Feliz aniversário,
Alexandrina!
 

« Eu chamo-me Alexandrina Maria da Costa, nasci na freguesia de Balasar, concelho da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, a 30 de Março de 1904, numa quarta-feira de trevas, e fui baptizada a 2 de Abril do mesmo ano, era então Sábado de Aleluia ».

Assim começas tu a contar-nos a tua vida...

Se ainda estivesses neste mundo, terias hoje, em 2008, 104 anos, o que não seria algo de estranhar, visto que os centenários ou centenárias, são cada vez mais numerosos — em França existem 20 000!

Mas o Senhor, Aquele teu Esposo exclusivo, Aquele a quem tanto amaste nesta vida e que agora vês face a face, quis levar-te para junto d’Ele, para te oferecer a glória que desde aqui mereceste.

Deixaste-nos órfãos, mas nós sabemos que em tudo podemos contar com a tua protecção e a tua incomparável intercessão, tanto quanto os nossos pedidos revertem a favor do bem das nossas almas.

Se te pudessemos visitar ainda hoje, naquele quarto que viu passar grandes multidões, que nos dirias tu, querida Alexandrina?

“Arrepiai caminho”, provavelmente, como tantas vezes o disseste aos grupos que te visitavam...

Sim, porque aquela humanidade que viveu durante tanto tempo na tua alma, aquela humanidade que tanto te fez sofrer então, está pior ainda que nesse tempo cada vez mais longínquo para nós que vivemos já no século XXI...

Querida Alexandrina, estes votos de feliz aniversário parecer-te-ão a contra tempo, visto que para ti, agora, uma só data conta: a do teu nascimento ao Céu, quer dizer o dia 13 de Outubro... Mas tu compreenderás facilmente que, “viciados” pelo mundo que nos rodeia, pelos costumes “naturais” de cada um de nós, nós pensemos neste 30 de Março, como o fazemos para os nossos entes queridos e mesmo para com os nossos amigos... e tu, querida Alexandrina, és mais do que um ente querido, mais ainda do que  uma simples  amiga, tu és e será sempre Alexandrina, o nosso modelo, o nosso Amor, por isso mesmo, aceita que neste dia nos lembremos de ti com ternura e carinho... Tu és a nossa “Mãe”, a nossa “irmã”, o nosso guia, a nossa protectora, a nossa intercessora... és, depois de Deus, o nosso tudo!

Que feliz és tu, querida Alexandrina: no Céu, não só vives na “proximidade” de Deus, mas vives ao lado de todos aqueles que neste mundo amaste: a tua mãe — segundo a carne — o teu pai que seguramente amaste muito e que agora amas mais ainda, a tua querida irmã Deolinda — a tua “secretária” — a Sãozinha por quem tinhas tanto amor, o teu padrinho de baptismo que muitas vezes valeu à tua família, o Padre Veloso, que tanto mal te fez, mas a quem perdoaste e que o Senhor, graças às tuas orações, terá junto d’Ele igualmente... Não, eu não me esqueci do teu querido “Paizinho” espiritual o bondoso e “santo” padre Mariano Pinho... Que “folia” deve ser a vossa, agora que não existem fronteiras entre vós! Quão grande deve ser o vosso amor, puro e santo, cristalino como a água da fonte!...

Como deve ser linda, aí onde vives, a vida dos santos e quão grande o amor que vos une ao torno da Majestade divina!...

Ao escrever-te estas simples palavras que outra pretensão não têm que de te prestar homenagem, vem-me à mente aqueles versos do nosso poeta nacional:

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
 

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
 

E se vires que pode merecer-te
Algua cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
 

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Querida Alexandrina, estas linhas não pretendem prestar-te a homenagem que amplamente mereces, mas simplesmente depositar aos teus pés, o que neste momento enche o meu coração e que tende simplesmente o dizer-te quanto te amo e quanto tenho a agradecer-te pelo muito que por mim fizeste e... continuarás a fazer: disso estou absolutamente certo e convicto.

Alexandrina, não sei o que responderias se te perguntasse como devo fazer — melhor: como devemos fazer — para agradar a Deus... Todavia, uma “afirmação” mais do que concreta, ocupa o meu espírito e a minha alma, uma “afirmação” que não me deixa dúvidas: “amar, sofrer, reparar”.

Se assim tiver que ser, que o Nome três vezes santo do Senhor seja para sempre louvado e amado, por todas as almas da terra. Amem.

Afonso Roca