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Salvador de Horta
Franciscano professo, Santo
(1520-1567)

Nos princípios do século XVI viviam na aldeia de Bruñola, da diocese de Gerona, dois esposos jovens, proprietários de uma quinta chamada Masdevall, e regularmente ricos e bons cristãos. O porvir se apresentava a seus olhos aprazível e cheio de esperanças; mas por circunstâncias que ignoramos, os dois esposos viram-se completamente arruinados, e dali a pouco tiveram de ser admitidos por caridade, enfermos e sem recursos, no hospício de Santa Coloma de Farnés. Sem embargo, como diz o apóstolo São Paulo, aos que amam a Deus tudo lhes vem a parar em bem; as provas cristãmente sobrelevadas se convertem num manancial de riquezas eternas para o céu, e até podem, se assim o permite o Senhor, atrair bênçãos nesta terra. Havendo recobrado a saúde os dois enfermos, pediram às autoridades de Santa Coloma que lhes permitissem consagrar-se ao serviço do hospital. Concedeu-se-lhes este favor e dedicaram-se a ajudar aos pobres e aos enfermos com alegria e com exemplar caridade cristã. Por então, quer dizer, em 1520, lhes concedeu o Senhor um filho de bênção, a que puseram por nome Salvador, o qual, andando o tempo, obraria incontáveis milagres. Deram-lhe cristianíssima educação e o menino se mostrou desde sua infância modelo de obediência e de piedade. Chegado à idade da adolescência, Salvador foi enviado a Barcelona com sua irmã Blasa e foi colocado como aprendiz de sapateiro, mas ignoramos se chegou a aprender completamente o ofício. Sentindo no fundo de seu coração a voz de Deus que o inspirava o desejo de deixar o mundo, foi a suplicar aos franciscanos do convento de Santa Maria que o recebessem na comunidade na qualidade de irmão converso. Com grande alegria sua foi recebido e revestido do hábito de São Francisco. Puseram-no como ajudante do irmão cozinheiro, religioso de muita virtude, que se encarregou de formar o recém vindo nos exercícios da obediência. Sua tarefa era fácil. Com uma docilidade incansável, frei Salvador se entregava aos mais humildes ofícios, acendia o fogo, esfregava os pratos, limpava as panelas e fazia tudo o que lhe mandava o irmão cozinheiro. Amigos do silêncio, não saiam de seus lábios outras palavras que os doces nomes de Jesus e Maria, a quem invocava durante o trabalho. Os padres franciscanos, ao ver a virtude deste jovem irmão, noviço ainda, diziam que havia de ser sem dúvida mais tarde, por sua santidade, uma das glórias de sua Ordem. Um dia, sem embargo, caiu em falta, mas muito a pesar seu. Ocorreu isto com motivo de uma das festas patronais do convento. O chanceler do reino, excelente cristão e muito devoto dos franciscanos, lhes havia anunciado que iria a comer com eles, acompanhado de vários personagens notáveis, amigos seus. Todo o mundo sabe que os filhos de São Francisco vivem de esmolas; assim é que o inteligente chanceler havia cuidado de enviar de antemão abundantes provisões, de forma que o irmão cozinheiro tivesse com que preparar um bom festim. Desgraçadamente, durante a noite, este bom irmão foi acometido de uma forte febre e encarregou a frei Salvador que avisasse ao padre guardião; mas depois da comunhão ficou absorto numa longa acção de graças, a modo de êxtases que durou várias horas.  Chegava entretanto a hora da comida e o padre guardião foi à cozinha para ver se tudo estava preparado em resposta a suas ordens. Que surpresa! Nem sequer estava aberta a porta. Enviou imediatamente a procurar o irmão cozinheiro, a quem encontraram enfermo na cama; o pobre irmão se escusou dizendo que desde o ofício de meia-noite havia encarregado a frei Salvador que avisasse ao padre guardião e lhe entregasse as chaves.  O padre guardião, indignado, correu à igreja fez sair a Salvador, fez-lhe as mais humilhantes reprovações e declarou que semelhante afronta feita toda a comunidade e a seus nobres hóspedes merecia que o tirassem do convento. Arrebatando-lhe as chaves, foi ele próprio a abrir a cozinha. Apenas tinha entrado, se ofereceu a seus olhos um maravilhoso espectáculo. Tudo o que haviam mandado na véspera estava muito bem preparado, sem que houvesse nada que desejar. Era seguro, sem embargo, que ninguém havia podido entrar na cozinha. Deus havia querido revelar a santidade de seu jovem servidor e, guardando-lhe para si próprio toda aquela manhã, havia suprido sua ausência por meio dos anjos, ou de outro modo milagroso. Frei Salvador não foi, pois, despedido do convento e aproveitou admiravelmente o caso para praticar mais e mais a obediência e a humildade. Cumprido o ano de noviciado, foi admitido a pronunciar os votos solenes.

 

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