Pedro de São José Betancur nasceu em Villaflor de Tenerife,
nas Ilhas Canárias, Espanha, no dia 19 de Março de 1626, tendo sido
baptizado logo no dia 21. Seus pais, Amador González Betancur de la
Rosa e Ana
Garcia
educaram-no cristãmente e Pedro descobriu os valores da fé e da
caridade, de modo especial. E ele nunca esqueceu os ensinamentos
recebidos; ouvindo falar dos trabalhos missionários que muitos
homens e mulheres estavam a empreender nas terras da América,
deixou-se entusiasmar pela ideia de ir anunciar o Evangelho,
emigrando para a Guatemala em 1651 com esse propósito.
Ali
começou a viver como se fosse essa a sua pátria, depressa captou a
simpatia das famílias do lugar, que desejavam a presença de Pedro em
suas casas, pela sua afabilidade e interesse pela situação de cada
um; pagava a hospedagem com os trabalhos humildes que podia fazer.
Dele
disse o seu biógrafo: “Todo o tempo em que conhecemos Pedro de
Betancur, conhecemo-lo como um homem virtuoso. Nele, a virtude
parecia natural. Era tão amável como virtuoso e todos os que o
conheciam, o estimavam e quem o estimava, gostava de comunicar com
ele. Todos desejavam tê-lo em sua casa e muitos o procuravam”.
Fez da pobreza sua companheira de vida, para não ter outro tesouro a
não ser Jesus Cristo e não ter outra preocupação senão o amor dos
pobres. Viveu em Santiago de los Caballeros, entrava livremente na
casa de todos os que ali habitavam, saindo como tinha entrado:
livre de apegos materiais, alma limpa e coração desprendido, mas com
a convicção firme de que tinha deixado a semente do Evangelho no
seio daquelas famílias. O seu biógrafo diz, mesmo, estas palavras
bem elucidativas da sua presença: “o Irmão Pedro deixava as casas
onde entrava banhadas de luz e saía delas sem detrimento da sua
pureza”. Por isso, ele pode ser chamado um “mensageiro do amor de
Deus na América”.
Possuía a sabedoria própria de um homem simples. Por esta razão, a
sua vida se lê melhor nas suas acções do que nos seus discursos. Por
dificuldades nos estudos, não conseguiu ser sacerdote, não foi
membro de uma Ordem religiosa, o que o convenceu de que Deus o
chamava à santidade por outro caminho; seguiu o da caridade,
tornando-se um verdadeiro apaixonado pelo pobres por amor a Cristo.
Sincero e humilde, mas de um singular intuição e prática na vida,
soube reconhecer Deus e encontrar Cristo nas ruas da cidade. Os seus
compatriotas chegavam em busca de poder e de riquezas; ele procurou
as suas honras na catequese, na oração e no alívio dos sofrimentos
humanos dos pobres. Essa era a sua ambição, que realizava “sempre
ocupado em obras de misericórdia”, aliviando o sofrimento do seu
Salvador nas cruzes dos mais pobres.
Era
homem de oração; reconhecendo-se como humilde servo da Santíssima
Trindade, distinguiu-se por uma vida de comunhão contínua com Deus
Pai através da oração e da perseverança em fazer o bem, às vezes à
custa das maiores dificuldades, incompreensões e contrariedades, mas
espalhando sempre a caridade a mãos cheias, dele se podendo dizer
como de Cristo: "passou pela terra fazendo o bem" (cf.
Act 10, 38). Deixando-se guiar pelo Espírito Santo, permaneceu
sempre aberto à sua inspiração, para orientar os seus passos,
palavras e acções.
Peregrino e contemplativo, traçou um itinerário de lugares de
oração, de recolhimento e de contemplação, para que aqueles povos
pudessem gozar de momentos de contacto com o Senhor.
Ainda hoje, a tradição fala desses lugares: o Calvário, o Outeiro
da Cruz, os pátios da Pousada de Belém, o Templo de S. Francisco,
bem como as ruas de pedra abençoadas pela sua passagem continuam a
ser sinais da sua presença permanente naqueles lugares. Soube
cimentar a piedade popular na devoção aos mistérios de Cristo e da
Virgem Maria, na frequência dos sacramentos e na meditação,
acompanhadas pela preocupação constante da salvação da alma.
Por
isso, não nos admiremos de que ele fosse um “leigo fundador de
uma Ordem religiosa”. Assim se expressam os Bispos da Guatemala
em Carta Pastoral, escrita a propósito da sua canonização.
Tendo vestido o hábito da terceira Ordem de penitência franciscana,
continuou a sua vida na prática das obras de caridade, consolidando
a sua devoção a Maria; rezava o terço na Capela da casa com os
escravos, os mais simples, sem deixar de se retirar para o "seu"
Calvário (tinha-o construído com as suas próprias mãos), pelos
pátios da Pousada de Belém, onde, no dizer do seu biógrafo, "os
pobres podiam encontrar pão material para o sustento do seu corpo e
o pão da doutrina para alimento da sua alma". Alguns deixaram-se
seduzir pelo seu exemplo e congregou à sua volta os que julgou
idóneos para dar cumprimento aos seus desejos. Com eles acerta uma
vida regular de oração e austeridade que, ao trabalho com os pobres,
uniam uma espiritualidade muito rica de fidelidade a Deus e vida
comunitária. Assim nasceu a Ordem Betlemita, fundada na Guatemala e
ainda hoje viva naqueles meios, ao serviço das pessoas mais humildes
e sem lar.
Destacam os Bispos da Guatemala três caminhos na herança espiritual
legada por Pedro de São José:
a)
Caminho espiritual, baseado na adoração do Verbo Encarnado,
na meditação constante da paixão de Cristo, no amor e adoração ao
Santíssimo Sacramento da Eucaristia, amor à Mãe de Deus e a devoção
do santo Rosário, a que se juntava a prática da mortificação, da
penitência e do jejum.
b)
Caminho misericrdioso, caracterizado pelo amor aos pobres e a
solidariedade para com todos. Para isto, não hesitou em escrever uma
carta ao Rei de Espanha, pedindo autorização para construir um
hospital para convalescentes, o primeiro do mundo para este género
de doentes.
c)
Um caminho profético, onde se descobrem os valores perenes de
uma autêntica evangelização. Assim o evangelizador verdadeiro não
deve condenar ninguém definitivamente, pois o plano de Deus quer a
salvação de todos e que todos cheguem ao conhecimento da verdade
(cf. 1 Tim 2, 4), o evangelizador propõe o plano de Deus a um
mundo dominado pelo afã das riquezas, a ambição do poder e a
indiferença orientada pelo prazer.
Beatificado por João Paulo II em Roma, no dia 22 de Junho de 1980,
vai ser canonizado ainda pelo mesmo Sumo Pontífice, na Guatemala, em
30 deste mês de Julho.
Fizemos algumas referências à Carta Pastoral com que os Bispos da
Guatemala quiseram preparar as suas comunidades para esta
celebração. A Igreja presente neste país da América Central rejubila
com esta jornada, que ficará na memória do seu povo cristão; com
ele, alegrar-se-á também a Igreja no México, onde uma canonização e
duas beatificações marcarão positivamente a sua vida. Sabemos bem
que a santidade não tem fronteiras, para ela não há limites de tempo
ou espaço. Graças a Deus! |