

   

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