SITE DOS AMIGOS DA BEATA ALEXANDRINA MARIA DA COSTA

   

 

 

Pe. Leopoldino Mateus
 

NOTICIÁRIOS BALASARENSES
das décadas de 1930 e 1940
 

Recolha, transcrição e notas: José Ferreira

1934

NOTICIÁRIO 3

(INÍCIO DO CULTO PAROQUIAL A NOSSA SENHORA DE FÁTIMA)

 

Balasar, 18 (de Maio, publicado n’A Propaganda) 

Aproveitando a oferta da nova imagem, feita pela Sr. D. Maria Machado, virtuosa filha do nosso amigo Sr. Joaquim António Machado, proprietário desta freguesia, o nosso pároco, Rev. Leopoldino Rodrigues Mateus, iniciou o culto de Nossa Senhora de Fátima, de um modo solene e eficaz.

No dia 12 à noite, saiu da casa da oferente (em Gresufes) uma grandiosa procissão de velas em que tomaram parte cerca de 1000 pessoas, empunhando lanternas com a figura da Senhora e os pastorinhos da Cova de Iria, adquiridas na Póvoa. A maior parte do cortejo era constituído pelos homens que sem respeito humano cantavam com entusiasmo os versos de Fátima. Seguiam-se os Cruzados Eucarísticos, andor da Virgem e as mulheres e crianças atrás, todos rezando e cantando. As casas da passagem da procissão conservaram-se iluminadas, o que na noite escura e serena produzia um lindo efeito.

À entrada da igreja o nosso zeloso pároco, junto do andor da Senhora, proferiu uma alocução preconizando a necessidade da hora presente em que os católicos de credo e mandamentos se deviam integrar na acção social sob a bênção da Padroeira de Portugal.

No dia 13, houve de manhã missa solene em que comungaram 300 pessoas e à tarde exercício do mês de Maria e procissão do Terço, que também foi largamente concorrido pelo povo da freguesia e das vizinhas, notando-se o mesmo entusiasmo dos homens no canto. As ruas do trajecto estavam magnificentemente decoradas, apresentando lindos e artísticos tapetes de verdes e flores à moda da Póvoa. Junto da igreja, o nosso Rev. Pároco proferiu uma bela alocução referindo-se ao património de Nossa Senhora que, olhando com benignidade e amor para o velho Portugal, com justa razão denominado Terra de Santa Maria, dignou-se visitá-la por ocasião da grande conflagração europeia, incitando-o à oração e penitência, para conservar a sua autonomia, naquele momento tão em perigo. É dever do povo português corresponder a esta ternura de Maria com uma vida de dedicação e sacrifício pela causa de Deus; por isso, o culto da Senhora de Fátima ia-se alastrando em todo o país para honra de Deus, glória da Virgem e santificação do povo cristão. Tanto na véspera como no dia, ao recolher da nova e linda imagem, feita na Casa Fânzeres & C.ª, de Braga, houve uma grande manifestação do povo a Nossa Senhora, dando-Lhe palmas, vivas e acenando com lenços. Foi uma festa que deixou saudades não só ao povo da freguesia como ao povo das freguesias vizinhas e às famílias da Póvoa que vieram assistir.

Confortada com os Sacramentos da Igreja, faleceu com 30 anos a Sr. D. Delfina Matias de Oliveira, dedicada esposa do Sr. Lino da Silva Araújo, considerado armador. O seu funeral foi muito concorrido. Pêsames aos doridos. 

*** 

“A virtuosa filha do nosso amigo Sr. Joaquim António Machado”, a Mariazinha Machado, mais adiante, veio-se a revelar não muito virtuosa. Mas a ideia de iniciar na paróquia o culto público a Nossa Senhora de Fátima, dezassete anos após as aparições, era muito louvável. Os Machados viviam ainda em Gresufes.

Pelos escritos da Beata Alexandrina, sabemos que a devoção dos balasarenses a Nossa Senhora de Fátima já vinha de há anos.

É possível que a imagem por ela adquirida seja a mesma que actualmente se venera na igreja. A Mariazinha Machado foi mãe do falecido acirrado bairrista Sr. António Machado, popularmente conhecido como Toneca Machado. 

 

NOTICIÁRIO 4 

Balasar 15 (de Junho, publicado em 23 do mesmo mês de 1934, n’A Propaganda) 

Despertou grande entusiasmo a festa do SS. Sacramento há pouco realizada. De manhã, houve grande concorrência de fiéis à missa solene em que receberam o Pão dos Anjos algumas centenas de pessoas. A procissão da tarde constituiu uma verdadeira apoteose a Jesus Sacramentado, estando os caminhos festivamente engalanados e os pavimentos cobertos de lindos e artísticos tapetes, de verdes e flores. O estralejar dos foguetes, os cânticos do povo e o grande acompanhamento de pessoas vitoriando Cristo-Rei dava um aspecto imponente ao cortejo. Grande é a fé do nosso povo! Sem músicas nem iluminações, fez-se uma festa que muito alegrou o bom povo desta freguesia. Para recreação do público, houve ao final lançamento de fogo japonês, que muito agradou. Parabéns aos seus promotores!

Vai prometedor o ano agrícola. Os trigos e os centeios estão lindíssimos, o vinho quase limpo e o milho vai em bom caminho. Deus se amerceie deste bom povo que luta com grandes dificuldades económicas.

Foi bastante concorrido o exercício de Nossa Senhora de Fátima.

No dia do Sagrado Coração de Jesus, houve na Igreja Paroquial exercício, comunhão geral, prática pelo Rev. Pároco, admissão de novos zeladores e cânticos.

Têm vindo a esta freguesia alguns negociantes da Póvoa à compra de vinho, que está num preço normal e convidativo. 

*** 

“Este bom povo que luta com grandes dificuldades económicas”. A crise dos anos 30 devia estar a atingir o seu máximo: grandes casas de lavoura faliram umas atrás das outras até entrados já os anos 40. Os balasarenses do tempo criaram uma fama de desgovernados que durou dezenas de anos e estendeu-se léguas para além dos limites da freguesia. Foi um fenómeno especificamente local; muitos falam dele, mas ninguém ainda o estudou. O Pe. Leopoldino pouco diz sobre o caso, para proteger os seus paroquianos: ele dá sobretudo notícias boas ou destacando o lado positivo. 

 

NOTICIÁRIO 5 

Balasar, 8 (certamente de Julho e publicado em 25 desse mês de 1934, n’A Propaganda) 

No dia de S. João fui de passeio até à freguesia de Vilarinho das Cambas, do vizinho concelho de vila Nova de Famalicão, onde se realizava a festa do Santo Precursor de Cristo. Depois de ouvir um concerto pela música das Caldas das Taipas, assisti à missa da festa onde fez o panegírico do Santo o nosso abade Rev.do Leopoldino Mateus. Depois de jantar com umas pessoas amigas, assisti ao desfile da procissão, dirigida pelo nosso abade e em que foram conduzidos os andores com as imagens de S. Sebastião, Senhora da Paz e S. João. O grande largo fronteiriço à Igreja Paroquial estava repleto de povo das freguesias circunvizinhas para assistir à exibição do carro dos pastores. Este carro é uma imitação do de Braga e as crianças, apesar de rústicas, não representavam menos mal o nascimento do Baptista, despertando entusiasmo os bailados dos pastores acompanhados pela música. Foi uma festa simples que muito agradou aos forasteiros que a viram. Parabéns à comissão.

O ano agrícola, que estava muito prometedor, tem-se retraído um pouco. Com excepção do trigo, centeio e aveia, que são abundantes, o resto está muito atrasado e em declive. O vinho, que era tão copioso à nascença, com os nevoeiros têm desaparecido de dia para dia os cachos, tendo-se já perdido talvez um terço do vinho. A seca traz o milho em atraso e, se S. Tiago não vier com a cabaça dar a sua rega, vai um ano de fome. Que será das famílias pobres?

De visita ao nosso Rev.do abade, estiveram nesta freguesia os Srs. Benjamim Ribeiro de Faria, comerciante de sucata, Eduardo José de Andrade, proprietário da Casa Sanatório, e João Pinheiro Cadilhe, cartorário da Casa dos Pescadores.

Há dias, no lugar dos Casais da vizinha freguesia de Arcos, deu-se um desastre que muito emocionou o bom povo daquela freguesia. Maria da Silva Meira, de pouco mais de 30 anos, lavradeira, casada com António Rodrigues, indo pelo quintal da sua casa, ao retirar um cântaro de água, perdeu o equilíbrio e, caindo à água, foi encontrada moribunda, vindo a falecer pouco depois. Deixou alguns filhos menores e o marido na desolação. Paz à sua alma. Z 

*** 

Foi a primeira vez que o Pe. Leopoldino pregou na vizinhança e quis propagandear o serviço de pregador certamente junto dos párocos de freguesias próximas. Daí o excepcional, inesperado estratagema narrativo usado a princípio. Depois, volta tudo ao normal, excepto o Z com que assina a correspondência.

Repare-se na actividade agrícola tão diferente da actual.

Imagem – Quando o Pe. Leopoldino ia pregar a maior distância, João Salazar Coelho, sócio da fábrica de conservas A Poveira, Lda., que tinha casa no Telo, emprestava-lhe o carro de cavalo para a deslocação. A charrete chegou a ser um meio de transporte muito comum entre os lavradores de Balasar. A da imagem pertenceu ao Sr. António Machado. 

 

NOTICIÁRIO 6 

Balasar, 30 (talvez de Agosto e publicado em 15 de Setembro de 1934, n’A Propaganda) 

No dia 25 de Julho, em tempos passados, verificou-se (sic) na vizinha freguesia de Macieira de Rates, estrondosas festividades (sic) em honra de Santiago Maior, apóstolo e mártir da Igreja Católica. Eram chamadas as bandas mais afamadas, escolhidos os fogueteiros de maior renome e contratados os melhores iluminadores. Era uma festa grande em tudo, que chamava à freguesia milhares de forasteiros. A Póvoa também dava o seu contingente, principalmente quando era convidada a afamada banda, de regência do saudoso maestro Sr. Luís Gomes Loureiro. Hoje tudo acabou porque o grande dispêndio da festa arruinou as casas de muitos lavradores.

Este ano, realizou-se, no mesmo dia, uma festa não ruidosa como as dos tempos idos, mas mais simpática – a missa nova do Rev.do Luís Maria de Oliveira (Cascalheira), querido filho da freguesia. Lindos e artísticos arcos de triunfo foram colocados na estrada atapetada de verdes, ouvia-se ao longe o estrondo dos foguetes e o contentamento lia-se em todos os habitantes de Macieira, que encheram a sua igreja para assistir à missa nova do seu conterrâneo. A festa esteve brilhante, boa orquestra, linda armação do Sr. Lino Palhares, desta freguesia, e grande número de eclesiásticos, alguns condiscípulos do novo levita. O sermão, confiado ao Sr. Pe. Manuel Domingues Bastos, ilustre professor do Seminário de Braga, foi importante e a cerimónia do beija-mão muito concorrida. No fim da festa, o novo sacerdote ofereceu um lauto banquete aos seus amigos. Parabéns ao amigo Pe. Luís Oliveira.

Há dias, foi dado sinal de incêndio para uma bouça que o nosso amigo Sr. Joaquim da Costa Machado possui em Gondifelos. O incêndio foi causado por uns canhoteiros que, entregando-se ao seu mister, lembraram-se de assar umas maçãs, descuidando-se de olhar pelo lume que, pegando no mato, deu grande prejuízo.

Regressou de Braga, onde esteve a fazer os seus exercícios espirituais, o nosso digno abade Rev.do Leopoldino Mateus.

Na Igreja Paroquial, uniram-se pelos laços do matrimónio, o Sr. Manuel Lopes dos Santos Murado, prezado filho do Sr. Manuel Murado, de Escariz, e sobrinho do lavrador Sr. Luís Murado Torres, com a Sra. D. Alexandrina Martins de Oliveira, prendada filha do Sr. Bernardo Martins de Oliveira (Gaspar), de Gondifelos. Presidiu ao religioso acto, lançando as bênçãos nupciais, o nosso zeloso abade, servindo de testemunhas o Sr. Lino Martins da Silva Araújo e Baltasar Lopes de Sousa Campos, cunhado e primo dos nubentes, a quem desejamos muita felicidade.

Depois de passar uma temporada, retiraram para a Póvoa as filhas do Sr. João Pinheiro Cadilhe, cartorário da Casa dos Pescadores, encontrando-se entre nós a família do Sr. Dr. Armindo Graça. 

*** 

Aparentemente, o Pe. Leopoldino foi à missa nova do Pe. Luís Maria de Oliveira, a Macieira. Segundo a monografia de Macieira, o seu nome seria Luís Mariz de Oliveira. Este sacerdote tinha nascido em 1906 e faleceu em 1993.

Havia gente da Póvoa que ano atrás de ano passava uns tempos do período estival em Balasar.

 

NOTICIÁRIO 7 

(CRIANÇAS DA CATEQUESE VÃO À ERMIDA DA SENHORA DAS NEVES) 

Balasar, 4 (de Outubro e publicado em 25 desse mês de 1934, n’A Propaganda) 

No domingo foram de longada até à pequena ermida de Nossa Senhora das Neves, sita no lugar de Corvos, da vizinha freguesia de Bagunte, as crianças da catequese desta freguesia, acompanhadas do nosso zeloso abade Leopoldino Rodrigues Mateus e das catequistas. No pitoresco local esperavam-nas as crianças das freguesias de Arcos, Bagunte, S. Martinho, S. Simão e S. Cristóvão, com os seus párocos.

Corre entre o povo a tradição de que a imagem da Senhora das Neves apareceu naquele lugar, sendo conduzida à Igreja Paroquial de Bagunte; mas desapareceu do altar para de novo ser encontrada no mesmo local.

Repetindo-se o acto três vezes e reconhecendo o povo crente ser vontade da Senhora ficar ali, erigiram-lhe uma ermida, dando à imagem a invocação de Nossa Senhora das Neves.

É grande a devoção do povo a esta Senhora, para quem se têm por vezes dirigido procissões de penitência a pedir chuva ou outras graças. A sua festa realiza-se anualmente no dia 5 de Agosto, sendo este ano pregador o nosso digno abade. As crianças e o povo, depois de fazerem a romaria, dando três voltas à capela rezando, postaram-se no caminho em frente, onde rezaram o terço e ouviram o sermão pregado pelo nosso Rev. Abade.

Em seguida, algumas criancinhas das diversas freguesias recitaram poesias e discursos com grande calor e entusiasmo, sendo fartamente aplaudidas pelos circunstantes, que ficaram admirados da habilidade dos oradores.

Finda a acadência (?), os Rev.dos Abades ofereceram às criancinhas, cada um da sua paróquia, uma merenda que decorreu no meio da maior cordialidade e animação. Todo o povo ficou satisfeito com o passeio e não cessava de louvar o zelo dos Rev.dos Párocos, que tanto se esmeram na educação cristã dos seus rebanhos.

No próximo domingo, o nosso digno abade vai fazer a distribuição de prémios às crianças que mais assíduas foram na catequese, frequência de Sacramento, actos de piedade e sacrifício e bom comportamento.

Finda a construção ou reparação da estrada principal desta freguesia, os trabalhadores reuniram-se em fraternal convívio, fazendo estralejar foguetes em sinal de regozijo. 

*** 

É só daqui que conhecemos esta lenda da origem da devoção a Nossa Senhora das Neves em Bagunte. Ao que me dizem, a imagem que se venera na sua capela tem dois aspectos originais: é gótica (o que a faz duma antiguidade rara) e é uma Nossa Senhora da Expectação (que corresponde à padroeira de Bagunte).

O mais antigo ex-voto à Senhora das Neves foi oferecido em 1701 por uma balasarense. 

 

NOTICIÁRIO 8 

Balasar, 30 (de Outubro, publicado em 18 de Novembro de 1934, n’A Propaganda) 

O nosso amigo Sr. Lino António Ferreira, acreditado negociante desta freguesia, sofreu o duplo golpe da perda do seu irmão Manuel e do seu tio António. O irmão Manel foi vítima dum desastre, dando com a cabeça numa roda de carro conduzindo balsas com uvas, e tal pancada sofreu que durou apenas alguns minutos. O tio António, essa veneranda relíquia de 87 anos, o homem mais velho da freguesia, a quem todos respeitavam, sofreu tal abalo com a morte súbita do sobrinho que poucos dias durou, tendo recebido, a seu pedido, os Sacramentos da Igreja.

Lino Ferreira soube nesta ocasião quanto era estimado pelos seus conterrâneos que em grande número correram a cumprimentá-lo e a acompanhar os funerais. Tem direito a consideração e estima porque Lino Ferreira tem um coração bondoso e caritativo. Há tempo a sua jornaleira Olívia Maria de Sousa foi acometida dum ataque apopléctico; sendo muito pobre e sem recursos para tratamento, Lino Ferreira manda vir o médico, paga-lhe os medicamentos e agora remeteu-a para a Póvoa a fim de tomar banhos quentes. Actos destes louvam-se e registam-se: não admira que quem os pratica adquira a simpatia do público.

Voltou a fazer serviço na escola desta freguesia o nosso amigo Sr. Matias Gonçalves de Castro – Quilores. Já era tempo de ser aposentado ou pelo menos colocado numa das escolas da vila este antigo cavouqueiro da instrução. Velho e doente, com 46 anos de bom serviço, o velho mestre-escola já não está muito em condições de andar por longe, devendo-se respeitar a sua idade, os achaques e os serviços ou reformando-o ou dando-lhe serviço mais acomodado às circunstâncias da sua vida.

A Junta de Freguesia, a pedido da Mesa da Irmandade da Póvoa, tirou um peditório para auxiliar as despesas do Hospital, que luta com grandes dificuldades para tratar dos doentes, tendo presentemente quatro desta freguesia. O peditório apenas rendeu 250 escudos porque as circunstâncias financeiras dos nossos lavradores são muito precárias, não tendo dinheiro para comprar adubos e estrumes para as sementeiras por não terem recebido a importância dos trigos depositados nos celeiros.

Foi muito concorrida a feira anual das Fontainhas realizada no último domingo de Outubro. A Tuna Poveira, da regência do Sr. Ângelo Vieira Maio, foi muito apreciada. Fizeram-se muitas transacções e a feira do gado apresentava bons exemplares, que receberam os seguintes prémios: bois gordos e bois de trabalho: todos os prémios foram ganhos pelo Sr. João Gonçalves Faria; de dois a quatro dentes: 1.º, o Sr. José Alves da Silva Ferreira, 2.º, o Sr. António Alves Santos; vaca leiteira: 1.º, o Sr. Manuel Alves Ferreira Júnior, 2º, o Sr. António Alves Ferreira; vaca barrosã: 1º, o Sr. Miguel Meira, 2.º, o Sr. David Rodrigues Martins. Na corrida dos cavalos, ganhou o 1.º prémio o Sr. Gaspar Domingues Luís e o 2.º o Sr. José dos Santos Murado. 

*** 

O Pe. Leopoldino falhou bastante no que disse sobre o Lino Ferreira. Sabe-se o tipo de pessoa que ele foi. Sabe-se pelo que ele escreveu como correspondente para imprensa (felizmente foram poucas essas correspondências) e como patrão-carrasco da Beata Alexandrina, sabe-se o que ele fez quando lhe invadiu a casa e sabem-se as inqualificáveis atitudes que teve como presidente da junta. O Pe. Leopoldino ainda estaria mal informado.

Os lavradores de Balasar andavam mal das suas finanças. Era a crise, que os custos com a feira agravam.

 

NOTICIÁRIO 9 

Balasar, 27 (publicado em Novembro de 1934, n’A Propaganda) 

Foi muito concorrida a última feira bianual realizada no lugar das Fontainhas, desta freguesia. Ali acorreram em grande número pessoas dessa vila e dos concelhos de Barcelos, Famalicão e Vila do Conde. O mercado das mulheres era soberbo e as feiras do gado bovino e gado suíno apresentavam bons exemplares, fazendo-se algumas transacções. No local tocou a Tuna de Fradelos, que foi ouvida com geral agrado. Apesar da grande concorrência de povo e dos estabelecimentos comerciais fazerem bom negócio, não houve alteração da ordem. É uma feira que deve ser mantida, ainda mesmo com o auxílio da Câmara, que dela tira bons proventos.

Tem passado muito doente o Sr. Manuel Ferreira da Silva e Sá, antigo chefe da estação das Fontainhas e respeitável sogro do Sr. José António de Sousa Ferreira, activo gerente da Fábrica de Serração e Moagem das Fontainhas. O Sr. Silva e Sá é um homem de grande prestígio neste lugar e tanto se interessou pelo seu progresso que não quis seguir a Escola da Companhia preferindo a sua permanência aqui. Foi iniciador da feira das Fontainhas, esforçando-se por a manter. Desejamos as suas melhoras.

Vai em via de conclusão a reparação da estrada que liga a feira das Fontainhas ao lugar de Modeste, da vizinha freguesia de Macieira de Rates. É um melhoramento útil para o povo daquela laboriosa freguesia.

Mas entre nós há também uma obra de urgente necessidade, a reparação do caminho que liga os lugares do Monte Tapado, Casal e Bouça Velha e que é intransitável no inverno apesar da sua frequência. A nossa Junta de Freguesia deve reclamar junto da Câmara para obter, pelo Fundo do Desemprego, a verba necessária para isso. 

*** 

A feira das Fontainhas a que este noticiário alude parece ser a mesma já referida no noticiário anterior.

O Pe. Leopoldino insistia na necessidade da estrada da Cruz para Monte Tapado, mas foi preciso esperar quinze anos pois a sua abertura só começou em 1949.

 

NOTICIÁRIO 10 

Balasar, 20 (publicado em Dezembro de 1934, n’A Propaganda) 

Está à venda a casa do Sr. José da Costa Faria, sita no lugar da Cruz, junto da Igreja Paroquial. É um edifício com capacidade bastante e de fácil acomodação para as escolas do sexo masculino e feminino e moradia dos professores. É certo que a Junta de Freguesia, apoiada pela Câmara, já enviou à competente repartição o projecto do novo edifício escolar para os dois sexos, orçamentando em 13 contos. Mas o novo edifício fica apenas com dois salões, sem habitação para os professores. Ora os mestres de ensino, não tendo casa de moradia e com o pequeno subsídio do Estado, deixam de concorrer para as escolas desta freguesia e vão para as escolas que ofereçam mais vantagens. Isto pode dar em resultado as crianças ficarem privadas do ensino por falta de professor. E aqui está como uma medida de economia se torna prejudicial ao povo, que carece de instrução. Para obviar a esse mal, é que lembramos a aquisição do prédio do Sr. Faria.

À Festa da Aviação, no campo da Senhora da Hora, foram algumas pessoas desta freguesia e, entre elas, o Sr. Manuel Domingues dos Santos, abastado lavrador do lugar de Gresufes. No auge do entusiasmo, quando ao longe se ouvia uma voz – ó patego, olha o balão – um gatuno empalmava ao Sr. Santos a corrente e relógio de oiro no valor de 1.500$00. O roubado bem reclamou à polícia, mas em vão porque não soube quem foi.

Está-se mobilizando o trigo para ser enviado à Federação que, após o recebimento, efectuará o pagamento aos produtores. Já não é sem tempo porque os lavradores lutam com falta de recursos para as sementeiras. Aplaudimos a lei da mobilização do trigo, a fim de evitar a saída para o estrangeiro, mas deve fazer-se o pagamento mais cedo para o lavrador remediar sua vida e adquirir os adubos para a nova sementeira. Oxalá que nos anos futuros se remedeie esse mal porque assim convirá à economia do produtor. 

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Chegou a haver aulas na casa do Sr. José da Costa Faria, talvez desde 1930. A questão da escola para meninas estava a ser tratada desde esse ano.

Os lavradores continuavam com “falta de recursos”…

 

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