Dar
esmola é partilhar, é praticar a caridade para com os nossos irmãos
mais necessitados. Assim nos ensina o Evangelho e assim devemos
fazer, porque a esmola é agradável aos olhos de Deus.
«Levantando os olhos, Jesus
viu os ricos deitarem no cofre do tesouro as suas ofertas. Viu
também uma viúva pobre deitar lá duas moedinhas e disse:
«Em verdade vos digo que
esta viúva pobre deitou mais do que todos os outros; pois eles
deitaram no tesouro do que lhes sobejava, enquanto ela, da sua
indigência, deitou tudo o que tinha para viver.”» (Lc. 21, 1-4)
Na
autobiografia da Alexandrina encontramos este texto onde ela fala
dessa caridade — que é amor — para com os mais necessitados e diz
mesmo que “algumas vezes chorava com pena deles”.
Vejamos:
«Era
muito amiga dos velhinhos, pobrezinhos e enfermos e, quando sabia
que alguém não tinha roupinha para se vestir, pedia-a a minha mãe e
ia levar-lha, ficando por vezes a fazer-lhe companhia. Assisti à
morte de alguns, rezando o que sabia e, por fim, ajudava a vestir os
defuntos, o que me custava imenso; fazia-o por caridade: não tinha
coração para deixar sozinha a família dos mortos e, por serem
pobrezinhos, fazia-o com muito gosto.
Dava
esmola aos pobres e sentia grande alegria em fazer obras de
caridade. Algumas vezes chorava com pena deles e por lhes não poder
valer em todas as suas necessidades. A minha maior satisfação era
dar-lhes daquilo que tinha para comer, privando-me assim do meu
alimento. Quantas vezes fiz isto!...»
Num
documento utilizado para o processo de beatificação e canonização,
podemos ler igualmente:
«A
caridade para com o próximo era nela o reflexo do amor que tinha
para com Deus, do qual tirava a medida para amar o seu semelhante. O
motivo que a impelia a debruçar-se sobre o seu próximo foi sempre e
exclusivamente sobrenatural. Muito sensível e terna, cheia de
compreensão: assim se apresentava a todos.»
Nós sabemos que a mãe da Alexandrina era pobre e que por conseguinte
as filhas o eram igualmente, mas nunca ninguém lhes foi bater à
porta que não saísse com um naco de pão ou outro qualquer alimento
que naquela casa existisse, por isso se pode aplicar à família Costa
o que Jesus disse aos seus discípulos:
“Em
verdade vos digo que esta viúva pobre deitou mais do que todos os
outros”, porque
se outros deram daquilo de que estavam cheios, a pobre viúva deu
“tudo o que tinha para viver”.
O coração de ouro da
Alexandrina sempre se enternecia quando sabia que alguém, na aldeia
ou nas aldeias vizinhas, precisava de ajuda, precisava da caridade
alheia e, logo fazia “deslocar as montanhas” para ajudar, que fosse
com alimentos — dos poucos que tinham no quintal ou na cozinha — ou
com roupas, mesmo remendadas. O principal era ajudar aqueles que
ainda eram mais pobres do que elas, elas que riscaram, por causa
desta mesma bondade e caridade, de ficarem sem a casinha herdade
duma tia da Maria Ana.
Diz o ditado popular:
“Fazer bem e não olhar a quem!” Assim o fazia a família Costa,
para honra e glória de Deus.
No documento acima citado,
podemos ler igualmente esta informação que bem confirma o ditado
popular:
«A caridade maior para com o
próximo mostrou-a
— a Alexandrina — para com as pessoas que lhe fizeram mal e lhe
causaram sofrimentos.»
Esta é na verdade aquela
caridade que Jesus nos ensina nos Evangelhos: “amar os nossos
inimigos”.
«Desde muito nova
— é ainda o dito documento que o afirma — [a Alexandrina]
demonstrou imensa caridade para com os pobrezinhos: dava-lhes
comida, roupas e esmolas em dinheiro; tratava dos documentos para
evitar casamentos pecaminosos; ajudava os casais novos, conforme as
suas possibilidades, para que, à míngua de recursos financeiros, não
fossem cometer faltas contra a santidade do matrimónio.»
Mas
ainda não é tudo. Algo mais há ainda para dizer, para afirmar, dada
a importância da informação:
«Ordens
religiosas, casas de beneficência, seminários e missões
experimentaram os efeitos da sua caridade. Enquanto diligenciava por
internar crianças desvalidas — e foram muitas — em casas de
caridade, completava o seu gesto preparando enxovais para as mesmas,
pagando parte da pensão, etc., porque achava justo que tais casas
fossem auxiliadas.»
Penso
que não é necessário argumentar mais sobre esta virtude que na
Alexandrina era como um dom nascido com ela e que com ela não
morreu, porque ainda hoje e, mais do que antes, muitas são as
pessoas que dela beneficiam através das graças recebidas de Deus por
intermédio dela, que continua a ser “o canal por onde Jesus quer
fazer passar as graças”.
Beata
Alexandrina, roga por nós junto do teu divino Esposo.
Afonso
Rocha |