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Capítulo 3°

Na escola da dor

Nos primeiros anos da doença ainda desejou curar : « Cheguei a fazer algumas promessas para ser curada — dizem as suas notas autobiográficas — como : cortar rente o cabelo, que era para mim um grande sacrifício, dar todo o meu ouro e vestir-me de luto, toda a minha vida, ir de joelhos desde a nossa casa. até à Igreja. Minha mãe, irmã e primas fizeram também grandes promessas...

Como me falassem dos milagres de Fátima e sabendo eu, em 1928, que várias pessoas iam à Cova da Iria, nasceram em mim desejos de ir também. O médico assistente e o meu pároco não me deixaram, dizendo que era impossível ir para tão longe, se eu mal consentia que me tocassem na cama... Nesse ano, o Sr. Abade foi a Fátima e perguntou-me o que eu queria de lá. Pedi-lhe que me trouxesse uma medalha ; mas ele ofereceu-me um terço, uma medalha, o Manual do Peregrino e alguma água de Fátima. Sua Rev.cia aconselhou-me a fazer uma novena a Nossa Senhora e a beber agua de Fátima, com o fim de ser curada. Não fiz uma, mas muitas. Cantava muito e dizia às pessoas vizinhas que me visitavam se um dia me vissem pelo caminho e me ouvissem cantar, era que eu ia agradecer a Nossa Senhora o beneficio que recebera.

Pensava que seria curada, mas enganei-me : era a minha grande confiança na Mãezinha e em Jesus que assim me fazia falar. Pensava : se for curada, vau logo para religiosa, pois tinha medo de viver no mundo. Nem sequer visitaria a minha família. Queria ser missionária, para baptizar pretinhos e salvar almas a Jesus.

Como não consegui nada, morreram os meus desejos de ser curada e para sempre, sentindo cada vez mais ânsias de amor ao sofrimento e de só pensar em Jesus ».

E é agora que ela começa pouco a pouco a conhecer o seu caminho, a sua vocação.

« Sem saber como — escreve — ofereci-me a Nosso Senhor como vitima, e vinha desde ha muito pedindo o amor ao sofrimento. Nosso Senhor concedeu-me tanto, tanto esta graça, que hoje (escreve em Outubro de 1940) não trocaria a dor por tudo quanto há no mundo. Com este amor à dor toda me consolava em oferecer a Jesus todos os meus sofrimentos. A consolação de Jesus e a salvação das almas era o que mais me preocupava.

Com a perda das forças físicas fui deixando todas as distracções do mundo e com o amor à oração — porque só a orar me sentia bem — habituei-me a viver em união íntima com N0sso Senhor. Quando recebia visitas que me distraiam um pouco, ficava toda desgostosa e triste, por não me ter lembrado de Jesus durante esse tempo ».

Foi nestas disposições de alma que encontrei a Alexandrina, quando pela primeira vez a conheci pessoalmente, durante um tríduo que preguei em Balasar (S. Eulália) de 16 a 20 de Agosto de 1933.

Estava então nos seus 28 anos, pouco mais e há nove anos que entrevara.

Várias vezes falei com ela durante esse tríduo e logo me ficou a impressão de estar diante de uma alma de grande virtude, muito simples, muito verdadeira, profundamente piedosa, de uma resignação perfeita à vontade de Deus nos seus sofrimentos, e muito desejosa de santidade e de salvar os pecadores, respirando, em todo o seu modo, pureza e inocência.

Até ali, tinha-a dirigido o Espirito Santo tão somente : não sabia o que era director espiritual. A seus rogos, encarreguei-me então, pouco a pouco, da sua direcção espiritual. O andar dos anos mostrou-me à saciedade que me não enganara nas primeiras impressões, muito pelo contrario. O que não suspeitei nem de longe, foi o quanto de extraordinário viria Deus a operar naquela alma.

Mas antes de qualquer referência a este ponto, o que primeiro importa conhecer previamente é a sua alma. Se não encontrássemos de facto virtude verdadeiramente sólida, ficaríamos in limine dispensados de qualquer investigação ulterior. Se pelo contrário, a encontrássemos, seria a melhor luz para desvendarmos tudo o mais.

Entremos pois neste estudo, embora sumariamente, principiando pelo seu espirito de oração.

    

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