Esta grande figura
da Igreja ibérica, Rosendo de Celanova, nasceu em Santo Tirso, perto do Porto a
26 de novembro de 907, no seio de uma família então prestigiosa. Veja-se:
São Rosendo era
tetraneto de Ramiro I de Oviedo (+ 850); bisneto do Conde Gaton de Bierzo, o
repovoador
de Astorga (854), neto do Conde Hermenegildo Gutierrez, conquistador
de Coimbra (878) e primo irmão do Rei Ramiro II de Leão (+ 951).
Com uma tal
“linhagem”, não admira que tenha sido nomeado bispo de Medonhedo tendo apenas 18
anos. Todavia, esta juventude não o impediu de ser, na sequência dos tempos um
grande e famoso servidor da Igreja.
Lembremos que foi
ele o fundador da grande abadia de Celanova e que terminou a sua vida como bispo
na então já muito famosa catedral de Santiago de Compostela (968-977). Bom é
saber igualmente que a esta prestigiosa família galega pertenceram nada mais do
que 10 reis e 7 bispos, assim como uma boa parte das mais importantes figuras do
reino ― entre os anos 850 e 1000.
Este grande santo
ibérico, é considerado português, pelos portugueses, por causa do seu
nascimento ― mesmo se nesse tempo nem o Condado de Portugal existia ― e por ter
sido um dos bispos de Dume, na região de Braga, a mais antiga diocese de
Portugal.
Os espanhóis e,
particularmente os galegos, consideram-no espanhol por ter sido o fundador da
abadia de Celanova na Galiza e por fim, bispo da grande diocese de Santiago de
Compostela, cuja catedral era já muito visitada, como o provam antigos
documentos.
Segundo nos diz um
autor espanhol, S. Rosendo é o único bispo da época alto-medieval do qual se
possuí uma verdadeira biografia, obra de um monge do mosteiro de Celanova que
viveu na segunda metade do século XII, chamado Ordoño, o qual utilizou na sua
obra documentos e dados recolhidos durante décadas pelo famoso claustro
celanovense.
Sabe-se assim que
quando menino, Rosendo, “dando já mostras de um carácter singular” foi
posto sob a direcção espiritual de seu tio-avô o bispo Sabarico (906-924),
provavelmente quando este foi bispo de Medonhedo, diocese à qual estava ligada a
diocese de Dume.
Foi também aqui que
o jovem Rosendo recebeu a instrução literária, seguindo-se depois, como é óbvio,
a instrução eclesiástica, administrada por monges letrados e de alta probidade
espiritual.
A quando da morte
de seu tio-avô, ocorrida em 924, Rosendo, tendo já passado pelos diversos graus
eclesiásticos, foi nomeado bispo de Medonhedo, em 925, quando apenas tinha, como
já dito, 18 anos, reinando então em Leão o efémero Fruela II (924-925).
Os primeiros meses
do seu pontificado ― continua o autor espanhol ― coincidiram com o agitado
conflito que se travou, a quando da morte de Fruela II, entre os filhos deste
rei e seus primos, filhos de Ordoño II, para a possessão do reino. Finalmente,
estes últimos impuseram-se e subiu ao trono, em 926, Sancho Ordoñez, como rei da
Galiza. Este, tendo morrido sem filhos, o reino voltou a reunificar-se e a
reinar Afonso IV de Leão que por sua vez abdicou, no verão de 931, entre as mãos
de seu irmão mais novo, Ramiro II (931-951), que residia no interior da actual
fronteira portuguesa ― entre Viseu e Coimbra ― precisa o mesmo autor.
Pondo de parte
estas notas histórico-políticas, voltemos ao nosso Santo, quando ele já conta
cerca de 43 anos de idade e 24 de pontificado na diocese de Medonhedo.
Nesta ocasião e na
sequência de uma grande assembleia que se reuniu em Leão em 950, foi escolhido
para a diocese de Medonhedo um outro bispo e Rosendo retirou-se para Celanova,
no mosteiro que mandara construir, como vimos. Todavia, o novo bispo da diocese
que Rosendo deixara, parece não ter as capacidades necessárias e o Santo tem de
voltar a ocupar-se da diocese, assim como da de Dume, sem esquecer todos os
apelos que lhe eram feitos a quando das grandes assembleias para a nomeação de
novos prelados para as dioceses do reino, o que aconteceu ao menos em 956, 958
et 959.
Desde que isso foi
possível, Rosendo voltou para a solidão de Celanova e aí se entregou à oração e
à meditação. Mas esta quietude não durou muito tempo, visto que em 968 foi
chamado à cátedra de Santiago de Compostela onde permaneceu até à morte.
Em 17 de janeiro de
977, encontrando-se provavelmente doente ― e esta doença parecendo-lhe grave ― Rosendo
redigiu o seu testamento onde não só mostra a sua lealdade para com a dinastia
reinante, mas também se preocupa com o futuro do seu querido mosteiro de
Celanova, onde acabará por morrer 32 dias depois no primeiro de março de 977.
Afirma ainda o
autor espanhol que « a trajectória do “galaico” S. Rosendo, bispo de
Medonhedo-Dume (925-950 e 955-958) e por isso titular da “sede apostólica” de
Iria-Santiago (968-977), deve situar-se num claro contexto histórico “neogoticista”,
herdeiro, directo de um passado que nunca tinha sido prescrito, de maneira que a
sua figura se conecta directamente com os seus antecessores, os bispos que
pontificaram em Britónia (perto de Medonhedo) durante os séculos VI a VIII, como
a figura excepcional de S. Martinho de Dume (o apóstolo da Galiza) e a seguir
bispo de Braga (+580) e com aquela de S. Frutuoso, também incansável fundador de
mosteiros e igualmente bispo de Dume e depois de Braga (656) ».
O mesmo autor
acrescenta ainda: « S. Rosendo estudou com toda a segurança, como se fazia no
seu século, a fecunda obra de Santo Isidoro de Sevilha (601-636), assim como
aquela dos primazes de Toledo, S. Julião e Santo Ildefonso. »
Referente a este
grande Santo, conserva-se, em S. Miguel do Couto, perto do Porto, a pia
baptismal onde recebeu as águas que tornam o homem filho de Deus.
Em Celanova
subsiste ainda uma pequena capela, « autêntica jóia da arte pré-românica
espanhola do século X ».
Pouco importa que
S. Rosendo seja português ou espanhol ― os Santos são dados como exemplos a
todos os povos da terra ― o que mais importa é, não só seguir o seu exemplo de
profunda espiritualidade e entrega a Deus, mas também de o invocar nas nossas
necessidades, mostrando-lhe assim o nosso amor e carinho.
Afonso Rocha
|