Alexandrina e o mês de Maio
O mês
de Maio era o mês que a Alexandrina mais apreciava.
Várias
razões a levavam a esse apreço particular.
A
primeira e certamente a principal, porque é o mês de Maria e,
Alexandrina tinha, pela Santíssima Virgem, um amor indefectível, um
amor de todos os instantes. Ela chamava, com muito carinho, a Mãe de
Jesus e nossa mãe, dum diminutivo tipicamente português, mas que
expressa toda a ternura de uma criança para com a mãe: Mãezinha".
A
segunda razão, logicamente, pode-se dizer, porque o mês de maio é o
mês das flores e Alexandrina “adorava” as flores e as cultivava,
tanto quanto podia, para decorar o altar da Virgem Maria na igreja
paroquial de Balasar.
Nos
seus diversos escritos encontramos muitas referências às flores, à
sua beleza, à sua utilidade, à sua significação.
Na sua
Autobiografia, depois de ter explicado os “grandes defeitos” da sua
infância e, quando ela viveu na Póvoa de Varzim para ali ir à
escola, ela explica:
«Se nesta idade
manifestava os meus defeitos, também mostrava o meu amor para com a
Mãe do Céu, e lembra-me com que entusiasmo cantava os versinhos a
Nossa Senhora e até me recordo que gostava muito de levar flores às
zeladoras que compunham o altar da Mãezinha.»
Ainda
durante este mesmo período, ela conta o que lhe aconteceu às vezes:
«Tinha eu 6 anos quando, de noite, me entretinha, por muito tempo, a
ver cair sobre mim inúmeras pétalas de flores de todas as cores,
parecendo chuva miudinha. Isto repetiu-se várias vezes. Eu via cair
estas pétalas, mas não compreendia; talvez fosse Jesus a convidar-me
à contemplação das suas grandezas.»
Durante
a sua estadia de dezoito meses na Póvoa de Varzim, teve muitas
oportunidades para mostrar o seu amor pelas flores e pela Virgem
Maria. Vamos ouvi-la novamente falar-nos da sua “diversão” favorita
e também do mês de Maio:
«Quando ia a passeio com a patroa para o campo, acompanhada com
outras meninas, fugia do convívio delas e ia colher flores que
desfolhava para fazer tapetes na igreja de Nossa Senhora das Dores.
Era
em Maio e toda me comprazia de ver o altar da Mãezinha adornado de
rosas e cravos e de respirar o perfume dessas flores. Algumas vezes,
oferecia à Mãezinha muitas flores que minha mãe propositadamente me
levava.»
O tempo
passou, a sua infância se distanciou e a doença tomou lugar das
alegrias de caminhar nos campos. Agora está para sempre pregada à
sua cama de dor, mas não se esquece das flores que sempre a
maravilham:
«Tive momentos de desânimo, mas nunca de desespero. Nada no mundo me
prendia, só tinha saudades do meu jardinzinho, porque amava muito as
flores. Algumas vezes fui vê-lo, matar essas saudades, ao colo da
minha irmã.»
As
flores, cuja beleza encanta o seu coração, são também muitas vezes
citadas como exemplo ou imagem para desenvolver uma ideia, como
aqui, durante uma oração a Maria, a Flor das Flores:
«Ó
Mãezinha, eu quero andar de sacrário em sacrário a pedir favores a
Jesus, como a abelhinha de flor em flor, a chupar-lhe o néctar!»
No seu
extraordinário “Hino aos sacrários” ela oferece também as suas
flores, “como actos de amor”:
«Eu
Vos ofereço as folhas das árvores, todos os frutos que elas possam
ter, as florzinhas oferecidas pétala por pétala, e tudo o que contêm
os jardins, campos, prados e montes».
No seu
Diário — Sentimentos da alma — ela escreveu, a respeito das suas
visões:
«Quando Jesus disse que o meu peito era um jardim, eu possuí tanta
luz que me mostrou que todo o meu peito era um vasto jardim de
encantadoras flores.» (S. 10-01-1947)
Durante, ou melhor, no início de Maio, ela compunha uma espécie de
calendário de intenções de oração: uma por dia. Estas “flores” de
Maio não foram conservadas, infelizmente na sua totalidade: apenas
dois anos escaparam ao fogo. De facto, no final do mês, ela queimava
todos os boletins que continham a intenção de cada dia,
oferecendo-os a Maria como sinal de seu amor filial.
Para
que se possa ter uma ideia do conteúdo desses boletins, eis a seguir
o que continham os cinco primeiros do mês de Maio de 1935:
«1 –
Por amor de Maria Santíssima e de Jesus Sacramentado, sofrerei tudo
para obter um amor doido a Jesus Sacramentado e para que seja amado
de todos no Santíssimo Sacramento.
2 –
Por amor de Maria Santíssima e de Jesus Sacramentado, sofrerei tudo
pelas intenções do meu padrinho e família.
3 –
Por amor de Maria Santíssima e de Jesus Sacramentado, sofrerei tudo
pelos pecadores que me estão muito recomendados.
4 –
Por amor de Maria Santíssima e de Jesus Sacramentado, sofrerei tudo
por todos os pecadores do mundo.
5 –
Por amor de Maria Santíssima e de Jesus Sacramentado, sofrerei tudo
para obter um amor doido a Maria Santíssima.»
Em 31
de maio de 1936, para encerrar o mês de Maria, compôs esta pequena
oração:
«Mãezinha, eu venho humildemente aos vossos pés depor as flores
espirituais que durante o mês colhi. Estou envergonhada e
confundida. Que pobreza! Em que estado Vo-las entrego! Estão tão
murchas, tão desfolhadas! Mas Vós, ó querida Mãezinha celestial,
podeis transformá-las. Reverdecei-as, abrilhantai-as e ide consolar
e perfumar com elas a Jesus por mim. Falai-lhe das minhas penas e
das minhas aflições.»
Ao
aproximar-se o fim do ano 1936 ela teve uma visão do Bom Pastor.
Aqui também é questão de flores:
«Pelos fins do ano de 1936, numa noite, apresentou-se diante de mim,
a pequena distância, um prado muito viçoso e florido. As flores eram
açucenas. E tantas que eram!... E tão perfeitas!... Por entre ela
pastava um grande rebanho de ovelhinhas, sendo impossível contá-las.
O pastor era Jesus, em tamanho natural, muito belo e com um cajado
na mão.»
Sempre
flores, até na morte!
Em 14
de Outubro de 1955, em nenhum lugar — até mesmo no Porto! — ficaram
flores brancas, todas tinham sido compradas para decorar a capela
ardente que circundava o corpo da Alexandrina de Balasar.
«Na
manhã do dia 14, — escreveu Monsenhor Mendes do Carmo, que a
assistiu nos últimos momentos —, seu corpo inerte, vestido com um
vestido branco como a neve, estavam numa capela ardente. Uma
profusão de rosas e cravos brancos a rodeava.»
Como
dito acima, um peregrino confirmou:
«Hoje no Porto, não se encontram rosas brancas à venda. Todas foram
compradas e enviadas para Balasar.»
«E,
é verdade que o seu corpo inerte parecia estar no meio de um jardim
florido e não numa câmara funerária ou numa capela ardente»,
disse outra testemunha.
Poderíamos aqui publicar ainda os textos em que Jesus utilizou a
palavra “flor” ou “flores”, quando se mostrava à Alexandrina como o
“Jardineiro divino”, o que ocuparia ainda um grande número de
páginas o que não é nosso intento.
Podemos
aqui formular um desejo, ou uma sugestão: que esta devoção a Maria,
no mês de Maio, nunca se apague no coração de Seus filhos, que somos
todos nós, ou ainda, que cada um de nós possua, como a Alexandrina,
um “jardim florido” em seu coração, que é o espelho da alma.
Afonso Rocha |