CONGREGAÇÃO PARA O CLERO
ADORAÇÃO,
REPARAÇÃO, MATERNIDADE ESPIRITUAL
PARA OS SACERDOTES
2007
Responsável pela publicação:
S. E. R. Mons. Mauro Piacenza,
Arcebispo. titular de Vittoriana,
Secretário da Congregação para o Clero
Congregação para o Clero
Piazza Pio XII, 3 - 00193 Roma
Tel. 06 698 84151 - 06 698 84178
Fax 06 698 84845
Carta que a congregação está enviando para promover a adoração
eucarística em reparação e para a santificação do Clero :
Excelência Reverendíssima,
São realmente muitas as coisas a serem feitas para o verdadeiro bem
do Clero e para a fecundidade do ministério pastoral nas
circunstâncias atuais, mas, exatamente por isso, mesmo com o firme
propósito de enfrentar essas dificuldades e essas fadigas, cientes
de que o agir sucede ao ser e que a alma de cada apostolado é a
intimidade com Deus, pretende-se iniciar um movimento espiritual
que, favorecendo uma consciência cada vez maior da ligação
ontológica entre Eucaristia e Sacerdócio e da especial Maternidade
de Maria em relação a todos os Sacerdote, dê vida a uma corrente de
adoração perpétua, para a reparação das faltas e para a santificação
dos clérigos, e a um novo empenho das almas femininas consagradas
para que, inspirando-se à tipologia da Beata Virgem Maria, Mãe do
Sumo e Eterno Sacerdote e associada, de modo singular, à sua obra de
Redenção, queiram adotar espiritualmente sacerdotes para ajudá-los
com a oferta de si, a oração e a penitência.
Segundo o dado constante da Tradição, o ministério e a realidade da
Igreja não se reduzem à estrutura hierárquica, à liturgia, aos
sacramentos e aos ordenamentos jurídicos. De fato a natureza intima
da Igreja e a origem primeira de sua eficácia santificadora, devem
ser buscadas na mística união com Cristo.
A doutrina, e a própria estrutura da constituição dogmática
Lumen Gentium,
afirmam que essa união não pode ser imaginada separada da Mãe do
Verbo Encarnado, Aquela que Jesus quis intimamente unida a Si para a
salvação de todo o gênero humano.
Não é casual, portanto, que no mesmo dia em que era promulgada a
constituição dogmática sobre a Igreja – 21 de novembro de 1964 -,
Paulo VI proclamasse Maria “Mãe da Igreja”, ou seja, mãe de todos os
fiéis e de todos os pastores.
O Concílio Vaticano II – referindo-se à Bem Aventurada Virgem –
assim se expressa: “...Concebendo,
gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo,
padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo
singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do
Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta
razão nossa mãe na ordem da graça.” (LG n
61).
Sem nada acrescentar ou tirar à única mediação de Cristo, a sempre
Virgem é reconhecida e invocada, na Igreja, com títulos de Advogada,
Auxiliadora, Socorro e Medianeira; Ela é o modelo do amor materno
que deve animar todos os que cooperam, através da missão apostólica
da Igreja, na regeneração da inteira humanidade (cfr LG n 65).
À luz destes ensinamentos que são parte da eclesiologia do Concílio
Vaticano II, os fiéis, dirigindo o olhar para Maria – exemplo
fúlgido de toda virtude —, são chamados a imitar a primeira
discípula, a mãe, à qual foi confiado, em João – aos pés da cruz (cfr
Jo 19, 25-27) –, cada discípulo, e assim, tornando-se seus filhos,
aprendem com ela o verdadeiro sentido da vida em Cristo.
Desta forma – e exatamente a partir do lugar ocupado pela Virgem
Santíssima e do papel por Ela desenvolvido na história da salvação
- pretende-se, de maneira muito especial, confiar a Maria, a Mãe do
Sumo e Eterno Sacerdote, cada Sacerdote, suscitando, na Igreja,
um movimento de oração que coloque no centro a adoração eucarística
contínua, no arco de tempo das vinte e quatro horas, de modo que, de
cada canto da terra, sempre se eleve a Deus, incessantemente, uma
oração de adoração, agradecimento, louvor, pedido e reparação, com o
objetivo precípuo de suscitar um número suficiente de santas
vocações para o estado sacerdotal e, ao mesmo tempo, de acompanhar
espiritualmente – na realidade do Corpo Místico - ,com uma espécie
de maternidade espiritual, todos os que já foram chamados ao
sacerdócio ministerial e são ontologicamente modelados ao único Sumo
e Eterno Sacerdote, para que cada vez melhor sirvam a Ele e aos
irmãos, colocando-se não apenas “na” Igreja, mas também “perante” a
Igreja,
como prolongamento visível e sinal sacramental de Cristo
que representam como cabeça, pastor e esposo da Igreja (PdV n 16).
Pede-se portanto a todos os Ordinários diocesanos que percebem, em
particular, a especificidade e a insubstituibilidade do ministério
ordenado na vida da Igreja, juntamente à urgência de uma ação comum
a favor do sacerdócio ministerial, de se tornarem parte ativa e de
promover – nas diferentes porções do povo de Deus a eles confiadas
-, verdadeiros cenáculos onde clérigos, religiosos e leigos, unidos
entre si e em espírito de verdadeira comunhão, se dediquem à
oração, sob forma de adoração eucarística contínua, inclusive em
espírito de genuína e real reparação e purificação. Anexa-se com
esta finalidade um opúsculo, para melhor entender a índole da
iniciativa, e um formulário, a ser gentilmente devolvido a esta
Congregação devidamente preenchido, se pretendem – como é de se
auspiciar – aderir em espírito de fé ao projeto aqui apresentado.
Maria, Mãe do Único, Eterno e Sumo Sacerdote, abençoe esta
iniciativa e interceda, junto a Deus, pedindo uma autêntica
renovação da vida sacerdotal a partir do único modelo possível:
Jesus Cristo, Bom Pastor!
Presto obséquios cordiais no Vínculo da comunhão eclesial com
sentimentos de intenso afeto colegial
[Assinatura]
Cláudio Card. Hummes
Prefeito
MauroX Piacenza
Secretario
Do Vaticano, 8 de dezembro de 2007
Solenidade da Imaculada Conceição da B.V. Maria
“Rogai ao Senhor da messe para que envie trabalhadores”
“Rogai ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua
messe!". Isto significa que: a messe existe, mas Deus quer servir-se
dos homens, a fim de que ela seja levada ao celeiro. Deus necessita
de homens. Necessita de pessoas que digam: Sim, eu estou disposto a
me tornar seu trabalhador na messe, estou disposto a ajudar para que
esta messe, que está amadurecendo nos corações dos homens, possa
realmente entrar nos celeiros da eternidade e se tornar perene
comunhão divina de alegria e de amor.
"Rogai ao Senhor da messe"! Isto quer dizer também: não podemos
simplesmente "produzir" vocações, elas devem vir de Deus. Não
podemos, como talvez noutras profissões, por meio de uma propaganda
bem visada, através das chamadas estratégias adequadas, simplesmente
recrutar pessoas. A chamada, partindo do coração de Deus, deve
sempre encontrar o caminho rumo ao coração do homem. E no entanto,
exatamente para que chegue aos corações dos homens, é necessária
também a nossa colaboração. Rogar ao senhor da messe significa
certamente, antes de mais nada, rezar para isso, sacudir o coração e
dizer: "Faça-o por favor! Desperte os homens! Acenda neles o
entusiasmo e a alegria pelo Evangelho! Faça-os entender que este é o
mais precioso de todos os tesouros e que quem o descobriu deve
transmiti-lo!"
Nós sacudimos o coração de Deus. Mas o rogar a Deus não se realiza
somente mediante palavras de oração; implica também na transformação
da palavra em ação, para que o nosso coração rogador lance a faísca
da alegria em Deus, da alegria pelo Evangelho, e suscite em outros
corações a disponibilidade a dizer um "sim". Como pessoas de oração,
repletas da Sua luz, atingimos os outros e, envolvendo-os na nossa
oração, fazemos com que entrem na luz da presença de Deus, que fará
então a sua parte. Neste sentido queremos sempre e novamente rogar
ao Senhor da messe, sacudir seu coração e tocar com Deus, na nossa
oração, também os corações dos homens para que Ele, segundo a sua
vontade, faça amadurecer neles o "sim", a disponibilidade e a
constância - através de todas as confusões do tempo, através do
calor do dia e também através da escuridão da noite - de perseverar
fielmente no serviço, haurindo continuamente dele a consciência de
que, embora fadigoso, este esforço é bom, é útil porque conduz ao
essencial, ou seja, a fazer com que os homens recebam o que esperam:
a luz de Deus e o amor de Deus.
BENTO XVI
Encontro com os sacerdotes e diáconos em Freising, 14 de setembro de
2006.
Maternidade espiritual para os sacerdotes
A vocação a ser mãe espiritual para os sacerdotes é muito pouco
conhecida, insuficientemente compreendida e portanto pouco vivida,
apesar de sua vital e fundamental importância. Essa vocação muitas
vezes está escondida, invisível ao olho humano, mas voltada a
transmitir vida espiritual. Disto tinha certeza Papa João Paulo II:
por isso ele quis no Vaticano um mosteiro de clausura onde fosse
possível rezar pelas suas intenções como sumo Pontífice.
“O que me tornei e como, o devo À minha mãe!”.
S. Agostinho
Independentemente da idade e do estado civil, todas as mulheres
podem se tornar mãe espiritual para um sacerdote e não somente as
mães de família. É possível também para uma mulher doente, para uma
moça solteira ou para uma viúva. Em particular isso vale para as
missionárias e as religiosas que oferecem inteiramente a própria
vida a Deus para a santificação da humanidade. João Paulo II
agradeceu até mesmo uma menina pela sua ajuda materna: “Exprimo
a minha gratidão também à beata Jacinta de Fátima pelos sacrifícios
e orações oferecidas pelo Santo Padre, que ela tinha visto em grande
sofrimento””
(13 de maio de 2000)
Cada sacerdote é precedido por uma mãe, que amiúde também é uma mãe
de vida espiritual para seus filhos. Giuseppe Sarto, por exemplo, o
futuro Papa Pio X, logo depois de ser consagrado bispo foi visitar
sua mãe, na época com setenta anos de idade. Ela beijou
respeitosamente o anel do filho e de repente, tornando-se
meditativa, indicou seu pobre anel nupcial de prata: “Sim, Peppo,
mas você agora não estaria usando esse anel se eu antes não tivesse
usado meu anel nupcial”. S. Pio X, justamente, confirmava a
partir da sua experiência: “Cada vocação sacerdotal vem do
coração de Deus, mas passa através do coração de uma mãe!”.
Uma ótima prova disto é a vida de S. Mônica. Santo Agostinho, seu
filho, que aos dezenove anos como estudante em Cartago havia perdido
a fé, escreveu em suas ‘Confissões’:
“... Tu estendeste tua mão do alto e tiraste minha alma destas
densas trevas, pois minha mãe, tua fiel, chorava por mim mais de
quanto não chorem as mães pela morte física dos filhos
… e no entanto, aquela viúva casta, devota, morigerada, das que são
tuas prediletas, já mais animosa graças à esperança, mas nem por
isso menos dada ao pranto, não cessava de chorar frente a ti, em
todas as horas de oração”.
Após a conversão ele disse com gratidão:
“Minha santa mãe, tua serva, nunca me abandonou. Ela me pariu com a
carne para essa vida temporal e com o coração para a vida eterna. O
que me tornei e como, o devo à minha Mãe!”.
Durante suas discussões filosóficas, Santo Agostinho queria sempre
que sua mãe estivesse ao seu lado; ela escutava atentamente, às
vezes intervinha com um parecer delicado ou, para assombro dos
sábios presentes, dava respostas a questões abertas. Portanto não
surpreende que Santo Agostinho se declarasse seu ‘discípulo em
filosofia’!
O sonho de um Cardeal
O cardeal Nicolau Cusano (1401-1464), bispo de Bressanone, não foi
somente um grande político da Igreja, famoso legado papal e
reformador da vida espiritual do clero e do povo no século XV, mas
também um homem do silêncio e da contemplação. Num “sonho” foi-lhe
mostrada aquela realidade espiritual que ainda hoje vale para todos
os sacerdotes e para todos os homens: o poder do abandono, da oração
e do sacrifício das mães espirituais no segredo dos conventos.
Mãos e corações que se sacrificam
“... Ao entrar numa igreja pequena e muito antiga, decorada com
mosaicos e afrescos dos primeiros séculos, o cardeal teve uma visão
imane. Milhares de religiosas rezavam na pequena igreja. Elas eram
tão gráceis e recolhidas que havia lugar para todas, apesar da
comunidade ser numerosa. As irmãs rezavam e o cardeal nunca tinha
visto rezar tão intensamente. Elas não estavam de joelhos, mas
firmes em pé, o olhar não longínquo, porém fixo num ponto próximo a
ele e no entanto invisível aos seus olhos. Os braços das irmãs
estavam abertos e as mãos viradas para o alto, numa posição de
oferecimento”.
O incrível desta visão é que as irmãs seguravam em sua pobres e
delicadas mãos homens e mulheres, imperadores e reis, cidades e
países. Às vezes as mãos apertavam-se ao redor de uma cidade; outras
vezes um país, reconhecível pelas bandeiras nacionais, estendia-se
sobre uma muralha de braços que o sustentavam. Nestes casos também
em volta de cada rogadora expandia-se um halo de silêncio e
discrição. A maioria das religiosas, porém sustentava com as mãos um
só irmão ou irmã. Nas mãos de uma jovem e frágil monja, quase uma
menina, o cardeal Nicolau viu o papa. Percebia-se quanto a carga
pesasse sobre ela, mas seu rosto brilhava de felicidade. Sobre as
mãos de uma idosa freira estava ele próprio, Nicolau Cusano, bispo
de Bressanone e cardeal da Igreja romana. Ele reconheceu claramente
a si mesmo com suas rugas e com os defeitos de sua alma e de sua
vida. Observava tudo com olhos arregalados e assustados, mas logo ao
susto substituiu-se uma indescritível beatitude. O guia, que estava
ao seu lado, murmurou-lhe: “Veja como apesar de seus pecados, são
ajudados e suportados os pecadores que não deixaram de amar a
Deus!”. O cardeal perguntou: “O que acontece então aos que
não amam mais?”. Repentinamente, sempre acompanhado pelo sua
guia, encontrou-se na cripta da igreja, onde rezavam outras milhares
de freiras.
Enquanto aquelas vistas precedentemente sustentavam as pessoas com
suas mãos, estas na cripta as sustentavam com seus corações. Estavam
profundamente envolvidas, pois tratava-se do destino eterno das
almas. “Veja, Eminência”, disse o guia: “assim são
suportados aqueles que deixaram de amar. Algumas vezes acontece que
se aquecem com o calor dos corações que se consomem por eles, mas
nem sempre. Às vezes, na hora da morte, passam das mãos daqueles que
ainda os querem salvar para as mãos do Juiz divino, com quem devem
justificar-se inclusive pelo sacrifício que lhes foi oferecido.
Nenhum sacrifício fica sem frutos, mas quem não colhe o fruto que
lhe foi oferecido, amadurece o fruto da ruína”. O cardeal fitou
as mulheres vítimas voluntárias. Ele sempre soubera de sua
existência. Nunca porém havia percebido com tanta clareza o que elas
significavam para a Igreja, para o mundo, para os povos e
para cada indivíduo; somente agora, confuso, compreendia. Ele
curvou-se profundamente perante as mártires do amor.
A partir de 1685, portanto há mais de 300 anos, o castelo tornou-se
um mosteiro, onde até hoje uma comunidade de Irmãs Beneditinas vive
a maternidade espiritual, rezando e consagrando-se a Deus,
exatamente como o cardeal Nicolau Cusano vira em seu sonho.
Eliza vaughan
É uma verdade evangélica que as vocações sacerdotais devem ser
pedidas com a oração. Evidencia-o Jesus no evangelho quando diz:
“A
messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao
Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe!”
(Mt 9,37-38).
Oferece-nos um exemplo muito significativo a inglesa Eliza Vaughan,
mãe de família e mulher dotada de espírito sacerdotal, que rezou
muito para as vocações.
Eliza provinha de uma família protestante, a dos Rolls, que
sucessivamente fundou a indústria automobilística Rolls-Royce, mas
quando jovem, durante sua permanência e educação na França, havia
ficado muito impressionada pelo exemplar empenho da Igreja católica
para com os pobres. No verão de 1830, após o casamento com o coronel
John Francis Vaughan, Eliza, apesar da forte resistência de seus
parentes, converteu-se ao catolicismo. Havia tomado essa decisão com
convicção e não somente por ter entrado a ser parte de uma famosa
família inglesa de tradição católica. Os antepassados Vaughan,
durante a perseguição dos católicos ingleses sob o reinado de
Elisabeth I (1558-1603), preferiram sofrer a expropriação dos bens e
a prisão antes que renunciar à própria fé.
Courtfield, a residência originária da família de seu marido,
tornara-se, durante as décadas de terror, um abrigo para os
sacerdotes perseguidos, um lugar onde celebrava-se a S. Missa. Desde
então haviam passado três séculos, mas nada mudara no espírito
católico da família.
Doemos os nossos filhos a Deus
Convertida no fundo do coração, cheia de zelo, Eliza propôs ao
marido de doar os filhos a Deus. Essa mulher de elevadas virtudes
rezava cada dia durante uma hora frente ao Santíssimo Sacramento na
Capela da residência de Courtfield, pedindo a Deus uma família
numerosa e muitas vocações religiosas entre seus filhos. Foi
atendida! Teve 14 filhos e morreu pouco depois do nascimento do
último filho em 1853. Dos 13 filhos vivos, entre os quais 8 homens,
seis se tornaram sacerdotes: dois em ordens religiosas, um sacerdote
diocesano, um bispo, um arcebispo e um cardeal. Das cinco filhas,
quatro se tornaram religiosas. Que benção para a família e quais
efeitos para toda a Inglaterra! Todos os filhos da família Vaughan
tiveram uma infância feliz, porque na educação sua santa mãe possuía
a capacidade de associar de modo natural a vida espiritual e as
obrigações religiosas com as diversões e a alegria. Por vontade da
mãe faziam parte da vida quotidiana as orações e a S. Missa na
capela da casa, bem como a música, o esporte, o teatro amador, a
equitação e as brincadeiras. Os filhos não se entediavam quando a
mãe lhes contava as vidas dos santos, que aos poucos se tornaram
para eles amigos íntimos. Eliza levava consigo os filhos também nas
visitas e nos cuidados aos doentes e aos sofredores das vizinhanças,
para que pudessem nestas ocasiões aprender a serem generosos, a
fazer sacrifícios, a doar aos pobres suas poupanças e seus
brinquedos.
Ela faleceu pouco depois do nascimento do décimo quarto filho, John.
Dois meses após a sua morte, o coronel Vaughan, convencido que ela
havia sido um dom da Providência, escreveu numa carta: “Hoje,
durante a adoração, agradeci o Senhor, por ter podido devolver a Ele
minha amada esposa. Abri a Ele o meu coração cheio de gratidão por
ter-me doado Eliza como modelo e guia, a ela ainda me liga um
vínculo espiritual inseparável. Que maravilhosa consolação e que
graça me transmite! Ainda a vejo como sempre a vi frente ao
Santíssimo com aquela sua pura e humana gentileza que lhe iluminava
o rosto durante a oração”.
Trabalhai nas vinhas do Senhor
As numerosas vocações entre os filhos do casal Vaughan são realmente
uma extraordinária herança na história do Reino Unido e uma benção
que provinha principalmente da mãe Eliza. Quando Herbert, o filho
mais velho, aos dezesseis anos anunciou aos pais que queria se
tornar sacerdote, as reações foram diferentes. A mãe, que havia
rezado muito para que isso acontecesse, sorriu e disse: “Meu
filho, eu já sabia há muito tempo”. O pai porém precisou de um
pouco de tempo para aceitar o anúncio, pois sobre o filho mais
velho, herdeiro da casa, havia colocado muitas esperanças e havia
pensado para ele uma brilhante carreira militar. Como teria podido
imaginar que Herbert iria se tornar arcebispo de Westminster,
fundador de Millhill e sucessivamente cardeal?
Mas o pai também logo persuadiu-se e escreveu para um amigo: “Se
Deus quer Herbert para si, pode ter também todos os outros”.
Reginaldo porém casou-se, como Francis Baynham, que herdou a
propriedade da família. Deus chamou ainda outros nove filhos dos
Vaughan. Roger, o segundo, tornou-se prior dos beneditinos e mais
tarde amado arcebispo de Sydney, na Austrália, onde mandou construir
a catedral. Kenelm tornou-se cisterciense e mais tarde sacerdote
diocesano. José, o quarto filho dos Vaughan, foi beneditino como o
irmão Roger e fundador de uma nova abadia. Bernardo, talvez o mais
animado de todos, que amava muito a dança e o esporte, que não
perdia uma diversão, tornou-se jesuíta. Conta-se que no dia anterior
ao seu ingresso na ordem, tenha tomado parte de um baile e tenha
dito a sua parceira: “Este que estou fazendo com a senhora é meu
último baile porque serei jesuíta!”. Surpresa, a jovem teria
exclamado: “Mas por favor! Logo o senhor, que tanto ama o mundo e
dança maravilhosamente bem, quer ser jesuíta?”. A resposta,
mesmo se pode ser interpretada de várias maneiras, é muito bonita:
“Exatamente por isso me entrego a Deus!”. John, o mais novo,
foi ordenado sacerdote pelo irmão Herbert e sucessivamente tornou-se
bispo de Salford na Inglaterra. Das cinco filhas da família, quatro
se tornaram religiosas. Gladis entrou na ordem da visitação, Teresa
foi irmã da misericórdia, Claire irmã clarissa e Mary priora junto
às agostinianas. Margareta também, a quinta filha dos Vaughan,
queria ser freira, mas não pôde por causa de sua saúde fraca. Viveu,
porém, em casa como consagrada e passou os últimos anos de sua vida
num mosteiro.
Beata Maria Deluil Martiny
(1841-1884)
Cerca de 120 anos atrás, em algumas revelações particulares, Jesus
começou a confiar às pessoas consagradas nos mosteiros e no mundo o
Seu plano para a renovação do sacerdócio. Ele confiou a algumas mães
espirituais a chamada ‘obra para os sacerdotes’. Uma das precursoras
desta obra é a beata Maria Deluil Martiny. Sobre esse seu
grande íntimo desejo ela disse “Oferecer-se pelas almas é belo e
grande! Mas oferecer-se pelas almas dos sacerdotes... é tão belo e
grande que seria preciso ter mil vidas e mil corações! ... Daria de
bom grado a minha vida para que Cristo pudesse encontrar nos
sacerdotes aquilo que deles se espera! A daria de bom grado mesmo se
um só pudesse realizar perfeitamente o plano divino nele!”. De
fato, aos 43 anos, ela selou com o martírio a sua maternidade
espiritual. As suas últimas palavras foram: “É para a obra, a
obra para os sacerdotes!”.
Serva de Deus Louise Marguerite Claret de la Touche
(1868-1915)
Jesus também preparou por longos anos a Serva de Deus Louise
Marguerite Claret de la Touche ao apostolado para a renovação do
sacerdócio. Ela contou que aos 5 de junho de 1902, durante uma
adoração, aparecera-lhe o Senhor.
“Eu o havia rogado para o nosso pequeno noviciado e havia suplicado
que me desse algumas almas que eu pudesse plasmar para Ele. Ele
respondeu-me: ‘Dar-te-ei almas de homens’. Fiquei em silêncio pois
não compreendi suas palavras. Jesus acrescentou: ‘Dar-te-ei almas de
sacerdotes. Ainda mais surpreendida por estas palavras, perguntei:
‘Meu Jesus, como o farás?’. Ele então me expôs a obra que estava
preparando e que devia aquecer o mundo com o amor. Jesus continuou a
explicar o seu plano e portanto quis dirigir-se aos sacerdotes:
’Como 1900 anos atrás eu pude renovar o mundo com doze homens – eles
eram sacerdotes – hoje também eu poderia renovar o mundo com doze
sacerdotes, mas deverão ser sacerdotes santos.”
O Senhor mostrou então para Louise Marguerite a obra em sua
concreteza. “É uma união de sacerdotes, uma obra que abrange o
mundo inteiro”, ela escreveu. “Se o sacerdote quer realizar a
sua missão e proclamar a misericórdia de Deus, deveria em primeiro
lugar, ele mesmo ser invadido pelo Coração de Jesus e deveria ser
iluminado pelo amor de Seu Espírito . Os sacerdotes deveriam
cultivar a união entre si, ser um coração e uma alma e nunca ser
obstáculo uns para os outros”.
Louise Marguerite descreveu com fórmulas tão felizes o sacerdócio em
seu livro “O Coração de Jesus e o sacerdócio”, que alguns sacerdotes
acreditaram ser a obra de um co-irmão. Um jesuíta declarou: “Não
sei quem escreveu o livro, mas uma coisa sei com certeza, não é obra
de uma mulher!”.
Lu Monferrato
Vamos, agora, ao pequeno vilarejo de Lu na Itália do norte, uma
localidade com poucos milhares de habitantes, situado numa região
rural a 90 km a oeste de Turim. Este pequeno vilarejo teria ficado
desconhecido se em 1881 algumas mães de família não tivessem tomado
uma decisão que iria ter “grandes repercussões”.
Muitas dessas mães tinham no coração o desejo de ver um de seus
filhos tornar-se sacerdote ou uma de suas filha entregar-se
totalmente ao serviço do Senhor. Começaram então a reunir-se todas
as terças-feiras para a adoração do Santíssimo Sacramento, sob a
guia de seu pároco, Monsenhor Alessandro Canora, e a rezar para as
vocações. Todos os primeiros domingos do mês recebiam a Comunhão com
essa intenção. Após a Missa todas as mães rezavam juntas para pedir
vocações sacerdotais. Graças à oração cheia de confiança destas mães
e a abertura de coração destes pais, as famílias viviam num clima de
paz, de serenidade e de alegre devoção que permitiu aos filhos
discernir com maior facilidade suas chamadas.
Quando o Senhor disse: “Muitos são os chamados, mas poucos os
eleitos” (Mt 22,14), devemos entendê-lo desta maneira: muitos
serão chamados, mas poucos responderão. Ninguém podia pensar que o
Senhor teria atendido tão amplamente o pedido desta mães. Deste
vilarejo emergiram 323 vocações à vida consagrada (trezentas e vinte
três !): 152 sacerdotes (e religiosos) e 171 religiosas pertencentes
a 41 diferentes congregações. Em algumas famílias houve até três ou
quatro vocações. O exemplo mais conhecido é o da família Rinaldi. O
Senhor chamou sete filhos desta família. Duas filhas entraram para
as irmãs Salesianas e, enviadas a Santo Domingo, tornaram-se
pioneiras e missionárias corajosas. Entre os homens, cinco
tornaram-se sacerdotes Salesianos. O mais conhecido dos cinco
irmãos, Filippo Rinaldi, foi o terceiro sucessor de Dom Bosco,
beatificado por João Paulo II aos 29 de abril de 1990. De fato,
muitos jovens entraram para os salesianos. Não foi por acaso, visto
que Dom Bosco durante sua vida visitou quatro vezes Lu. O santo
participou da primeira Missa de Filippo Rinaldi, seu filho
espiritual, na sua cidade de origem. Filippo gostava muito de
lembrar a fé das famílias de Lu: “Uma fé que fazia dizer aos
nossos pais: O Senhor nos doou filhos e se Ele os chama nós
certamente não podemos dizer não!”. Luigi Borghina e Pietro Rota
viveram a espiritualidade de Dom Bosco de maneira tão fiel que foram
chamados um “o Dom Bosco do Brasil” e o outro “o Dom Bosco da
Valtellina”. Monsenhor Evasio Colli, arcebispo de Parma, também
vinha de Lu (Alessandria). Dele disse João XXIII: “Ele é que
devia ser papa, não eu. Tinha tudo para ser um grande papa”.
A cada 10 anos, todos os as religiosas e os sacerdotes ainda vivos
se reúnem em Lu, vindos de todas as partes do mundo. Dom Mario Meda,
durante muitos anos pároco da cidade, contou como esse encontro na
realidade é uma grande festa, uma festa de agradecimento a Deus por
ter feito grandes coisas em Lu.
A oração que as mães de família rezavam em Lu era breve, simples e
profunda:
“Senhor, fazei que um de meus filhos se torne sacerdote!
Eu mesma quero viver como boa cristã
e quero conduzir meus filhos ao bem para obter a graça
de poder oferecer a Vós, Senhor, um sacerdote santo. Amém”.
Beata AleXandrina da Costa
(1904-1955)
Também um exemplo de vida como a de Alexandrina da Costa,
beatificada aos 25 de abril de 2004, demonstra de maneira
impressionante a força transformadora e os efeitos visíveis do
sacrifício de uma jovem doente e abandonada. Em 1941 Alexandrina
escreveu ao seu pai espiritual, P. Mariano Pinho, que Jesus se havia
dirigido a ela com estas palavras: “Minha filha, em Lisboa vive
um sacerdote que corre o risco de se condenar eternamente; ele me
ofende de maneira grave. Chama o teu padre espiritual e pede-lhe a
autorização para que eu te faça sofrer particularmente, durante a
paixão, por aquela alma”.
Recebida a licença, Alexandrina sofreu muitíssimo. Sentia o peso dos
pecados daquele sacerdote, que não queria mais saber de Deus e
estava prestes a se danar. A coitada vivia em seu corpo o estado
infernal em que se encontrava o sacerdote e suplicava: “Não, no
inferno não! Ofereço-me em holocausto por ele até quando Tu
quiseres”. Ela chegou a ouvir o nome e o sobrenome do sacerdote.
P. Pinho quis então indagar junto ao cardeal de Lisboa para saber se
naquele momento algum sacerdote estivesse lhe dando muitos
desgostos. O cardeal confirmou com sinceridade que de fato havia um
sacerdote que o preocupava; o nome que pronunciou era exatamente o
mesmo que Jesus dissera para Alexandrina.
Alguns meses mais tarde foi referido a P. Pinho, por parte de um
amigo sacerdote, Padre David Novais, um evento especial. Padre David
acabara de dar um curso de exercícios espirituais em Fátima, ao qual
também havia participado um senhor muito discreto que todos haviam
notado pelo seu comportamento exemplar. Este homem, no último dia
dos exercícios, sofreu um ataque de coração; foi chamado um
sacerdote e ele pôde confessar-se e receber a Comunhão. Pouco depois
falecia, reconciliado com Deus. Descobriu-se que aquele senhor,
vestindo roupas leigas, era um sacerdote e era exatamente aquele
pelo qual Alexandrina tanto havia lutado.
Serva de Deus Consolata BetRone
(1903-1946)
Os sacrifícios e as orações de uma mãe espiritual de sacerdote
destinam-se em particular aos consagrados que se perderam ou que
abandonaram a própria vocação. Jesus, na sua Igreja, chamou para
esta vocação inumeráveis mulheres rogadoras, como por exemplo
Irmã Consolata Betrone, Clarissa Capuchinha de Turim.
Jesus lhe disse: “A tua tarefa na vida é dedicar-te aos teus
irmãos. Consolata, tu também serás um bom pastor e irás em busca dos
irmãos perdidos para trazê-los de volta a mim”.
Consolata ofereceu tudo por eles, pelos “seus irmãos” sacerdotes e
consagrados que se encontravam em dificuldade espiritual. Na
cozinha, durante o trabalho, rezava sem cessar sua oração do
coração:
“Jesus, Maria, Vos amo, salvai as almas!”.
Mudou cientemente todo o menor serviço e tarefa em sacrifício. Jesus
lhe disse a esse propósito: “Estas são ações insignificantes, mas
como tu as ofereces com grande amor, concedo a elas um valor
desmedido e as transformo em graças de conversão que descem sobre os
irmãos infelizes”.
Muitas vezes no convento eram assinalados por telefone ou por carta
casos concretos dos quais Consolata carregava o peso no sofrimento.
Às vezes sofria durante semanas ou meses
pela aridez, pela sensação de inutilidade, de obscuridade, de
solidão, de dúvidas e pelos estados pecaminosos dos sacerdotes. Uma
vez, durante essas lutas interiores, escreveu ao seu pai espiritual:
“Quanto me custam os irmãos!”. Jesus, porém, lhe fez uma
grande promessa: “Consolata, não é só um irmão que devolverás a
Deus, mas todos. Te prometo, me doarás os irmãos, todos, um após o
outro”. E assim foi! Levou de volta a um sacerdócio rico de
graça todos os sacerdotes que lhe haviam sido confiados. Muitos
destes casos foram documentados com precisão.
Berthe Petit
(1870-1943)
Berthe Petit é uma grande mística belga, uma alma de expiação pouco
conhecida. Jesus indicou-lhe com clareza o sacerdote pelo qual devia
renunciar a seus projetos pessoais e também fez com que o
encontrasse.
O ‘preço’ para um sacerdote santo
Desde quando era uma moça de quinze anos, Berthe durante cada S.
Missa rezava pelo celebrante: “Meu Jesus, faze com que o teu
sacerdote não te cause desgostos!”. Quando tinha dezessete anos,
seus pais perderam todo o patrimônio por causa de uma fidejussória;
dia 8 de dezembro de 1988, seu diretor espiritual lhe disse que sua
vocação não era o mosteiro, mas ficar em casa e cuidar dos pais. Com
pesar a moça aceitou o sacrifício; pediu, porém, a Nossa Senhora que
intercedesse para que, no lugar de sua vocação religiosa, Jesus
chamasse um sacerdote zeloso e santo. “Você será atendida!”
lhe garantiu o padre espiritual. O que ela não podia prever
aconteceu 16 dias mais tarde: um jovem advogado de 22 anos, o dr.
Louis Decorsant, estava rezando frente a uma estátua de Nossa
Senhora das Dores. De repente e inesperadamente, ele teve a certeza
de que sua vocação não era casar com a moça que amava e exercer a
profissão de tabelião. Compreendeu com clareza que Deus o chamava ao
sacerdócio. Essa chamada foi tão clara e insistente que ele não
hesitou nem um instante em abandonar tudo. Após os estudos em Roma,
onde havia terminado seu doutorado, foi ordenado sacerdote em 1893.
Berthe tinha então 22 anos. Nesse mesmo ano o jovem sacerdote, com
27 anos, celebrou a S. Missa da meia noite num subúrbio de Paris.
Esse fato é importante porque na mesma hora Berthe, assistindo à S.
Messa da meia noite em outra paróquia, prometia solenemente ao
Senhor: “Jesus, quero ser um holocausto para os sacerdotes, para
todos os sacerdotes, mas de modo especial para o sacerdote da minha
vida”.
Quando foi exposto o Santíssimo, a jovem viu de repente uma grande
cruz com Jesus e aos seus pés Maria e João. Ela ouviu as seguintes
palavras: “O teu sacrifício foi aceito, a tua súplica atendida.
Eis o teu sacerdote... Um dia o conhecerás”. Berthe viu que os
traços do rosto de João assumiram os de um sacerdote a ela
desconhecido. Tratava-se do reverendo Decorsant, mas ela o
encontraria somente em 1908, ou seja 15 anos depois, reconhecendo
seu rosto.
O encontro desejado por Deus
Berthe encontrava-se em Lourdes em peregrinação. Aqui Nossa Senhora
lhe confirmou: “Verás o sacerdote que pediste a Deus vinte anos
atrás. Está prestes a acontecer”. Ela estava com uma amiga na
estação de Austerliz em Paris, num trem que ia a Lourdes, quando um
sacerdote entrou no vagão onde elas estavam para segurar o lugar
para uma doente. Era o reverendo Decorsant. Seus traços eram os que
Berthe havia visto no rosto de S. João quinze anos antes, era
portanto aquele para o qual havia oferecido tantas preces e tanto
sofrimento físico. Após ter trocado algumas palavras gentis, o
sacerdote desceu do trem. Exatamente um mês mais tarde, o mesmo
reverendo Decorsant fez uma peregrinação a Lourdes para confiar à
Nossa Senhora seu futuro de sacerdote. Carregando suas bagagens
encontrou novamente Berthe e sua amiga. Reconhecendo as duas
mulheres, as convidou para a S. Missa. Enquanto Padre Decorsant
elevava a hóstia, Jesus disse a Berthe no seu íntimo: “Este é o
sacerdote para o qual aceitei teu sacrifício”. Após a liturgia,
ela soube que “o sacerdote de sua vida”, como o teria chamado
sucessivamente, estava hospedado na sua mesma pensão.
Uma tarefa em comum
Berthe revelou ao Padre Decorsant sua vida espiritual e sua missão
para a consagração ao Coração Imaculado e Doloroso de Maria. Ele, de
sua parte, compreendeu que essa alma preciosa havia-lhe sido
confiada por Deus. Aceitou ser transferido para Bélgica e tornou-se
para Berthe Petit um santo diretor espiritual e um apoio incansável
para a realização de sua missão. Sendo um excelente teólogo foi um
mediador ideal com a hierarquia eclesiástica em Roma. Durante 24
anos, ou seja até sua morte, acompanhou Berthe que, como alma de
expiação, muitas vezes estava doente e sofria de modo especial pelos
sacerdotes que abandonavam a vocação
VENERANDA CONCHITA DO MÉXICO
(1862-1937)
Maria Concepción Cabrera de Armida, Conchita, esposa e mãe de
numerosos filhos, é uma das santas modernas que Jesus preparou para
uma maternidade espiritual para os sacerdotes.
No futuro ela terá grande importância para a Igreja universal.
Jesus uma vez explicou para Conchita: “Existem almas que
receberam uma unção através da ordenação sacerdotal. Porém há também
almas sacerdotais que têm uma vocação sem ter a dignidade ou a
ordenação sacerdotal. Elas se oferecem em união comigo... Essas
almas ajudam espiritualmente a Igreja de maneira poderosa. Tu serás
mãe de um grande número de filhos espirituais, mas eles custarão ao
teu coração como mil martírios. Oferece-te como holocausto, une-te
ao meu sacrifício para obter as graças para eles” ... “Desejaria
voltar a este mundo...nos meus sacerdotes. Desejaria renovar o
mundo, revelando-me neles e dar um impulso forte à minha Igreja,
derramando o Espírito Santo sobre os meus sacerdotes como numa nova
Pentecostes”. “A Igreja e o mundo necessitam de uma nova
Pentecostes, uma Pentecostes sacerdotal, interior”.
Quando jovem Conchita rezava com freqüência frente ao Santíssimo:
“Senhor, sinto-me incapaz de te amar, portanto quero casar. Doa-me
muitos filhos assim que eles possam te amar mais de quanto eu sou
capaz.”. De seu casamento muito feliz nasceram nove filhos, duas
mulheres e sete homens. Ela os consagrou todos a Nossa Senhora:
“Entrego-os completamente a ti como se fossem teus filhos. Tu sabes
que eu não os sei educar, pouco sei do que significa ser mãe, mas
Tu, Tu o sabes”. Conchita viu morrer quatro de seus filhos e
todos tiveram uma morte santa. Conchita foi realmente mãe espiritual
para o sacerdócio de um de seus filhos; e sobre ele escreveu:
“Manuel nasceu na mesma hora em que morreu Padre José Camacho.
Quando ouvi a noticia, roguei a Deus que meu filho pudesse
substituir este sacerdote no altar. Desde quando o pequeno Manuel
começou a falar, rezamos juntos para a grande graça da vocação ao
sacerdócio... No dia de sua primeira Comunhão e em todas as festas
importantes renovei a súplica...Aos dezessete anos entrou na
Companhia de Jesus”.
Em 1906 da Espanha, onde estava, Manuel (nascido em 1889 e terceiro
filho por idade) comunicou-lhe sua decisão de se tornar sacerdote e
ela lhe escreveu: “Doa-te ao Senhor com todo o coração sem nunca
negar-te! Esquece as criaturas e principalmente esquece a ti mesmo!
Não posso imaginar um consagrado que não seja um santo. Não é
possível doar-se a Deus pela metade. Procura ser generoso com Ele!”.
Em
1914 Conchita encontrou Manuel na Espanha pela última vez, porque
ele não voltou nunca mais ao México. Naquela época o filho lhe
escreveu: “Minha querida, pequena mãe, me indicaste o caminho.
Tive a sorte, desde pequeno, de ouvir de teus lábios a doutrina
salutar e exigente da cruz. Agora queria pô-la em prática”. A
mãe também experimentou a dor da renúncia: “Levei tua carta
frente ao tabernáculo e disse ao Senhor que aceito com toda minha
alma esse sacrifício. No dia seguinte coloquei a carta no meu peito
enquanto recebia a Santa Comunhão para renovar o sacrifício total”.
Mãe, ensina-me a ser sacerdote
Dia 23 de julho de 1922, uma semana antes da ordenação sacerdotal,
Manuel, então com trinta anos de idade, escreve para sua mãe:
“Mãe, ensina-me a ser sacerdote! Fala-me da imensa alegria de poder
celebrar a S. Missa. Entrego tudo em tuas mãos, como me protegeste
no teu peito quando eu era criança e me ensinaste a pronunciar os
belos nomes de Jesus e Maria para introduzir-me nesse mistério.
Sinto-me realmente como uma criança que pede preces e sacrifícios...
Assim que eu for ordenado sacerdote, te mandarei a minha benção e
depois receberei ajoelhado a tua”.
Quando Manuel foi ordenado sacerdote, aos 31 de julho de 1922 em
Barcelona, Conchita levantou-se para participar espiritualmente da
ordenação; devido ao fuso horário no México era noite. Ela
comoveu-se profundamente: “Sou mãe de um sacerdote! ... Posso
somente chorar e agradecer! Convido todo o céu a agradecer em meu
lugar porque me sinto incapaz pela minha miséria”. Dez anos mais
tarde escreveu ao filho “Não consigo imaginar um sacerdote que
não seja Jesus, ainda menos quando ele é parte da Companhia de
Jesus. Rezo para ti para que tua transformação em Cristo, desde o
momento da celebração, se cumpra de modo que tu sejas, dia e noite,
Jesus” (17 de maio de
1932). “O que faríamos sem a cruz ? A vida sem as dores que unem,
santificam, purificam e obtêm graças, seria insuportável” (10
de junho de 1932). P. Manuel morreu aos 66 anos de idade em odor de
santidade. O Senhor fez com que Conchita compreendesse para o seu
apostolado: “Confio-te mais um martírio: tu sofrerás aquilo que
os sacerdotes cometem contra mim. Tu viverás e oferecerás pela
infidelidade e pelas misérias deles”. Esta maternidade
espiritual para a santificação dos sacerdotes e da Igreja a consumiu
completamente. Conchita morreu em 1937 aos 75 anos.
O MEU SACERDÓCIO E UMA DESCONHECIDA
O BARÃO WILHELM EMMANUEL KETTLER
(1811-1877)
Todos nós devemos o que somos e a nossa vocação às preces e aos
sacrifícios dos outros. No caso do famoso bispo Ketteler, excelente
personagem do episcopado alemão do século XIX e figura de destaque
entre os fundadores da sociologia católica, a benfeitora foi uma
religiosa conversa, a última e a mais pobre freira de seu convento.
Em
1869 estavam juntos o bispo de uma diocese na Alemanha e seu
hospede, o bispo Ketteler de Mainz. Durante a conversa o bispo
diocesano elogiava as tantas obras benéficas de seu hospede. Mas o
bispo Ketteler explicou ao seu interlocutor: “Tudo o que alcancei
com a ajuda de Deus, o devo às preces e ao sacrifício de uma pessoa
que não conheço. Posso somente dizer que alguém ofereceu a Deus sua
vida em sacrifício para mim e graças a isso tornei-me sacerdote
”. E continuou: “Antes eu não sentia-me destinado ao sacerdócio.
Eu havia prestado alguns exames na faculdade de direito e desejava
fazer uma rápida carreira que me permitisse ter um lugar de
prestígio no mundo, ser respeitado e ganhar muito dinheiro. Um
evento extraordinário porém impediu-me tudo isso e conduziu minha
vida em outras direções. Uma noite, enquanto eu estava sozinho no
meu quarto, abandonei-me aos meus sonhos de ambição e aos planos
para o futuro. Não sei o que me aconteceu, não sei se estava
acordado ou não. O que eu via era a realidade ou um sonho? Só uma
coisa sei com certeza: vi aquilo que sucessivamente provocou a
virada da minha vida. Claro e límpido, Cristo estava por encima de
mim numa nuvem de luz e mostrava-me seu Sagrado Coração. Frente a
Ele estava uma freira ajoelhada com as mãos erguidas em posição de
imploração. Da boca de Jesus ouvi as seguintes palavras: ‘Ela reza
ininterruptamente por ti!”. Eu via com clareza a figura da irmã, e
sua fisionomia me impressionou de maneira tão forte que ainda hoje a
tenho frente aos meus olhos Ela me parecia uma simples conversa.
Sua roupa era pobre e rude, suas mãos avermelhadas e calosas pelo
trabalho pesado. Qualquer coisa tenha sido, um sonho ou não, para
mim foi extraordinário pois fui atingido no íntimo e a partir
daquele momento resolvi me consagrar inteiramente a Deus no serviço
sacerdotal. Recolhi-me num mosteiro para os exercícios espirituais
e conversei sobre tudo isso com meu confessor. Comecei os estudos de
teologia aos trinta anos. O resto o senhor já conhece. Se agora o
senhor acredita que algo de bom foi feito com minha intermediação,
saiba de quem é o mérito: daquela irmã que rezou por mim, talvez sem
sequer me conhecer.
Tenho certeza que por mim se rezou e ainda se reza em segredo e que
sem aquela prece eu não poderia alcançar a meta à qual Deus me
destinou”.
“ Tem idéia de quem reza pelo senhor e onde?” perguntou o bispo
diocesano. “Não. Posso somente pedir a Deus que a abençoe, se
ainda vive, e que lhe devolva mil vezes o que fez por mim.
A IRMÃ DO ESTÁBULO
No
dia seguinte o bispo Ketteler foi visitar um convento de freiras na
cidade próxima e celebrou para elas a S. Missa na capela. Quando
estava prestes a terminar a distribuição da S. Comunhão, já na
ultima fileira, seu olhar deteve-se sobre uma irmã. Seu rosto
empalideceu e ele ficou imóvel, mas logo retomou-se e deu a comunhão
à freira que não percebera nada e estava devotadamente ajoelhada.
Então concluiu serenamente a liturgia.
Para o café da manhã chegou ao convento também o bispo diocesano do
dia anterior. O bispo Ketteler pediu à madre superiora que lhe
apresentasse todas as irmãs e elas chegaram imediatamente. Os dois
bispos se aproximaram e Ketteler as cumprimentava observando-as, mas
via-se com clareza que não encontrava o que estava procurando. Em
voz baixa dirigiu-se à madre superiora: “Estão todas aqui as
irmãs?” Ela olhando o grupo respondeu: “ Excelência, mandei
chamá-las todas mas de fato falta uma!”. “E porque não veio?”
A madre respondeu: “ Ela cuida do estábulo, e de maneira tão
exemplar que às vezes no seu zelo esquece das outras coisas”.
“Desejo conhecer esta irmã”, disse o bispo. Pouco depois a
freira chegou. Ele empalideceu e após ter dirigido algumas palavras
a todas as freiras pediu para ficar a sós com ela. “Você me
conhece?” perguntou. “ Excelência, eu nunca o vi!”. “Mas você
rezou e ofereceu boas obras por mim?” queria saber Ketteler.
“Não tenho consciência disto, pois não sabia da existência de Vossa
Excelência”. O bispo ficou alguns instantes imóvel em silêncio,
depois continuou com outras perguntas. “ Quais devoções ama mais
e pratica com maior freqüência?” “A veneração ao Sagrado
Coração”, respondeu a irmã. “Parece que você tem o trabalho mais
pesado de todo o convento!” continuou. “Ah não, Excelência!
Certamente não posso negar que às vezes me repugna”. “Então o que
você faz quando é atormentada pela tentação?”. “Acostumei-me a
enfrentar, por amor a Deus, com zelo e alegria todas as tarefas que
me custam muito e depois oferecê-las por uma alma no mundo. Será o
bom Deus a escolher a quem dar a Sua graça, eu não quero saber.
Também ofereço a hora de adoração da noite, das vinte às vinte e uma
horas, para essa intenção”. “E como teve a idéia de oferecer tudo
isso por uma alma?” ”E’ um costume que eu já tinha quando ainda
vivia no mundo. Na escola o pároco nos ensinou que devíamos rezar
pelos outros como se faz para os próprios parentes. E também
acrescentava: ‘Seria necessário rezar muito para aqueles que correm
o risco de se perderem para a eternidade. Mas visto que só Deus sabe
quem tem mais necessidade, a coisa melhor seria oferecer as orações
ao Sagrado Coração de Jesus, confiantes na sua sabedoria e
onisciência’. E assim eu fiz, e sempre acreditei que Deus encontra a
alma certa”.
DIA DO ANIVERSÁRIO E DIA DA CONVERSÃO
“Quantos anos você tem?”
Perguntou Ketteler. “Trinta e três anos, Excelência”. O bispo,
impressionado, interrompeu-se um instante e depois perguntou: “Quando
você nasceu?” A irmã disse o dia de seu nascimento. O bispo
então fez uma exclamação: tratava-se exatamente do dia de sua
conversão! Ele a vira exatamente assim, à sua frente como estava
naquele momento. “Você não sabe se as suas preces e os seus
sacrifícios tiveram sucesso?” “Não, Excelência”. “E não
gostaria de saber?”. “O bom Deus sabe quando fazemos algo de
bom, isso me basta”, foi a simples resposta. O bispo estava abalado:
“Então, pelo amor de Deus, continue com essa obra!”.
A
irmã ajoelhou-se à sua frente e pediu a benção. O bispo levantou
solenemente as mãos e com profunda comoção disse: “Com os meus
poderes episcopais, abençôo sua alma, suas mãos e o trabalho que
elas cumprem, abençôo suas orações e seus sacrifícios, seu domínio
de si e sua obediência. A abençôo principalmente para sua última
hora e peço a Deus que a assista com Sua consolação”.
“Amém”, respondeu pacata a irmã e se afastou.
UM ENSINAMENTO PARA A VIDA INTEIRA
O
bispo estava abalado em seu íntimo, aproximou-se da janela para
olhar para fora, tentando reconquistar seu equilíbrio. Mais tarde
despediu-se da madre superiora e voltou à casa de seu amigo e
coirmão. E a ele confidenciou: “Agora encontrei aquela à qual
devo minha vocação. É a última e a mais pobre conversa do convento.
Não poderei nunca agradecer a Deus o bastante pela Sua misericórdia,
porque aquela freira reza por mim há quase vinte anos. Deus porém já
havia aceito sua prece e também tinha previsto que o dia de seu
nascimento coincidisse com o dia de minha conversão; depois, Deus
acolheu as orações e as boas obras daquela irmã. Que ensinamento e
que advertência para mim! Se um dia cair na tentação de orgulhar-me
pelos eventuais sucessos e pelas minhas obras frente aos homens,
devo sempre lembrar que tudo me vem da graça e da oração e do
sacrifício de uma pobre serva que está no estábulo de um convento. E
se um trabalho insignificante me parecer de pouco valor, devo
refletir sobre isto: o que aquela serva faz com humilde obediência a
Deus e oferece em sacrifício com domínio de si, tem um valor tão
grande perante Deus que suas obras criaram um bispo para a Igreja!”.
SANTA TERESA DE LISIEUX
(1873-1897)
Teresa tinha somente 14 anos quando, durante uma peregrinação a
Roma, compreendeu sua vocação de mãe espiritual para os sacerdotes.
Na sua autobiografia escreve como, após ter conhecido na Itália
muitos santos sacerdotes, tenha entendido que, apesar da sublime
dignidade deles, não deixavam de ser homens fracos e frágeis . “Se
santos sacerdotes ... mostram com seu comportamento uma necessidade
extrema de orações, o que dizer dos tíbios?” (A 157). Em uma de
suas cartas encorajava a irmã Celina: “Vivemos pelas almas, somos
apóstolos, salvamos principalmente as almas dos sacerdotes...
rezamos, sofremos para eles e, no último dia, Jesus será grato”
(LT 94).
Na
vida de Teresa, doutora da Igreja, há um episódio comovente que
demonstra seu zelo pelas almas e especialmente pelos missionários.
Já estava muito doente e podia andar somente a custa de muito
esforço, mas o médico lhe recomendara de passear meia hora cada dia
no jardim. Mesmo sem acreditar na utilidade desse exercício, ela o
fazia fielmente todos os dias. Uma vez uma co-irmã que a
acompanhava, vendo o grande sofrimento que lhe provocava o caminhar,
lhe disse: “Mas, irmã Teresa, porque toda essa fadiga se o
sofrimento é maior que o alívio?”. E a santa respondeu: “Sabe
irmã, estou pensando que talvez exatamente nesse momento um
missionário em algum país remoto sente-se muito cansado e
desanimado, portanto ofereço minhas fadigas a ele”.
Deus demonstrou ter acolhido o desejo de Teresa de oferecer sua vida
pelos sacerdotes quando a madre superiora lhe confiou dois nomes de
seminaristas que haviam pedido o apoio espiritual de uma carmelita.
Um era o abade Maurice Bellière, que poucos dias depois da morte de
Teresa recebia o hábito de “Padre Branco”, tornando-se um sacerdote
missionário. O outro era P. Adolphe.
Roulland, que a santa acompanhou com suas preces e sacrifícios até a
ordenação sacerdotal e de modo especial durante sua missão na China.
BEATO CARDEAL CLEMENS AUSGUST VON
GALEN
(1878-1946)
Aos
13 de setembro de 1933, com 55 anos de idade, o pároco Clemens von
Galen foi nomeado bispo de Münster pelo Papa Pio XI. Fiel a seu
lema de não se deixar influenciar “nem pelo elogio, nem pelo medo”,
protestou publicamente contra as medidas terroristas da Gestapo e
denunciou o Estado que havia prejudicado os direitos da Igreja e de
seus fiéis. Em 1946, o Papa Pio XII nomeou cardeal o bispo de
Münster pelos seus méritos e pela extraordinária coragem em
professar a fé. No seu ingresso como pastor de Münster, o bispo
Galen fez imprimir uma imagem com a seguinte escrita:
“Sou
o décimo terceiro filho da nossa família e agradecerei eternamente
minha mãe por ter tido a coragem de dizer sim a Deus também para
esse décimo terceiro filho. Sem esse sim de minha mãe, hoje eu não
seria sacerdote e bispo”.
VENERANDO PAPA JOÃO PAULO I
(1912-1978)
“FOI minha mãe QUEM me ensinou”
João Paulo I começou sua última audiência geral em setembro de 1978
rezando o acto de caridade
“Eu
vos amo, meu Deus , de todo coração e sobre todas as coisas, porque
sois infinitamente bom e amável, e nossa eterna felicidade. Por
vosso amor, amo o meu próximo como a mim mesmo e perdôo as ofensas
recebidas. Senhor, que eu te ame sempre mais”.
É
uma famosíssima oração com as palavras da Bíblia. Foi minha mãe quem
me ensinou. Continuo a rezá-la várias vezes por dia”.
Pronunciou essas palavras sobre sua mãe com tanta ternura que
aqueles que estavam na sala de Audiências responderam com um aplauso
impetuoso. Entre eles, uma jovem mulher disse com lágrimas nos
olhos: “Como é comovedor que o Papa fale de sua mãe! Agora
entendo melhor quanta influência nós, mães, podemos ter sobre nossos
filhos.”
“SENHOR DOE-NOS NOVAMENTE SACERDOTES!”
Durante a perseguição comunista, Anna Stang sofreu muito e, como
tantas outras mulheres em suas condições, ofereceu seus sofrimentos
aos sacerdotes. Na velhice tornou-se, ela mesma, uma pessoa com
espírito sacerdotal.
“FICAMOS SEM PASTORES!”
Anna nasceu em 1909 na parte alemã do Volga numa numerosa família
católica. Era uma simples aluna de nove anos quando experimentou os
inícios da perseguição; ela escreveu:
“... 1918, no segundo ano, no começo das aulas ainda rezávamos o
Pai-nosso. Um ano mais tarde já havia sido proibido e o pároco não
podia mais entrar na escola. Começavam a zombar de nós, cristãos,
não respeitavam mais os sacerdotes e destruíam os seminários.”.
Aos
onze anos Anna perdeu o pai e alguns irmãos e irmãs por causa de uma
epidemia de cólera. Pouco tempo depois morreu também sua mãe e ela,
com apenas dezessete anos, cuidou dos irmãos e das irmãs menores mas
“…nosso pároco também morreu naquela época e muitos sacerdotes
foram presos. Assim ficamos sem pastores! Isso foi um duro golpe. A
Igreja na paróquia vizinha ainda estava aberta, mas ali também não
havia nem um sacerdote. Os fiéis reuniam-se assim mesmo para rezar,
mas sem o pastor a igreja estava abandonada. Eu chorava e não
conseguia me acalmar. Quantos cantos, quantas preces a haviam
enchido e agora tudo parecia morto”.
Depois dessa escola de profundo sofrimento espiritual, Anna começou
a rezar de modo especial para os sacerdotes e missionários. “Senhor,
doe-nos novamente um sacerdote, doe-nos a S. Comunhão! Tudo sofro de
bom grado pelo Teu amor, grandíssimo Coração de Jesus!” Anna
ofereceu pelos sacerdotes todos os sofrimentos sucessivos de modo
especial, mesmo quando numa noite de 1938 seu irmão e seu marido –
estava felizmente casada há sete anos – foram presos e não voltaram
mais.
ENTREGA DO SERVIÇO SACERDOTAL
Em
1942 a jovem viúva Anna foi deportada em Kazakistan com seus três
filhos.
“Foi
duro enfrentar o frio do inverno, mas depois chegou a primavera.
Naquela época chorei muito, mas também rezei muitíssimo. Eu tinha a
sensação que alguém estivesse segurando a minha mão. Na cidade de
Syrjanowsk encontrei algumas mulheres de fé católica. Nos reuníamos
às escondidas todos os domingos e dias de festa para cantar e rezar
o rosário. Eu suplicava com freqüência: Maria, nossa mãe querida,
veja como somos pobres. Doai-nos novamente sacerdotes, mestres e
pastores!”.
A
partir de 1965 a violência da perseguição diminuiu e Anna pôde ir
uma vez por ano à capital do Kirghizistan, onde vivia um sacerdote
católico em exílio.
“Quando
em Biskek foi construída uma igreja, fui para lá com Vittoria, uma
minha conhecida, para participar da S. Missa. A viagem era longa,
mais de 1000 quilômetros, mas para nós foi uma grande alegria. Há
mais de 20 anos não víamos um sacerdote nem um confessionário! O
pastor daquela cidade era idoso e passara mais de dez anos na prisão
por causa da sua fé. Enquanto estava ali, foram-me confiadas as
chaves da igreja, assim eu pude fazer longas horas de adoração.
Nunca imaginei poder estar tão próxima do tabernáculo. Cheia de
alegria ajoelhei-me e o beijei”.
Antes de viajar, Anna teve a licença de levar a S. Comunhão aos
católicos mais idosos de sua cidade, que nunca poderiam ter ido
pessoalmente. “A pedido do sacerdote, na minha cidade, durante
trinta anos batizei crianças e adultos, preparei os casais para o
sacramento do matrimonio e oficiei enterros até quando, por motivos
de saúde, não pude mais prestar esse serviço”.
ORAÇÕES ÀS ESCONDIDAS PARA FAZER CHEGAR UM SACERDOTE!
Não
é possível imaginar a gratidão de Anna quando em 1995 encontrou pela
primeira vez um sacerdote missionário. Chorou de alegria e com
emoção exclamou: “ Veio Jesus, o Sumo sacerdote!”.
Rezava há décadas para que chegasse um sacerdote à sua cidade, mas
chegando aos 86 anos de idade tinha perdido a esperança de ver com
seus olhos a realização desse desejo profundo.
A
S. Missa foi celebrada na sua casa e esta maravilhosa mulher de alma
sacerdotal pôde receber a S. Comunhão: no resto do dia Anna não
comeu nada, para manifestar dessa forma seu profundo respeito e sua
alegria.
UMA VIDA OFERECIDA AO PAPA E A IGREJA
No
verdadeiro sentido da palavra, exatamente no coração do Vaticano, à
sombra da cúpula de São Pedro, encontra-se um convento consagrado à
“Mater Ecclesiae”, à Mãe da Igreja. O edifício, simples, foi usado
no passado para varias funções e reformado alguns anos atrás para
ser adaptado às necessidades de uma ordem contemplativa. O próprio
Papa João Paulo II fez com que esse convento de clausura fosse
inaugurado no dia 13 de maio de 1994, dia de Nossa Senhora de
Fátima; aqui as irmãs iriam consagrar sua vida para as necessidades
do Santo Padre e da Igreja. Esta tarefa é confiada a cada cinco anos
a uma diferente ordem contemplativa. A primeira comunidade
internacional era composta por Clarissas provenientes de seis
diferentes países (Itália, Canada, Ruanda, Filipinas, Bósnia e
Nicarágua). Sucessivamente foram substituídas pelas Carmelitas, que
continuaram a rezar e a oferecer a própria vida para as intenções do
papa. Desde 7 de outubro de 2004, festa de Nossa Senhora do Rosário,
encontram-se no mosteiro sete Irmãs Beneditinas de quatro diferentes
nacionalidades. Uma irmã é filipina, uma vem dos Estados Unidos,
duas são francesas e três italianas.
Com
essa fundação, João Paulo II mostrava à opinião pública mundial,
sem palavras mas de maneira muito clara, quanto a oculta vida
contemplativa seja importante e indispensável, mesmo na nossa época
moderna e frenética, e quanto valor ele atribuía à oração no
silêncio e ao sacrifício oculto. Se ele queria ter tão próximas as
irmãs de clausura para que rezassem para ele e para seu pontificado,
é porque tinha a profunda convicção de que a fecundidade de seu
ministério de pastor universal e o êxito espiritual de sua imensa
obra, proviessem, em primeiro lugar, da oração e dos sacrifícios de
outros.
Papa Bento XVI também tem a mesma profunda convicção. Duas vezes
foi celebrar a S. Missa junto às “suas irmãs”, agradecendo-as pela
oferta de suas vidas por ele.
As
palavras que ele dirigiu no dia 15 de setembro 2007 às Clarissas de
Castel Gandolfo, também valem para as irmãs de clausura do Vaticano:
“Eis então, queridas Irmãs, o que o Papa espera de vós: que
sejais chamas ardentes de amor, "mãos postas" que vigiam em oração
incessante, totalmente separadas do mundo, para apoiar o ministério
daquele que Jesus chamou para guiar a sua Igreja ”.
A
Providência dispôs realmente bem que, sob o pontificado de um papa
que tanto aprecia São Bento, possam estar ao seu lado, de uma
maneira verdadeiramente especial, as Irmãs Beneditinas.
UMA VIDA MARIANA QUOTIDIANA
Não
é por acaso que o Santo Padre escolheu ordens femininas para essa
tarefa. Na história da Igreja, seguindo o exemplo da Mãe de Deus,
sempre foram as mulheres a acompanhar e apoiar, com orações e
sacrifícios, o caminho dos apóstolos e dos sacerdotes nas suas
atividades missionárias. Por isso, as ordens contemplativas
consideram como próprio carisma “ a imitação e a contemplação de
Maria”. Madre M. Sofia Cicchetti, atual priora do mosteiro, define a
vida de sua comunidade como uma vida mariana quotidiana:
“Nada
é extraordinário aqui. A nossa vida contemplativa e claustral pode
ser compreendida somente à luz da fé e do amor de Deus. Nesta nossa
sociedade consumista, hedonista, parece quase ter desaparecido tanto
o sentido da beleza e do estupor perante as grandes obras que Deus
cumpre no mundo e na vida de cada homem e mulher, quanto a adoração
pelo mistério de Sua amorosa presença junto a nós. No contexto do
mundo de hoje a nossa vida afastada do mundo, mas não indiferente a
ele, poderia parecer absurda e inútil. No entanto, podemos
testemunhar com alegria que não é uma perda doar o tempo só para
Deus. Lembra a todos profeticamente uma verdade fundamental: a
humanidade, para ser autenticamente e plenamente si mesma, deve
ancorar-se em Deus e viver no tempo o respiro do amor de Deus.
Queremos ser como tantas “Moisés” que, com os braços erguidos e o
coração dilatado por um amor universal mas concretíssimo, intercedem
para o bem e a salvação do mundo, tornando-se, dessa forma,
“colaboradores no mistério da redenção” (cfr Verbi Sponsa,3).
Nossa tarefa se funda, mais que no “fazer”, no “ser” nova
humanidade. À luz de tudo isso podemos bem dizer que nossa vida é
vida cheia de sentido, não é absolutamente perda e desperdício dela,
nem recusa ou fuga do mundo, mas alegre doação ao Deus-Amor e a
todos os irmãos sem exclusão, e aqui no “Mater Ecclesiae” em
particular para o Papa e seus colaboradores ”.
Irmã Chiara-Cristiana, madre superiora das Clarissas da primeira
comunidade no centro do Vaticano, contou: “Quando cheguei aqui
encontrei a vocação na minha vocação: dar a vida pelo Santo Padre
como Clarissa. Assim foi para todas as outras co-irmãs ”.
Madre M. Sofia confirma: “Nós, como Beneditinas, somos
profundamente ligadas à Igreja universal, e sentimos portanto um
grande amor pelo Papa, onde quer que estejamos. Certamente, ser
chamadas tão próximas a ele – inclusive fisicamente – neste mosteiro
“original”, aprofundou o amor por ele. Procuramos transmiti-lo
também aos nossos mosteiros de origem. Nós sabemos que somos
chamadas a sermos mães espirituais na nossa vida oculta e no
silêncio. Entre os nossos filhos espirituais ocupam um lugar
privilegiado os sacerdotes e os seminaristas, e todos os que se
dirigem a nós pedindo apoio para suas vidas e seu ministério
sacerdotal, nas provas ou desesperos do caminho. A nossa vida quer
ser “testemunho da fecundidade apostólica da vida contemplativa, em
imitação de Maria Santíssima, que no mistério da Igreja apresenta-se
de maneira eminentemente singular como virgem e mãe” (cfr LG 63).
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