FAÇA-SE A VOSSA VONTADE
— Vontade divina, vontade
do meu Deus, quero-te, abraço-te e nunca mais te largarei.
(S. 10-05-1945)
Esta
expressão é muito frequente nos escritos da Alexandrina: ela está
enraizada na sua oferta total a Jesus e na sua extraordinária
humildade, humildade que nela nunca enfraqueceu, bem pelo contrário,
tornou-se cada vez mais forte com o andar do tempo e com a sua
subida progressiva, mas firme, no caminho do seu calvário.
Em
meados de Fevereiro de 1942, antes de começar a escrever o seu
Diário desse ano, ela escreveu uma carta a Jesus, onde ela se
oferece de novo ao Senhor, mesmo se esta oferta total e permanente,
trás com ela sofrimentos incalculáveis. Todavia esses sofrimentos
que ela antevê, não a desmoralizam, não lhe fazem perder a coragem
que é também uma das suas virtudes.
«Sinto o meu coração retalhado pela dor. Terei ainda mais golpes
para ferir-me? Faça-se a vossa vontade.»
(Carta a Jesus de 19 de Fevereiro de 1942)

No mês
seguinte esta corajosa doente vai mais longe no seu desabafo com o
divino Esposo e diz-Lhe:
«Ó
como é doce morrer por amor! Ó como é doce cumprir a vontade do
Senhor!» (S. 20-03-1942)
Porque,
segundo ela, e com justa razão, «tudo o que é suportado por amor
de Jesus e das almas, é alegre e consolador!»
E
acrecenta ainda, à intenção daqueles que podessem disso duvidar:
«Pobres daqueles que se opõem contra a vontade de Jesus!»
(S. 27-07-1942)
Em
momentos de grandes dificuldades espirituais, sobretudo depois das
insídias diabólicas, ele geme dolorosamente e desfaz-se em pedir
perdão, tendo medo de ter pecado e por isso mesmo desagradado ao
Senhor:
«Ó
meu Jesus, eu só quero fazer a vossa santíssima Vontade.»
(S. 06-07-1942)
Depois,
em ocasiões análogas, ela “desfaz-se em carinho”, como a esposa do
Cântico:
«A
minha vontade é a Vossa, só Vossa, bem o sabeis, bem o sabeis, meu
Amor. Vede que sou miséria, que sou nada e nada posso sem Vós.»
(S. 09-09-1944)
A sua
vontade está sempre pronta a fazer, a executar a vontade divina,
quaisquer que seja as circunstâncias, ou mais precisamente sempre,
porque o seu sofrimento é contínuo.
«Ó
meu Jesus, só quero a Vossa vontade, tudo me faz sofrer.»
(S. 08-11-1944)
E este
sofrimento permanente abrasa-a cada vez mais no fogo do amor divino
e ela exclama então:
«Ó
santíssima Vontade do meu Jesus, quero-te, amo-te, abraço-te num
abraço eterno.» (S. 14-11-1944)
A cruz
quotidiana que carrega com humildade e abnegação, para o bem das
almas, é motivo de amor, de doação.
«Faça-se a vontade de Nosso Senhor. O que Deus quiser; bendita seja
a minha cruz.» (S. 15-11-1944)
A
vontade do Senhor tem outras implicações que frisam o paradoxo.
Ouçamos:
«Vontade do meu Deus, oh! Como eu te quero e te amo! Senti-me mais
forte e assim pude continuar a encobrir com o sorriso a dor que me
ia na alma.» (S. 16-11-1944)
Sorrir
quando a alma chora; sorrir para encobrir aos que a visitam os
sofrimentos que assolam o seu corpo frágil: a isto chama-se
heroísmo.
Mesmo
quando, por razões diferentes alguns a abandonam, causando-lhe
grande pena, ela continua gritando ao divino Esposo:
«Creio, creio, meu Jesus ! Vós desprendeis-me de tudo e de todos.
Faça-se a Vossa divina vontade.» … «Tiram-me tudo ! Faça-se a Vossa
Vontade ! Ficai Vós, meu Jesus, e isso me basta.»(S. 26-11-1944.
No fim
do mesmo ano de 1944, ela sente-se ainda — e certamente cada vez
mais — atraída pela vontade divina e uma vez mais afirma com
coragem:
«Vontade santíssima do meu Deus, quero-te, amo-te com todo o coração
e com toda a minha alma.» (S. 04-12-1944)
Mesmo
quando por vezes «o corpo desfalece, a vontade está pronta,
suspira e só quer a Vossa vontade divina, Senhor.» (S.
11-12-1944)
A
salvação das almas é para a Alexandrina um motivo de aceitar os
maiores sofrimentos, para as poder salvar por milhões, como Jesus
várias vezes lhe afirmou.
«É
tal a loucura e o amor que sinto pelas almas, que me queria dar toda
a elas. Quero todo o sacrifício e de boa vontade me deixo imolar
para as salvar.» (S. 11-12-1944)
Ela
teme as sextas-feiras, não só por ser o dia em que sofre a paixão de
modo visível, mas também e, talvez sobretudo porque numerosos
visitantes a ela assistem, quando a Alexandrina preferia ficar
desconhecida de todos. Ele queixa-se ao Senhor, mas logo a vontade
divina vem ao de cima:
«Meu
Deus, é sexta-feira! Silêncio e dor profunda! Se existisse o meu
querer e eu pudesse fazer desaparecer do mundo este dia! Jesus,
perdoai-me, nas Vossas mãos me entrego; a Vossa divina vontade, só
ela se faça. Não é para fugir à dor, bem o sabeis; é o medo de mim
mesma, de me enganar.» (S. 22-12-1944)
Estes
receios que ela sente ao ver tanta gente à volta dela e que ela
aceita humildemente por ser a “vontade divina”, levam-na a pensar
que a Mãezinha possa sentir-se triste com o proceder da sua filha,
por isso ela se desculpa:
«Ó
Mãezinha, não fiqueis triste comigo. Tenho medo, muito medo, mas só
quero a Vossa vontade e a do meu Jesus.»
(S. 06-01-1945)
Em
certas ocasiões em que os elementos exteriores mais se precipitam
contra ela: maldizeres de vizinhos; proibições de a visitarem;
calúnias e falsos testemunhos, etc., mais ela se põe ao abrigo da
divina vontade, mais ela se oferece generosamente.
«Estou cheia de medo, ou mais ainda, cheia de pavor. Venha o que
vier, pelo muito que eu seja ferida, humilhada e abatida, com a
Vossa graça divina a tudo direi: “Seja bem-vindo, faça-se a vontade
de Jesus; sou vítima do meu Amor, vítima das almas”.»
(S. 04-01-1945)
Um dia
Jesus perguntou-lhe:
«Diz-me, minha filha, por quem me ofereces estes últimos sofrimentos
da tua vida?
Pelo
que for da Vossa divina vontade, meu Jesus; é só isso o que eu
quero.» (S. 23-03-1945)
Seria
possível escrever ainda muitas páginas, sem perigo de despejar a
fonte que as alimenta. Penso que este curto texto dará aos amigos da
Alexandrina, matéria para meditação e se possível, para imitação.
Terminarei como comecei:
«Vontade divina, vontade do meu Deus, quero-te, abraço-te e nunca
mais te largarei.» (S. 10-05-1945)
Afonso
Rocha |