SITE DOS AMIGOS DA BEATA ALEXANDRINA MARIA DA COSTA

 

 

 

Paulino de Nola
Bispo, Santo
353-431

22

JUNHO

Santo Agostinho não era ainda mais que sacerdote, quando recebeu uma carta encantadora de suavidade, elegância, amizade e louvores, da parte de ilustre senador e cônsul romano, que, com a mulher, acabava de abraçar a vida monástica. A carta estava acompanhada de um pão bento, em sinal de união. No cabeçalho estava escrito:

Ao Senhor Agostinho, irmão unânime e venerável, Paulino e Teresa, pecadores. Tratava-se de São Paulino, nascido em Bordéus, em 353. Contava uma longa lista de senadores na família, tanto do lado paterno como do lado materno. Seu pai, Pôncio Paulino, era prefeito do pretório nas Gálias, e primeiro magistrado do império do Oriente. A esta nobre nascença Paulino ajuntava um espírito elevado e penetrante, um génio rico e fecundo, uma facilidade maravilhosa de exprimir-se.

Cultivou tais predicados desde a infância, por um estudo assíduo dos diferentes ramos da literatura. Teve por mestre de eloquência e de poesia o célebre Ausono, que foi cônsul em 379. Foi elevado, conquanto jovem ainda às mais altas dignidades, e declarado cônsul antes de Ausono, seu mestre. Desposou uma espanhola chamada Tereásia ou Teresa, que lhe trouxe vultuosos bens, que era sobretudo distinta pelo mérito pessoal e pela piedade. Fez grande número de amigos na Itália, na Espanha e nas Gálias, onde havia exercido durante o espaço de quinze anos os seus raros talentos e a maravilhosa capacidade para administração dos negócios, tanto públicos como particulares. Mas a morte de um irmão, as revoluções políticas que se seguiram ao assassínio do imperador Graciano, e mais ainda os entretenimentos que teve com Santo Ambrósio de Milão, com São Martinho de Tours, com São Victrício de Touen, com o Santo Delfim de Bordéus, da mão do qual recebeu o baptismo pelo ano de 380, deram-lhe gosto pelo retiro e inspiraram nele o desejo sincero de levar uma vida mais cristã.

Enfim, encorajado pela mulher, retiraram-se ambos para uma pequena propriedade que tinham na Espanha e ocuparam-se unicamente de sua santificação, desde o ano de 390 até 394. Foi lá que perderam o filho único que Deus lhes havia dado. Enterraram-no em Alcala, junto dos santos mártires Justo e Pastor. Desde esse tempo obrigaram-se, com sentimento mútuo, a viver em continência perpétua.

Em breve, Paulino mudou o hábito, a fim de anunciar ao mundo a resolução de abandonar o senado, os pais, os bens, e ir sepultar-se num mosteiro ou no deserto. Os bens deviam ser consideráveis, pois Ausono testemunhou o pesar que sentia de ver partilhar entre cem pessoas diferentes os reinos de Paulino, seu pai.

O santo vendeu todas as possessões e distribuiu o preço entre os infelizes. Abriu os celeiros e paióis a todos os necessitados. Não contente com aliviar os pobres da vizinhança, chamou-os de todas as partes para nutri-los e vesti-los. Resgatou uma infinidade de cativos e de pobres devedores reduzidos à escravidão por não terem o que pagar. Vendeu igualmente os bens da mulher, que não aspirava com menos fervor à prática da pobreza voluntária. Tal acção foi louvada e admirada por todos os santos que se viam então na Igreja. Mas as pessoas do mundo tachavam-na de loucura. Paulino foi abandonado por todos, mesmo pelos parentes e escravos, que recusavam prestar-lhe os serviços mais comuns da humanidade. Ausono, seu mestre, que era cristão, mas apenas o suficiente para não ser pagão, queixou-se da transformação, por várias cartas em verso. O santo respondeu-lhe por diversos pequenos poemas transudando urbanidade delicada, onde lhe assegura que a sua conversão a Deus não fazia senão tornar mais íntima a antiga amizade.

Todavia, em meio a essa censura geral, viu dois de seus mais ilustres amigos seguirem-lhe o exemplo. O primeiro foi Sulpício; o segundo Santo Aper, vulgarmente Santo Evre, que foi bispo de Toul.

O propósito de Paulino, renunciando ao mundo era ir passar os dias num ermo próximo de Nola, na Campanha, e servir Jesus Cristo na tumba de São Félix, ser o porteiro da igreja, varrer o pavimento todas as manhãs, vigiar à noite para guardá-la, e terminar a vida no trabalho. Mas o povo de Barcelona, edificado com a pureza de seus costumes, apoderou-se dele no Natal de 393, e pediu com insistente calor que se tornasse sacerdote.

Ele defendeu-se como lhe foi possível, e não consentiu na ordenação senão com a condição de que seria livre de ir para onde quisesse. Era contrário às regras da Igreja; mas se passava por vezes por cima delas. Após a Páscoa do ano seguinte, 394 abandonou a Espanha para ir à Itália. Em Milão vivia Santo Ambrósio, que o recebeu com muitas honras e o agregou ao seu clero. Continuando a viagem, foi até Roma, onde melhor o recebeu o povo do que o clero. Alguns eclesiásticos e o Papa não queriam relações com ele. Paulino cedeu à inveja e retirou-se; mas escrevendo a seu amigo Sulpício Severo, não pode deixar de queixar-se. Talvez o Papa, que tinha muito zelo pela observância das regras da Igreja, não achava bom que, contrariando tais regras, Paulino houvesse sido ordenado sacerdote sendo neófito leigo, e sem estar unido a uma igreja particular. Seja o que for, Paulino apressou-se em deixar Roma para dirigir-se a Nola, onde tinha escolhido o retiro junto da tumba de São Félix, que ficava a alguns passos da cidade.

Haviam construído uma igreja sobre a sepultura; ao pé da igreja havia uma construção muito longa de dois andares com uma galeria dividida em celas, das quais Paulino se servia para receber eclesiásticos que iam visitá-lo. Do outro lado havia um alojamento para pessoas do mundo, e também um pequeno jardim. Muitas pessoas piedosas tinham-se unido a ele, que formou então uma sociedade chamada companhia de monges. Todos se sujeitavam a uma regra, e praticavam diversas austeridades. Cada dia Paulino rendia a São Félix toda a honra de era capaz; mas tentava ultrapassar-se no dia de sua festa.

Todos os anos lhe celebrava os louvores com um poema, que chamava de tributo de sua homenagem voluntária. Temos ainda hoje quinze desses poemas, o primeiro dos quais foi composto na Espanha.

Paulino morreu em 431. Tinha sido eleito bispo de Nola em 409 e, nesse cargo, não procurou jamais fazer-se temido, mas amado de todos. Nos julgamentos, examinava com rigor e decidia com doçura. Conquanto houvesse distribuído tão liberalmente os bens, outrora, tomava grande cuidado dos da igreja para despendê-los fielmente.

Dava a todos, perdoava, consolava, edificava uns pelas palavras, e pelas cartas, outros pelos exemplos. A reputação estendia-se-lhe por todo o império, e também entre os bárbaros. Feito prisioneiro dos godos, que devastavam a Itália em 410, disse a Deus com confiança:

"Não permitais, Senhor, que me torturem pelo ouro e pela prata; sabeis onde coloquei tudo o que me destes". Sua prece foi ouvida: os bárbaros não o torturaram, e também não os que haviam tudo abandonado por Jesus Cristo. Em seguida, nada mais tendo a dar, tornou-se escravo para resgatar os filhos de uma viúva, aprisionados na África pelos vândalos, depois de estes haverem devastado a Campanha. Tinha a idade, como se crê, de setenta e oito anos, quando caiu enfermo de uma dor do lado; e como haviam desesperado da cura, dois bispos foram visitá-lo.

Sua chegada proporcionou-lhe tanta alegria, que parecia ter esquecido a doença; e, estando prestes a entregar a alma a Deus, mandou trazer diante do leito os vasos sagrados, a fim de oferecer, com os bispos, o sacrifício, para recomendar a alma a Deus e restituir a paz aos que havia separado do santo ministério, segundo a disciplina da Igreja.

Após haver cumprido tudo com alegria, disse repentinamente, em voz alta: - Onde estão meus irmãos: Um dos assistentes, persuadido de que falava dos bispos que estavam presentes, disse: Ei-los! São Paulino replicou: - Refiro-me a meus irmãos Janeiro e Martinho, que acabam de falar-me, e que me disseram que vinham buscar-me. Ouvia São Janeiro, bispo de Cápua e Mártir, cujas relíquias estavam então em Nápoles, e São Martinho de Tours, que lhe tinham aparecido.

Em seguida, estendeu as mãos ao céu e cantou o salmo: Elevei as mãos às montanhas, e terminou por uma oração. O sacerdote Postumiano advertiu-o de que devia quarenta moedas de outro pelas vestes que havia dado aos pobres. São Paulino respondeu sorrindo: Meu filho, não te preocupes, encontrar-se-á alguém que liquidará a dívida dos pobres. Pouco depois, entrou um sacerdote vindo de Lucânia, enviado pelo bispo Exuperâncio e seu irmão Ursaco, homens eminentíssimos, que lhe trouxeram cinquenta moedas de ouro como presente; São Paulino recebeu-as e disse: Rendo-vos graças, senhor, de não ter abandonado i que em vós espera. Deu duas moedas de ouro ao sacerdote que as havia trazido, e ordenou fosse o resto pago aos mercadores que haviam dado as vestes aos pobres.

Caindo a noite, repousou até meia-noite, depois a dor de lado recrudesceu com violência, sem contar o mal que lhe haviam feito os médicos, aplicando-lhe fogo diversas vezes, inutilmente. Sofreu também muito de opressão do peito, até uma hora da madrugada. Ao romper da aurora, segundo o seu costume, acordou todos, e rezou as matinas, ou melhor, as laudes, como de ordinário; clareando o dia, falou aos sacerdotes, aos diáconos e a todo o clero, exortando-os à paz, ficando depois sem falar até a tarde. Em seguida, como que despertando, lembrou-se de que Ra tempo do ofício das lâmpadas, vale dizer, das vésperas e, estendendo as mãos, cantou lentamente: Preparei uma lâmpada ao meu Cristo.

Após algum tempo de silêncio, pela quarta hora da noite, vale dizer dez horas, todos os assistentes estavam bem acordados, foi a cela sacudida por um tremor tão grande de terra, que se prostraram a rezar atemorizados, sem que os que estavam fora do quarto de algo se apercebessem. Ele entregou a alma, e o semblante e todo corpo pareceram brancos como a neve. Era o dia 22 de Junho de 431, dia em que a Igreja lhe honra ainda a memória. As circunstâncias de sua morte foram escritas por um sacerdote chamado Urânio, que a havia presenciado.

Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XI, p. 94 à 100

 

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