SITE DOS AMIGOS DA BEATA ALEXANDRINA

     

Capítulo 1°

Primeiros anos

Abramos a sua autobiografia ; reza assim, logo de entrada :

« Depois de uns momentos de oração a implorar auxilio do Céu e a luz do Divino Espirito Santo, para poder fazer o que o meu Padre Espiritual me determinou, principio a descrever a minha vida, tal qual como Nosso Senhor ma for recordando, embora com grande sacrifício.

Eu chamo-me Alexandrina Maria da Costa, nasci na freguesia de Balasar, concelho da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, a 30 de Março de 1904, numa quarta-feira de trevas e fui baptizada, a 2 de Abril do mesmo ano, era então sábado de Aleluia. Serviram de padrinhos um tio de nome Joaquim da Costa e uma senhora de Gondifelos (Famalicão), de nome Alexandrina ».

Logo a seguir nos fala da sua vivacidade de carácter, desde os primeiros anos :

« Era viva e tão viva, que até me chamavam Maria rapaz ; dominava as companheiras da minha idade e até as mais velhas que eu. Trepava às árvores, aos muros e até preferia estes para caminhar...

Gostava muito de trabalhar : arrumava a casa, acarretava lenha e fazia outros serviços caseiros. Tinha g0sto que o trabalho fosse bem feito e gostava de andar asseadinha ».

Desta vivacidade nascia talvez o que ela chama suas « maldades ».

« Encontro em mim, desde a mais tenra idade, tantos, tantos defeitos, tantas, tantas maldades que, como as de hoje, me fazem tremer ».

Afinal, que defeitos eram esses ? « Teimosices » de criança, como confessa. Sua irmã Deolinda escrevia-nos em 1934 que « durante este período (até aos seis anos de idade) manifestou sempre a sua qualidade principal, a bondade ». E acrescenta: « Foi sempre obediente ».

Em Janeiro de 1911, vai com a irmã Deolinda para a Póvoa de Varzim, a fim de frequentar a escola ; tinha então seis anos e meio. Aí mesmo, aos sete anos faz a sua primeira Comunhão, na igreja matriz :

« Foi o Sr. Padre Álvaro Matos — diz ela — quem me perguntou a doutrina, me confessou e me deu pela primeira vez a sagrada Comunhão. Como prémio recebi um lindo terço e uma estampinha. Quando comunguei estava de joelhos ; apesar de pequenina, fitei a sagrada Hóstia, que ia receber, de tal maneira que me ficou gravada na alma, parecendo-me unir a Jesus, para nunca mais me separar d'Ele. Parece que me prendeu o coração. A alegria que eu sentia era inexplicável. A todos dava a boa nova. A encarregada da minha educação levava-me a comungar diariamente.

« Foi em Vila do Conde, que recebi o sacramento da Confirmação, ministrado pelo Ex.mo e Rev .mo Sr. Bispo do Porto. Lembro-me bem desta cerimónia e recebi-o com toda a consolação. No momento em que fui crismada, não sei o que senti : pareceu-me ser uma graça sobrenatural que me transformou e me uniu cada vez mais a Nosso Senhor. Sobre isto queria exprimir-me melhor, mas não sei ».

Corridos dezoito meses, regressou a Balasar a viver com os seus e não fez, em toda a vida, mais nenhuns estudos, passando agora a dedicar-se aos trabalhos domésticos e do campo.

Aos nove anos fez a sua primeira confissão geral com Frei Manuel das Chagas.

« Fornos eu e a Deolinda e minha prima Olívia — escreve ela — a Gondifelos, onde Sua Rev.cia se encontrava e lá nos confessamos todas três. Levamos merenda e ficamos para a tarde à espera do sermão. Esperamos algumas horas e recordo-me que não saímos da Igreja para brincar. Tomamos o nosso lugar, junto do altar do Sagrado Coração de Jesus, e eu pus os meus soquinhos dentro das grades do altar .A pregação dessa tarde foi sobre o inferno. Escutei com muita atenção todas as palavras de Sua Rev .cia, mas a certa altura, ele convidou-nos a ir ao inferno em espirito. Como não compreendesse o sentido das suas palavras... julgava que íamos todos ao inferno a ver o que por lá ia. Para mim mesma disse : « ao inferno é que eu não vou ! Quando todos se dirigirem para lá, eu vou-me embora ». E tratei de pegar nos soquinhos. Como não vi ninguém sair, fiquei também, não largando mais os soquinhos ».

As mesmas notas autobiográficas revelam-nos, como já nesta tenra idade, desde os quatro anos, amava a oração, amor que foi crescendo sempre com o avançar da vida ; mas disto falaremos mais adiante, ao tratarmos da sua piedade.

« Também era muito amiga dos velhinhos, pobrezinhos e enfermos — afirma ela — e quando sabia que alguém não tinha roupinha para se cobrir, pedia-a à minha mãe e ia levar-lha, ficando por vezes a fazer-lhe companhia. Assisti à morte de alguns, rezando o que sabia e por fim, ajudava a vestir os defuntos, o que me custava imenso ; fazia-o por caridade ; não tinha coração para deixar sozinha a família dos mortos, e por serem pobrezinhos, fazia-o com muito gosto. Dava esmolas aos pobres e sentia grande alegria em fazer obras de caridade. Algumas vezes chorava com pena deles e por não lhes poder valer em todas as suas necessidades. A minha maior satisfação era dar-lhes daquilo que tinha para comer, privando-me assim do meu alimento. Quantas vezes fiz isto !...

Quanto me julgo reconhecida a Nosso Senhor por ter procedido assim ; era a sua graça e não a minha virtude ».

   

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