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Bem-aventurados aqueles…
Primeira leitura (Ap 7,2-4.9-14)
As primeiras perseguições tinham feito cruéis destruições nas
comunidades cristãs, ainda tão jovens. Iriam estas comunidades
desaparecer, acabadas de fundar? As visões do profeta cristão trazem uma
mensagem de esperança nesta provação. É uma linguagem codificada, que
evoca Roma, perseguidora dos cristãos, sem a nomear directamente,
aplicando-lhe o qualificativo de Babilónia. A revelação proclamada é a
da vitória do Cordeiro. Que paradoxo! O próprio Cordeiro foi imolado.
Mas é o Cordeiro da Páscoa definitiva, o Ressuscitado. Ele transformou o
caminho de morte em caminho de vida para todos aqueles que O seguem, em
particular pelo martírio, e eles são numerosos; participam doravante ao
seu triunfo, numa festa eterna.
Segunda leitura (1Jo 3,1-3)
Segunda mensagem de esperança. Ela responde às nossas interrogações
sobre o destino dos defuntos. Que vieram a ser? Como sabê-lo, pois
desapareceram dos nossos olhos? E nós próprios, que viremos a ser?
A resposta é uma dedução absolutamente lógica: se Deus, no seu imenso
amor, faz de nós seus filhos, não nos pode abandonar. Ora, em Jesus,
vemos já a que futuro nos conduz a pertença à família divina: seremos
semelhantes a Ele.
Evangelho (Mt 5,1-12)
As “bem-aventuranças” evangélicas devem ser entendidas no contexto da
pregação sobre o “Reino”. Jesus proclama “bem-aventurados” aqueles que
estão numa situação de debilidade, de pobreza, porque Deus está a ponto
de instaurar o “Reino” e a situação destes “pobres” vai mudar
radicalmente; além disso, são “bem-aventurados” porque, na sua
fragilidade, debilidade e dependência, estão de espírito aberto e
coração disponível para acolher a proposta de salvação e libertação que
Deus lhes oferece em Jesus (a proposta do “Reino”).
As quatro primeiras “bem-aventuranças” referidas por Mateus (vers. 3-6)
estão relacionadas entre si. Dirigem-se aos “pobres” (as segunda,
terceira e quarta “bem-aventuranças” são apenas desenvolvimentos da
primeira, que proclama: “bem-aventurados os pobres em espírito”). Saúdam
a felicidade daqueles que se entregam confiadamente nas mãos de Deus e
procuram fazer sempre a sua vontade; daqueles que, de forma consciente,
deixam de colocar a sua confiança e a sua esperança nos bens, no poder,
no êxito, nos homens, para esperar e confiar em Deus; daqueles que
aceitam renunciar ao egoísmo, que aceitam despojar-se de si próprios e
estar disponíveis para Deus e para os outros.
Os “pobres em espírito” são aqueles que aceitam renunciar, livremente,
aos bens, ao próprio orgulho e auto-suficiência, para se colocarem,
incondicionalmente, nas mãos de Deus, para servirem os irmãos e
partilharem tudo com eles.
Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as
injustiças, os que se conformam com as violências orquestradas pelos
poderosos; mas são aqueles que recusam a violência, que são tolerantes e
pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas dos abusos e prepotências
dos injustos… A sua atitude pacífica e tolerante torná-los-á membros de
pleno direito do “Reino”.
Os “que choram” são aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento
provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do
“Reino” vai fazer com que a sua triste situação se mude em consolação e
alegria…
A quarta bem-aventurança proclama felizes “os que têm fome e sede de
justiça”. Provavelmente, a justiça deve entender-se, aqui, em sentido
bíblico – isto é, no sentido da fidelidade total aos compromissos
assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus dá-lhes a esperança
de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai chegar.
O segundo grupo de “bem-aventuranças” (vers. 7-11) está mais orientado
para definir o comportamento cristão. Enquanto que no primeiro grupo se
constatam situações, neste segundo grupo propõem-se atitudes que os
discípulos devem assumir.
Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de
compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos
sofrimentos e alegrias dos outros homens e mulheres, que são capazes de
ir ao encontro dos irmãos e estender-lhes a mão, mesmo quando eles
falharam.
Os “puros de coração” são aqueles que têm um coração honesto e leal, que
não pactua com a duplicidade e o engano.
Os “que constroem a paz” são aqueles que se recusam a aceitar que a
violência e a lei do mais forte rejam as relações humanas; e são aqueles
que procuram ser – às vezes com o risco da própria vida – instrumentos
de reconciliação entre os homens.
Os “que são perseguidos por causa da justiça” são aqueles que lutam pela
instauração do “Reino” e são desautorizados, humilhados, agredidos,
marginalizados por parte daqueles que praticam a injustiça, que fomentam
a opressão, que constroem a morte… Jesus garante-lhes: o mal não vos
poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a vida
plena.
Na última “bem-aventurança” (vers. 11), o evangelista dirige-se, em
jeito de exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência
de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao
sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma
aplicação concreta da oitava “bem-aventurança”.
No seu conjunto, as “bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança
e de alento para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está
do lado deles; confirmam que a libertação está a chegar e que a sua
situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse
“Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.
Fonte :
http://www.dehonianos.org/ |