Preâmbulo
Quando, aos 54 anos, foi para Balasar, o Pe. Leopoldino tinha atrás
de si uma longa carreira de colaboração em jornais. A nova ocupação
não o impediu de continuar a marcar presença na imprensa, ao menos
na da Póvoa. Em
Setembro
de 1933, iniciou a publicação duma duradoura série de noticiários
semanais de acontecimentos balasarenses. Temos connosco perto de 300
deles, mas ele escreveu muitos mais, porventura o triplo. São
assinados apenas pelo C de correspondente e a uma primeira leitura
não parecem de modo nenhum atribuíveis ao pároco pois o seu autor
manifesta por ele um apreço declarado e continuado. Mas começam
quando ele chega e acabam quando ele deixa a freguesia. Sendo
publicados em variados jornais – A Propaganda, Idea Nova, A Voz
da Póvoa, O Comércio da Póvoa de Varzim e Ala Arriba –, o
tipo dos temas noticiados não varia muito e o estilo é sempre o
mesmo. Um dos últimos denuncia tratar-se claramente do Pe.
Leopoldino, um outro, do princípio, porque fala na primeira pessoa,
está assinado por Z, como os artigos sobre a Santa Cruz. Há um
testemunho fidedigno duma balasarense a confirmar a autoria do Pe.
Leopoldino relativamente a tais noticiários.
Aqui
publicamos os que escreveu entre 1933 e 1940. Este diário dum pároco
de aldeia constitui uma variada crónica balasarense paralela ao que
se conhece das biografias da Beata Alexandrina; os acontecimentos
relatados por vezes cruzam-se e nalguns casos até coincidem.
Neste
período Balasar foi uma paróquia em renovação: criaram-se e
manifestaram grande actividade a Cruzada Eucarística das Crianças, a
Juventude Agrária Católica, as Marias do Sacrários-Calvários. A
devoção ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria
viveu anos de esplendor. Chegaram a dezenas os rapazes que
frequentavam os seminários. O salão paroquial construi-se para
responder à dinâmica do momento.
Ao
nível mais estritamente leigo, a informação é abundantíssima. Fala
das figuras mais gradas da freguesia, mas também de muitas bem
humildes, fala da lavoura e das suas variadas dificuldades – da
duradoura crise que afectou tantos lavradores –, fala das pequenas
indústrias e dos seus donos, das intempéries, dos melhoramentos
conseguidos pelos autarcas, etc., etc.
Estes
noticiários permitem também formar uma ideia do modo como se vivia
no meio rural do Norte sob o Estado Novo, e que contradiz quase tudo
o que sobre o assunto hoje a Esquerda propala.
Já
tinha havido um correspondente de Balasar para a imprensa da Póvoa,
Cândido Manuel dos Santos ou Cândido Pardal. Depois de o Pe.
Leopoldino assumir o papel de correspondente, ele praticamente pára.
Devia
ter vindo ordem superior para os párocos prestarem este serviço; de
facto, os noticiários do pároco de Balasar estão muito longe de ser
caso único no tempo.
Com
poucas excepções, obtive as cópias dos noticiários na Biblioteca
Municipal.
José
Ferreira |