Inquérito de 1845
à Freguesia de Balasar
Interior da capela da Santa Cruz
|
Este inquérito foi realizado pelo prior de Vila do Conde, então arcipreste, Padre Domingos da Soledade Silos. Este sacerdote, egresso franciscano, foi « pregador régio » (pregou para a corte na igreja portuense da Lapa, onde se guardava o coração de D. Pedro IV), foi a ele que o pai de Eça de Queirós recorreu para o baptismo do filho e publicou um estudo sobre S. Torcato. Adepto dos novos ventos liberais no difícil período que se abateu sobre a Igreja nos anos 20 e 30 do século XIX, « cismático ferrenho » (isto é, obedecendo ao bispo não sancionado por Roma), não hesitava em chamar cismáticos aos colegas que se mantinham fiéis às autoridades legítimas. Pode-se por isso dizer que é um elogio que ele apode de cismáticos o pároco e um outro sacerdote residente em Balasar. Art. 1º - Seu orago: S.ta Eulália; tem cento e oitenta e sete fogos e quinhentas e cinco almas; dista de Braga quatro léguas, da cabeça do arciprestado, duas léguas e do Concelho da Póvoa de Varzim, a que pertence, outras duas léguas. É central e por isso não deve ser suprimida ou reunida, menos os dois lugares de Guardos e Guardinhos, que devem ir para Arcos. Tem o pároco de côngrua duzentos e vinte mil réis; tem casa e residência e no círculo das palestras pertence a S. Simão da Junqueira. Art, 2º – A igreja não ameaça ruína, excepto o trono, que está em bastante decadência. Tem sacrário, onde existe o Santíssimo Sacramento; tem bastante falta de paramentos, todavia tem os necessários para se celebrarem os ofícios divinos em tal ou qual uso. Há três capelas nesta freguesia: uma no lugar do Calvário; seu orago é a Santa Cruz; tem confraria por conta de quem é a fábrica. A segunda é na casa e Quinta da Ex.ma S.ra D. Francisca, da Póvoa, a quem compete a sua fábrica. E a terceira é na Quinta do Il.mo Sr. Miguel Bernardino, sita no lugar do Casal; e por conta dele é a sua fábrica. Estas duas últimas capelas, como são particulares, raras vezes aí se celebra missa — só quando estão nas quintas seus donos — e por isso nada posso informar dos seus paramentos. Art. 3º - O pároco chama-se Manuel José Gonçalves da Silva, de idade de trinta e sete anos; tem o título de reitor; foi provido por concurso em mil oitocentos e trinta e três e expulso em mil oitocentos e trinta e quatro, dando-se-lhe por motivo ter sido mercê no tempo da usurpação e depois foi reintegrado em mil oitocentos e quarenta e um. Nunca exerceu outros empregos eclesiásticos, só, sim, em Braga, ante de provido, mestre de Moral. Frequentou Filosofia, Retórica e Teologia Dogmática e Moral. Quanto à sua conduta religiosa e política, agora é boa, mas antes foi cismático-miguelina; a moral é menos má. Tem aptidão para continuar a ser pároco e desempenha bem as suas obrigações; tem os livros todos com legalidade. Art. 4º - Nesta freguesia há um único sacerdote: seu nome é Bernardo Dias Ribeiro, de trinta e quatro anos de idade, natural de S.ta Marinha de Valdosende, no Concelho de S.ta Marta de Bouro; reside aqui há quatro anos; concluiu sua ordenação em mil oitocentos e quarenta; tem licença para celebrar e confessar até Dezembro de mil oitocentos e quarenta e seis e exame até Dezembro de mil oitocentos e quarenta e oito; não tem servido emprego algum eclesiástico; frequentou Filosofia e Teologia Dogmática e Moral; a sua conduta tem sido irrepreensível, suposto que fez coro com os cismáticos; é bastante hábil para ser pároco, se lhe derem algum benefício; e no entanto pode continuar no uso das suas ordens. |