Senhor, como é bom estarmos aqui!
Nos textos
que hoje lemos encontramos grande alimento para as nossas almas e
matéria para uma meditação profunda.
Na primeira
leitura, Deus dirigindo-se a Abrão — assim se chamava ele antes da
missão que Deus lhe vai confiar — diz-lhe, de maneira que parece à
primeira vista autoritária, mas não o é:
«Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra
que Eu te indicar.»
E aquela
ordem que parecia autoritária transforma-se rapidamente em bênção, não
só para Abrão, mas para «todas as nações da terra», porque o
Senhor o afirma: «engrandecerei o teu nome e serás uma bênção».
Abrão não fez perguntas a Deus porque a sua fé era grande e, como está
escrito, ele «partiu, como o Senhor lhe tinha ordenado.»
Aqui podemos
questionar-nos: Que faria eu se recebesse a mesma ordem? Obedeceria
imediatamente ou apresentaria reservas a Deus?
Não
esqueçamos nunca o conselho que nos dá o salmista:
«Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem, para os que
esperam na sua bondade.»
(Sl. 32)
E ainda: Deus nunca nos pedirá algo que não possamos fazer, porque Ele
conhece, melhor do que nós mesmos, os nossos limites.
Conheçamos e reconheçamos humildemente a nossa fraqueza, os nossos
limites e com humildade, como tantas Santas e Santos de Deus, digamos
nós também com o salmista:
«Venha sobre nós a vossa bondade, porque em Vós esperamos, Senhor.»
(Sl. 32)
No Evangelho
de hoje São Mateus fala-nos da transfiguração de Jesus, que teve como
testemunhas oculares Pedro, Tiago e João,
que Jesus «levou, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se
diante deles».
E perante a
estupefacção deles, «o seu rosto ficou
resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a
luz.»
Assim olhos
humanos puderam contemplar o Filho de Deus na sua divindade, na pureza
do seu espírito.
Mas Jesus não
estava sozinho: apareceram a seu lado «Moisés
e Elias a falar com Ele.»
O espanto dos
discípulos, convidados para esta manifestação divina, foi cada vez mais
maior e São Pedro que parecia o mais entusiasta e, segundo a sua maneira
de ser expansiva falou para Jesus:
«Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias».
Ele não disse
quatro ou seis tendas, mas apenas “três”, para alojar as três
personagens celestes enquanto eles continuariam, pode deduzir-se, em
admiração diante de tão maravilho quadro. A ele pouco lhe importava de
ficar ao relento ou mesmo à chuva, o que ele queria era que Jesus,
Moisés e Elias continuassem aquele celeste colóquio começado entre Eles.
Mas a
admiração dos três vai aumentar e com esta também o temor, quando
«uma nuvem
luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia : “Este é o
meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência.
Escutai-O”».
Tão
inesperada afirmação, vinda da nuvem estranha, fez que «ao
ouvirem estas palavras, eles caíssem de rosto por terra e se assustassem
muito.»
Se fecharmos
os olhos e fizermos silêncio em nós, podemos imaginar esta cena tão
particular e nos imaginar na situação de
Pedro, Tiago e João, cheios de felicidade mas também de temor,
não que Deus faça medo, mas por respeito à sua divina Majestade, porque
foi a voz do Pai que eles ouviram, o Criador de todas as coisas
“visíveis e invisíveis”.
Os três discípulos, como diz o evangelista, “caíram de rosto por terra”,
tal foi o respeito que aquela voz lhes inspirou. Nós raramente pomos os
joelhos em terra para adorar a Deus, porque muitas vezes nos
consideramos como deuses e os deuses não dobram o joelho, o que nos
impede de ouvir a voz de Jesus que carinhosamente nos diz:
«Levantai-vos e não temais».
Eles
levantaram-se, ao ouvir aquela voz que eles conheciam tão bem e,
«erguendo os olhos, eles não viram mais
ninguém, senão Jesus.»
Irmãs e
irmãos, devemos tomar uma decisão que nos guie nas nossas vidas: “erguer
os olhos para Jesus”, implorar as suas bênçãos e graças, para que as
nossas vidas sejam uma “transfiguração” contínua, uma subida
ininterrupta à “montanha onde está Jesus”. Amem
Afonso Rocha |