SITE DOS AMIGOS DA BEATA ALEXANDRINA MARIA DA COSTA

     

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM
— B —

Livro de Ezequiel 2,2-5.

O Espírito penetrou em mim, enquanto me falava, e mandou-me pôr de pé; e ouvia alguém que me chamava. Disse-me: "Filho de homem, vou enviar-te aos filhos de Israel, aos rebeldes, que se insurgiram contra mim. Eles e seus antepassados têm-se revoltado contra mim, até ao presente dia. Eles têm a cabeça dura e o coração obstinado; envio-te a eles, e deves dizer-lhes: 'Assim fala o Senhor DEUS.' E quer te escutem quer não, porque são uma raça de gente rebelde, saberão que há um profeta entre eles.

 

Livro de Salmos 123(122),1-4.

Levanto os meus olhos para ti, SENHOR,
para ti que habitas nos céus.

Como os olhos do servo
se fixam nas mãos do seu amo,
e como os da serva,
nas mãos da sua ama,
assim os nossos olhos estão postos no SENHOR,
nosso Deus, até que tenha piedade de nós.

Tem piedade de nós, SENHOR,
tem piedade de nós,
porque estamos saturados de desprezo.

Nossa alma está saturada da troça dos arrogantes
e do desprezo dos orgulhosos!

 

Leitura da Epístola de São Paulo, apóstolo aos Coríntios 12,7-10.

E porque essas revelações eram extraordinárias, para que não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás, para me ferir, a fim de que não me orgulhasse. A esse respeito, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Mas Ele respondeu-me: «Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza.» De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo S. Marcos 6,1-6.

E partiu dali. Foi para a sua terra, e os discípulos seguiam-no. Chegado o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam: «De onde é que isto lhe vem e que sabedoria é esta que lhe foi dada? Como se operam tão grandes milagres por suas mãos? Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?» E isto parecia-lhes escandaloso. Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa.» E não pôde fazer ali milagre algum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. Jesus percorria as aldeias vizinhas a ensinar.

 

PONTOS DE REFLEXÃO

I LEITURA  – Ez 2,2-5

O nosso texto apresenta alguns dos elementos típicos dos relatos de vocação e que fazem parte de qualquer história de vocação. Sugere-se, em primeiro lugar, que a vocação profética é um desígnio divino. Não se nomeia Jahwéh directamente; mas aquele que chama Ezequiel não pode ser outro senão Deus… O nosso texto é antecedido de uma solene manifestação de Deus. Depois, o profeta ouve uma “voz” que o chama e que revela a Ezequiel que deve dirigir-se a esse Povo rebelde que se insurgiu contra Deus. Há também uma referência ao “espírito” que se apossou do profeta e o fez “levantar”; de acordo com a reflexão judaica, era Deus que comunicava uma força divina – o seu “espírito” – àqueles que escolhia para enviar a salvar o seu Povo, como os juízes os reis e os profetas (no caso de Ezequiel, esse “espírito” aparece como uma manifestação especialmente violenta de Deus, que se apossa do profeta e o destina para o seu serviço). A vocação é sempre uma iniciativa de Deus e não uma escolha do homem. Foi Deus que chamou Ezequiel e que o designou para o seu serviço.

Em segundo lugar, aparece a ideia de que o chamamento é dirigido a um homem. Ezequiel é chamado “filho de homem” expressão hebraica que significa simplesmente “homem ligado à terra, fraco e mortal. Deus chama homens frágeis e limitados, não seres extraordinários, etéreos, dotados de capacidades incomuns… O que é decisivo não são as qualidades extraordinárias do profeta, mas o chamamento de Deus e a missão que Deus lhe confia. A indignidade e a limitação, típicas do “filho do homem”, não são impeditivas para a missão: a eleição divina dá ao profeta autoridade, apesar dos seus limites bem humanos.

Em terceiro lugar, temos a definição da missão. Ezequiel, o profeta, é enviado a um Povo rebelde, que continuamente se afasta dos caminhos de Jahwéh. A sua missão é apresentar a esse Povo as propostas de Deus. O mais importante não é que as palavras do profeta sejam ou não escutadas; o que é importante é que o profeta seja, no meio do Povo, a voz que indica os caminhos de Deus. 

II LEITURA  – 2Cor 12,7-10.

Como pano de fundo do nosso texto, está a polémica de Paulo com alguns cristãos que não o aceitavam. Ao longo de todo o seu percurso missionário, Paulo teve de lidar frequentemente com a incompreensão; e, muitas vezes, essa incompreensão veio até dos próprios irmãos na fé e dos membros dessas comunidades a quem Paulo tinha levado, com muito esforço, o anúncio libertador de Jesus. No entanto, a incompreensão nunca abalou a decisão e o entusiasmo de Paulo no anúncio da Boa Nova de Jesus… Ele sentia que Deus o tinha chamado a uma missão e que era preciso levar essa missão até ao fim, doesse a quem doesse… Frequentemente, temos de lidar com realidades semelhantes. Todos experimentámos já momentos de incompreensão e de oposição (que, muitas vezes, vêm do interior da nossa própria comunidade e que, por isso, magoam mais). É nessas alturas que o exemplo de Paulo deve brilhar diante dos nossos olhos e ajudar-nos a vencer o desânimo e a tentação de desistir. 

EVANGELHO – Mc 6,1-6

O texto do Evangelho repete uma ideia que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus manifesta-Se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Normalmente, Ele não se manifesta na força, no poder, nas qualidades que o mundo acha brilhantes e que os homens admiram e endeusam; mas, muitas vezes, Ele vem ao nosso encontro na fraqueza, na simplicidade, na debilidade, na pobreza, nas situações mais simples e banais, nas pessoas mais humildes e despretensiosas… É preciso que interiorizemos a lógica de Deus, para que não percamos a oportunidade de O encontrar, de perceber os seus desafios, de acolher a proposta de vida que Ele nos faz.

Um dos elementos questionantes no episódio que o Evangelho deste domingo nos propõe é a atitude de fechamento a Deus e aos seus desafios, assumida pelos habitantes de Nazaré. Comodamente instalados nas suas certezas e preconceitos, eles decidiram que sabiam tudo sobre Deus e que Deus não podia estar no humilde carpinteiro que eles conheciam bem… Esperavam um Deus forte e majestoso, que se havia de impor de forma estrondosa, e assombrar os inimigos com a sua força; e Jesus não se encaixava nesse perfil. Preferiram renunciar a Deus, do que à imagem que d’Ele tinham construído. Há aqui um convite a não nos fecharmos nos nossos preconceitos e esquemas mentais bem definidos e arrumados, e a purificarmos continuamente, em diálogo com os irmãos que partilham a mesma fé, na escuta da Palavra revelada e na oração, a nossa perspectiva acerca de Deus.

Padre José Granja

PARA QUALQUER SUGESTÃO OU INFORMAÇÃO