― Estou
a recrear no meu palácio; palácio entesourado com os tesouros
divinos. É riquíssimo o teu coração, que belo adorno para mim, minha
filha. Gozo em ti, alegro-me em ti, tu és o jardim perfumado, tu és
o jardim adornado com todas as flores. E eu gozo por ser Senhor de
tudo isto; eu gozo por possuir o aroma de flores tão belas. O mundo
não te conhece, minha amada? Conheço-te eu, conhece-te Jesus. És
bela, és bela, és rica, rica serás na terra e no Céu. Quem chamar
pelo teu nome quando estiveres no Céu, nunca o chamarão em vão. Vais
ser poderosa com o Todo-Poderoso. As palavras do teu Esposo Jesus
vão cumprir-se, vão cumprir-se à letra, à letra, minha amada. Os
teus espinhos transformaram-se em rosas, o teu martírio num paraíso.
Tudo, tudo, salvação para os pecadores, consolação para mim. Brilhou
o sol, apareceu a luz. Brilha agora a luz dos humildes, triunfam e
são exaltados. Minha filhinha, minha filhinha, encanto meu. Diz ao
teu Paizinho que o fogo do meu divino Coração se estende sobre ele.
A minha morada divina é a morada dele, é a fornalha onde ele há-de
habitar sempre, sempre na terra e no Céu. Vou pela humanidade dele
dar-lhe o poder de atrair a mim todas as almas, ansiosas por me
possuírem e as que andam arredadas do meu divino Coração. Sou eu,
Jesus, que falo sempre em seus lábios. Quando ele estender a bênção
sobre os filhos meus, sou eu que os abençoo. Dou-lhe todo o poder na
terra para ele abrasar os corações e as almas e converter os
pecadores. Que espere tudo de mim, assim como Eu dele tudo recebo.
Diz, minha filha, diz ao teu médico, que à sombra do manto da minha
bendita Mãe e ao calor dos raios do meu divino Coração está o lar
dele por Nós abençoado. Será o jardim cultivado por Nós; Eu e Maria
seremos os jardineiros. Se ele me for fiel, será o lar mais rico de
todo o Portugal. Rico de graças, rico de amor, rico para o Céu.
Dou-te tudo o que é meu, meu amor, para tu tudo dares em meu nome
aos que te amam, aos que te rodeiam, aos que te amparam e protegem.
Dou-te tudo o que é meu para tu tudo dares a toda a humanidade, de
quem te nomeio protectora.
— Ó meu
Jesus, estou envergonhada. Oh! Como eu me sinto tão pequenina. Eu só
merecia o inferno, não sou digna das vossas graças. Distribuí vós as
vossas graças. Tomai as minhas mãos, manejai com elas; aceitai todo
o meu corpo, seja ele o vosso instrumento; trabalhai, Jesus, não
cesseis. As almas perdem-se, o mundo está em perigo.
― Recebe, filhinha, as carícias do teu Jesus, da tua Mãezinha;
recebe o nosso poder. És toda nossa, és toda nossa, és filhinha, és
esposa do meu Jesus. Recebe dos nossos ósculos conforto para tudo.
Obrigada, obrigada, Mãezinha! Obrigada, obrigada, Jesus!
No dia
de Cristo-Rei, senti-me como se morresse o meu corpo e o meu
espírito, e acabasse por completo a minha existência no mundo. É
indiscritível a dor que isto causou. Mas mais ainda: sentia-me no
Purgatório! Que dor, meu Deus, que dor! Há dias que sentia passar
por mim umas labaredas julgando eu que era efeito da sede ardente
que continuamente sentia, mas enganei-me. Essas labaredas
continuaram; não eram as labaredas do fogo da terra. Tinham um
brilho encantador. Passavam por mim horas seguidas, atormentando o
meu corpo e todos os seus sentidos. Atingiam a maior altura e todo o
meu ser ficava embebido nelas. Causavam-me dores indizíveis. Mas,
apesar disso, eu sentia necessidade de me mergulhar nelas, para
assim me purificar. Como a borboleta louca pela chama, eu estava
também louca e queria de braços abertos entrar naquele fogo que
atormentava mas não destruía, vivendo só numa ânsia; libertada daqui
vou para o meu Jesus. Eu não sabia o significado de todo este
sofrimento. Soube sentir e mais nada. Jesus veio explicar-mo. |