DÉCADA DE 40
NOTICIÁRIO 87
Balasar, 16 (publicado em 4 de Abril de 1940 n’A Voz da Póvoa)
No
lugar de Guardinhos formou-se um novo lar cristão construído pelos
lavradores Sr. Carlos Matias da Silva e sua esposa D. Maria Amélia
Fonseca Carreira. A nova família quis consagrar-se aos Corações de
Jesus e de Maria, entronizando os seus quadros na sala principal da
casa. À cerimónia presidiu o nosso Rev. Abade Leopoldino Mateus, que
fez uma interessante alocução sobre o significado daquela festa, que
foi abrilhantada pelo coro da Misericórdia dessa vila com lindos
cânticos a Jesus e a Maria. Assistiram muitas famílias desta
freguesia, de Arcos e de Rates, que cumprimentaram e felicitaram os
jovens esposos.
Encontra-se
na sua casa do Outeiro a passar uns dias com a família o Sr. Alfredo
de Campos Matos, proprietário dessa vila.
Foi na
última quinta-feira a Fradelos pregar o sermão da Paixão o nosso
Rev. Abade Leopoldino Rodrigues Mateus.
Uniram-se pelos laços do matrimónio cristão o Sr. Henrique Nunes
Novais, abastado lavrador da freguesia de Minhotães, e a Sra. Albina
da Costa, prendada filha do Sr. Francisco José da Costa
(Vicente). O nosso Rev. Abade presidiu à religiosa cerimónia
fazendo uma rápida instrução sobre o sacramento do Matrimónio. Foram
testemunhas presentes os Sra. António Francisco da Costa, de
Gondifelos, e José Nunes Novais, de Minhotães.
Na
casa do Sr. Josué Trocado, das Fontainhas, encontram-se a passar uma
temporada a Sra. D. Virgínia Campos e D. Maria Paz Varzim.
Recebeu o sacramento do Baptismo a menina Teresa, filha primogénita
do Sr. Alves da Costa Santos. Foram padrinhos o Sr. António da Costa
Carvalho, lavrador do lugar do Casal, e a avó paterna, Sra. Teresa
Alves da Silva. Parabéns.
Guarda
o leito a Sra. D. Adosinda de Oliveira Ferreira, veneranda sogra do
Sr. António Costa, professor primário.
***
Este é
o primeiro noticiário da década de 40, já tempo da Guerra Mundial.
Francisco José da Costa (Vicente) era com certeza tio da Beata
Alexandrina e por isso a Albina Costa deveria ser prima.
NOTICIÁRIO 88
(VISITA PASCAL)
Balasar, 29 (publicado em 11 de Abril de 1940 n’A Voz da Póvoa)
A
visita pascal decorreu com grande alegria e entusiasmo. Em todas as
casas o nosso Rev. Abade e a sua comitiva eram recebidos
esplendidamente. Não faltaram os folares nem as mesas com os doces e
frutos, regados com bom vinho, nem os foguetes a exteriorizar o
júbilo dos visitados. Na quinta de Escariz, o Sr. Carlos Teixeira de
Sousa tirou diversos clichés do Sr. Abade e dos homens que o
acompanharam na visita. Tudo correu muito bem, só ao fim das tarde a
chuva veio empanar o brilho desta tradicional festa.
De
visita ao nosso Rev. Abade, esteve entre nós o nosso conterrâneo Sr.
Arcipreste António Gomes Ferreira, abade de Terroso.
Foi
banhado nas águas lustrais do Baptismo o menino António dos Santos
Campos, interessante filhinho do Sr. Aníbal Fernandes Fontainha e da
Sra. Maria dos Prazeres Santos Carvalho, lavradores do lugar de
Gestrins. Foram padrinhos o avô paterno, Sr. António Fernandes
Campos Fontainha, e Deolinda (palavra ilegível na nossa cópia)
Fontainha, de Gondifelos.
De
visita a sua extremosa mãe encontra-se entre nós a nossa conterrânea
Sra. D. Eugénia Leite Reis Proença, residente em Lisboa.
Têm
regular concorrência de devotos os exercícios do mês de São José.
A
passar as férias da Páscoa, estão entre nós o Sr. Eduardo de Sá
Pinto Leitão Nobre, aluno do quinto ano de Direito da Universidade
de Coimbra, D. Prisciliana da Guia Reis Almeida, aluna do Instituto
Sidónio Pais, do Porto, e D. Maria Murado Torres, aluna do colégio
D. Nuno, dessa vila.
NOTICIÁRIO 89
Balasar, 6 (publicado também em 11 de Abril de 1940 n’A Voz da
Póvoa)
Grupos
de pescadores poveiros visitam algumas vezes a pequena ermida da
Santa Cruz aparecida no dia do Corpo de Deus no ano de 1832. Apesar
de bastante decaída, esta devoção ainda encontra alguns adeptos na
classe piscatória.
De
visita a sua família esteve o nosso conterrâneo Rev. Celestino
Domingues da Silva Furtado, pároco de S. Veríssimo de Tamel,
Barcelos.
Recebeu o sacramento do Baptismo a menina Deolinda Matias de
Oliveira, querida filhinha do Sr. Adelino Gomes de Oliveira,
carpinteiro, e da Sra. Maria Ferreira Matias, costureira, do lugar
de Vila Pouca. Foram padrinhos o lavrador Sr. Delfim da Costa Baeta
e a jacista Deolinda da Silva Malta.
Tem
passado bastante doente a professora Sra. D. Maria da Conceição
Leite Reis Proença. Desejamos as suas melhoras.
Acompanhado da sua família, esteve na sua casa do Outeiro o Sr.
Álvaro Ferreira Machado, proprietário do Porto.
Confortada com os sacramentos da Igreja, faleceu com 81 anos, a Sra.
Ana Gonçalves Ferreira, reservatária do lugar do Calvário. A
veneranda extinta era prima do Sr. Arcipreste António Gomes Ferreira
e tia do nosso amigo Sr. António Alves Ferreira, do lugar de
Guardinhos, a quem apresentamos sentidos pêsames.
Seguiram para diversas unidades militares os mancebos inscritos na
primeira incorporação.
Com
demora de alguns dias, está entre nós a Sra. D. Amélia de Campos
Matos, proprietária dessa vila.
NOTICIÁRIO 90
Balasar, 12 (publicado em 26 de Abril de 1940 n’A Voz da Póvoa)
Foi
encerrada a escola do sexo feminino pela doença da respectiva
professora. Havendo tantas professoras sem cadeira, não poderia ser
nomeada uma para a substituir a fim de as alunas não perderem o ano?
Na terceira e quarta classes, andavam dez crianças preparando-se;
com esta interrupção, perdem o ano, assim como as outras alunas. É
isto velar pela instrução do povo?
Regressaram de Abrantes os nossos amigos Srs. João Rodrigues de
Azevedo e Cândido Manuel dos Santos.
Prossegue com toda a actividade o plantio da batata. Tem-se
alastrado muito o cultivo da batata e, se não houver travão, dentro
de poucos anos, haverá escassez de milho porque os campos do pão dos
pobres passam a produzir batata em vez de milho.
Guarda
o leito a Sra. D. Ana Lopes da Silva, da Casa de Guardes. O seu
estado inspira cuidado.
Recebeu o sacramento do Baptismo o menino António, filho Sr. Miguel
Alves de (palavra ilegível), regedor substituto, e da Sra.
Maria Lopes dos Santos, do lugar de Gestrins. Foram padrinhos o Sr.
Joaquim Alves de Sousa Campos e a Sra. Laurinda Alves de Sousa, tios
do neófito.
Com
pequena demora, esteve de visita a sua avó o Sr. Manuel Ferreira
Barbosa, prendado filho do Sr. Ângelo Ferreira, dessa vila.
Encontra-se na sua casa das Fontainhas a Sra. D. Maria Campos
Trocado, virtuosa esposa do nosso amigo Sr. Dr. Josué Trocado.
A
falta de energia eléctrica na freguesia deu ocasião ao deslocamento
do nosso grupo folclórico a essa vila para gravar em disco os seus
cantos regionais e pastoris.
NOTICIÁRIO 91
Balasar, 20 (publicado também em 26 de Abril de 1940 n’A Voz da
Póvoa)
Um
grupo de amigos e correligionários do Sr. Dr. Abílio Garcia de
Carvalho, ex-presidente da câmara, promove amanhã, em acção de
graças pelas suas melhoras, uma missa solene a que assistirão as
crianças da escola com os seus professores, Cruzada Eucarística,
etc.
Em
serviço oficial, esteve entre nós o Sr. Dr. João Amorim, subdelegado
de saúde.
Causou
sensação o artigo “Passeio a Balasar” publicado neste jornal, sendo
lido e comentado largamente no adro no fim da missa do dia.
A
visitar o nosso Rev. Abade, estiveram entre nós seu cunhado Sr. José
Gonçalves Neto, sua irmã D. Lucinda Rosa Rodrigues e seu sobrinho,
Sr. Delfim Gonçalves Neto, recentemente chegados da cidade de
Lourenço Marques (África).
Foi
banhada nas águas lustrais do Baptismo a menina Maria Gomes
Fernandes de Sousa, filha do Sr. José Fernandes de Sousa e da Sra.
Olinda Gomes de Carvalho, lavradores do lugar de Monte Tapado. Foram
padrinhos o Sr. António Alves da Cruz e a Sra. Maria Ferreira da
Costa, proprietários de Santagões.
A
nascença do vinho está soberba; se não houver contratempo de maior,
vai ser um ano abundantíssimo.
***
O Dr.
Abílio Garcia de Carvalho faleceria no ano seguinte. Balasar
deve à iniciativa deste médico da Beata Alexandrina a abertura da
estrada da Cruz à Gandra.
O
“Passeio a Balasar” terá sido também escrito pelo Pe. Leopoldino.
NOTICIÁRIO 92
(FESTA DO SENHOR DA CRUZ)
Balasar, 24 (publicado em 30 de Maio de 1940 n’A Voz da Póvoa)
Ontem
realizou-se a tradicional festa do Senhor da Cruz, cuja capelinha da
aparição em 1832 estava lindamente ornamentada, sendo visitada por
alguns romeiros pescadores da Póvoa.
Também
a Confraria do Senhor não quis deixar no olvido o seu divino
Padroeiro, promovendo, de manhã, missa e comunhão, em que receberam
o Pão dos Anjos mais de 200 pessoas, e, de tarde, grande procissão
eucarística, em que se incorporaram as confrarias, com bastantes
homens, Cruzada Eucarística, Grupos da Acção católica, Marias do
Sacrário-Calvário e muito povo. Durante o trajecto, coberto de
verdes e flores, entoaram-se lindos cânticos a Jesus Sacramentado
até ao lugar do Telo, onde se encontrava o cruzeiro com artísticos
tapetes de flores, junto da casa do Sr. António Malta, juiz da
confraria. Foi uma festa muito de agrado a Nosso Senhor.
Tem-se
intensificado nesta freguesia a devoção das Marias do
Sacrário-Calvário graças ao zelo do nosso Rev. Abade, que ontem
admitiu dezassete associadas, sendo já de 50 o número das inscritas
em Balasar. O acto da admissão revestiu certa solenidade, fazendo o
nosso Rev. Abade uma interessante e elucidativa prática sobre este
assunto.
Recebeu o sacramento do Baptismo o menino Joaquim, filho do Sr.
Celestino Gonçalves de Sá e da Sra. Mirandolina Leitão de Campos,
abastados lavradores do lugar do Lousadelo. Foram padrinhos o Sr.
Joaquim dos Santos Oliveira e a Sra. Conceição Martins de Sá, tios
do neófito.
NOTICIÁRIO 93
(FESTA DOS CENTENÁRIOS)
Balasar, 5 (publicado em 13 de Junho de 1940 n’A Voz da Póvoa)
Esteve
interessante e entusiasta a Festa dos Centenários promovida pelo
nosso Rev. Abade e Professores do Ensino Primário. Às 6 horas e
meia, houve missa rezada, comunhão de 200 pessoas pela prosperidade
de Portugal e Te Deum, a que assistiu muito povo. Às 10 horas
e meia, cinco castelos da mocidade das escolas primárias
acompanharam a bandeira da Fundação à Igreja Paroquial, onde o Rev.
Abade, depois duma erudita alocução, a benzeu. Em seguida, formou-se
o cortejo, incorporando-se os jocistas, Cruzada Eucarística, com a
bandeira, e muito povo. Todos cantaram hinos patrióticos até chegar
aos edifícios escolares que estavam lindamente e ornamentados com
verdes, tapetes e passadeiras de flores naturais.
Pelo
aparelho de rádio, colocado numa janela, os circunstantes iam
sabendo o que se passava em Guimarães, a Missa do Primaz das
Espanhas, os cânticos dos alunos do Seminário de Braga, o toque dos
clarins à elevação, os vivas do povo, tudo se ouvia com grande
perfeição.
Do
importante discurso do Sr. Dr. Oliveira Salazar, não se perdeu uma
só palavra, tal o interesse e o silêncio com que era escutado. O
içar da bandeira da Fundação foi um acto emocionante; os vivas, as
aclamações, as palmas, as girândolas dos foguetes, tudo comovia.
Cantada a Portuguesa pela mocidade escolar, o Rev. Abade Leopoldino
Mateus fez um patriótico discurso sobre os motivos daquela festa
centenária, explicando ao povo o que fizeram a Cruz e a Espada na
fundação e conservação da nacionalidade portuguesa.
Cantado o Hino da Mocidade, de novo ressoaram as palmas, os vivas,
as aclamações a Portugal, à Igreja, ao Estado Novo, a Carmona e a
Salazar.
Todos
retiraram satisfeitos, bendizendo os trabalhos e os esforços dos
promotores duma linda, simples e significativa festa.
***
“A
Festa dos Centenários promovida pelo nosso Rev. Abade e Professores
do Ensino Primário”: como tanta gente, o Pe. Leopoldino, que tinha
sido maltratado ao tempo da República, era agradecido ao Estado
Novo.
“Pelo
aparelho de rádio, colocado numa janela”: como a energia eléctrica
da rede só chegaria a Balasar dez anos mais tarde, talvez fosse
usado algum gerador para fazer funcionar o rádio.
“Cantado o Hino da Mocidade, de novo ressoaram as palmas, os vivas,
as aclamações a Portugal, à Igreja, ao Estado Novo, a Carmona e a
Salazar”: apetece dizer que isto é sobretudo a recusa do regime
opressor da Primeira República.
O lado
genuinamente patriótico da comemoração é indubitável.
NOTICIÁRIO 94
(FESTA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS)
Balasar (publicado em 3 de Outubro de 1940 n’A Propaganda)
Graças
aos esforços do nosso respeitável abade Leopoldino Rodrigues Mateus,
auxiliado pelos zeladores do Apostolado da Oração, foi brilhante a
festa do Sagrado Coração de Jesus. Esta festa tem tal nome que a ela
vêm assistir todos os anos algumas centenas de pessoas das
freguesias vizinhas.
Na
comunhão geral de domingo, comungaram pelo menos 800 pessoas e tanto
a festa interior como a procissão em que se incorporaram as
confrarias, Associação do Apostolado, Cruzada Eucarística, Marias do
Sacrário-Calvário e jacistas, foram magníficas. As conferências do
Sr. Dr. Molho de Faria, que versaram sobre o importante tema A
Família, foram magistrais e concorridíssimas.
Estiveram entre nós, para fazer a sua reunião mensal, os dirigentes
da JIC, secção dos estudantes da Acção Católica. Louvaram muito a
elegância, asseio e limpeza da nossa Igreja Paroquial bem como a
elegância do salão paroquial, onde os nossos jacistas fazem as suas
reuniões semanais.
Consta
que o vereador Sousa Ferreira já tratou na câmara da reparação do
caminho do lugar de Bouça Velha. É necessário alargá-lo e fazê-lo de
novo. Se a notícia se confirmar, é um dever de justiça que a
edilidade presta aos habitantes daquele lugar, intransitável no
inverno.
Está
para breve o casamento do carpinteiro Abel Ferreira Matias, filho do
Sr. João Ferreira Matias, com a menina Maria da Silva Raposo,
prendada filha do Sr. Celestino da Costa Raposo, regedor.
Corre
a notícia de que o Sr. Cândido Manuel dos Santos vai ser reintegrado
como ajudante do posto de registo civil.
Os
nossos lavradores atravessam grave crise económica. Trigo, centeio e
batata tiveram produção reduzida. O milho desapareceu muito e os
estrumes e os adubos ficam caros. Os amigos do alheiro colhem sem
semear, o que muito vem prejudicar o agricultor.
Estão
algumas famílias da Póvoa a ares nesta freguesia, tendo obtido
sensíveis melhoras. Esta freguesia tem ares puríssimos, sendo muito
boa para tratamento de doentes e convalescentes.
***
A
propósito das Marias
dos Sacrários-Calvários, deve-se lembrar que o Pe.
Leopoldino cooperava na revistinha que promovia essa devoção.
“Os
nossos lavradores atravessam grave crise económica”: continuava a
crise na lavoura balasarense.
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