Alexandrina Maria da Costa

SENTIMENTOS DA ALMA

MAIO 1944

13 de Maio

Nova transformação na minha alma. Morreu por completo aquele pequenino sopro de vida. Já não sinto aquela respiração que de longe a longe sentira. Vive em mim a dor e essa de toda a qualidade e espécie. Morri, morri para o mundo e para as criaturas. Tudo baixou ao túmulo para ficar para sempre sepultado. Meu Deus, que horror! Já não vivo, só vive a minha dor amada, só vive o meu inexplicável martírio. Poderá ele, sem a minha vida, dar a vida às almas? Poderei ser ainda útil à humanidade? Ó Jesus, ó Jesus, posso assim amar-Vos e consolar o Vosso santíssimo Coração? Pobre de mim! Depois do ódio e do abandono, depois do esquecimento, do desprezo, baixei à minha sepultura, já vivo na eternidade e sem que me désseis o meu Paizinho e sem ter de novo aqui a Santa Missa. Nunca mais, meu Jesus; nunca mais posso ter alegria, a não ser com os olhos em Vós. Podem de novo darem-me tudo o que me roubaram, sinto que para mim tudo é morte e que já é tarde para me ser restituído aquilo que eu mais amava e estimava depois de Vós, ó meu Jesus. Ai a Santa Missa! O meu director espiritual! E tudo mais, meu Jesus, tudo mais! Que horror! Como resistir a tanto? Não fui eu, meu Amado, fostes Vós em mim, foi o Vosso Amor. Obrigada, meu Jesus! Continuai a dispensar-me, dai-me força.

A minha eternidade não tem luz : é uma eternidade que não Vos ama, que não Vos louva, que não Vos vê, que não Vos goza. Tremenda eternidade. Não ver a Jesus é uma eternidade de morte. Só a dor triunfa sobre a morte. É o que vivo na eternidade que sinto. Seja qual for o estado da minha alma, Jesus, apressai-Vos, cumpri as Vossas santas promessas. Eu espero, eu espero, confiada por Vosso amor. Dai, Jesus, dai a vida às almas com a minha morte, com a minha eternidade. Dai-lhes a Vossa eternidade ; dai-lhes o Céu, o Céu, ó Jesus.

29 de Maio

Estava em grande aflição e depois de receber a Jesus, desabafava com Ele mas sem contar obter resposta. Mas Ele, bom como sempre, dignou-se aliviar-me :

— Diz, minha filha, à tua irmãzinha, que estou a ver até que ponto chega a confiança dela em Mim. Ela desempenha junto do teu Calvário o papel que, junto do meu, desempenhou minha Bendita Mãe. Diz-lhe que muito espero dela. Se assim não fosse, não a associava tanto ao teu martírio.

E, referindo-se a quem tanto nos fazia sofrer, disse :

— Vá, tende coragem. Satanás está raivoso, estende sobre Vós as suas garras infernais. Confia, ele não vence. Ela é uma insensata : usou para Vós com a maior das ingratidões, mas perdoai-lhe de todo o Vosso coração, assim como Eu lhe perdoo. Se soubesse quanto sofro ! Recebe-me friamente, por hábito, por rotina. Que mágoa para o Meu divino Coração !