José Ferreira
A caminhada que me
levou à descoberta efectiva da Beata Alexandrina é um percurso um pouco complexo
e que reflecte um condicionamento histórico concreto. Durante muito tempo foi
ela marcada pela qualidade de certo livro, ou a falta dessa qualidade, e pela
fraca receptividade que, ao longo de décadas, envolveu o fenómeno de Balasar.
A mais antiga
recordação relativa à Beata Alexandrina que conservo vem talvez do ano de 1955,
o ano em que ela voou para o Céu, quando eu era ainda criança. Conservo de então
a ideia um pouco vaga de que a minha mãe foi a Balasar. Recentemente soube que o
meu pai a tinha acompanhado.
Na minha
adolescência, aí por 1963-64, li um livrinho, talvez o Alexandrina de Balasar,
do P.e Ismael Matos. Porque pouco percebi — e como haveria de perceber mais? — e
porque me as ilustrações que nele vinham impressionaram muito mal,
desinteressei-me do tema durante três décadas. Este desinteresse era então muito
vulgar.
Só voltei a
dedicar-lhe alguma atenção quando ela foi declarada venerável, em 1996. Li então
a homilia do Arcebispo de Braga e li sobretudo dois bons artigos do médico
poveiro Jorge Barbosa.
Em finais desse ano
e princípio do seguinte, dirigi em Vila do Conde a preparação dum grande grupo
de crismandos. Ao fundo da capa do caderno de apoio que elaborei para o efeito
escrevi, com a anuência do pároco: «Sob a protecção da Venerável Alexandrina de
Balasar». Após a cerimónia do crisma, fiz uma avaliação pouco entusiasta da
protecção que desejara, pois não via significativo resultado dela (quem sabe se
não estaria muito enganado).
Nesse tempo eu
dirigia um suplemento para a juventude que saía no jornal paroquial; como me
pareceu que poderia ser motivador para os leitores falar-lhes de santos
recentes, comecei a estudar alguns. Falei de Santa Teresa Benedita (Edith Stein),
de S. José Moscati e doutros. Depois parei longamente numa santa que
redescobrira, Santa Teresinha do Menino Jesus.
Mas um dia fiz esta
reflexão: ando a estudar e a divulgar santos estrangeiros e ainda não estudei
nem disse nada sobre a Venerável Alexandrina, que é aqui de tão perto.
O título oficial
que lhe fora atribuído não me podia deixar alheio: foi então que me dirigi a
Balasar.
Devo dizer que
desde há muitos anos eu passava nesta freguesia com certa frequência, e passava
mesmo em frente à Casa da Alexandrina. Mas nunca tivera a curiosidade de
perguntar onde ela ficava.
Lembrando o que se
passou depois, apetece dizer que eu andara a preparar-me para o que me esperava:
eu tinha estudado muita coisa, mesmo de tema bíblico e teológico (livros de
divulgação), bem como de história (local, sobretudo) e naturalmente, por razões
profissionais, literatura; além disso, eu tinha já um nome conhecido na imprensa
poveira e vila-condense.
A minha ida a
Balasar resultou numa grande surpresa: havia ali tantos livros, em português e
noutras línguas! Como era possível continuar a ignorar esta Venerável? E no
arciprestado onde ela vivera, ninguém escrevia sobre ela.
Era então Julho de
2001; durante as férias do Verão mergulhei no mundo da Alexandrina e a seguir
comecei a escrever quer no suplemento juvenil quer num semanário poveiro onde
desde há tempos colaborava.
Como entretanto o
jornal onde saía aquele suplemento juvenil foi suspenso, eu fiquei mais livre
para prosseguir o meu estudo da hoje Beata Alexandrina e continuei a escrever no
jornal poveiro, onde publiquei mais de 40 artigos em duas longas séries. Chegava
a haver quem comprasse o jornal só para ler o artigo sobre a Venerável
Alexandrina.
Quando no final de
2003 foi anunciado que estavam abertas as portas para a Beatificação, eu já
estava em contacto com os responsáveis de várias páginas que havia na Internet e
mesmo com a Prof.ª Maria Rita Scrimieri; desde há algum tempo colaborava com o
Pároco de Balasar.
Para se perceber
melhor o alcance do que eu vinha a fazer, é preciso ter em conta que, mesmo a
nível do clero local, havia enorme resistência face à Alexandrina. Daqui se vê o
que pode ter significado a divulgação que estava a ser feita e que mostrava com
clareza que havia ali um importantíssimo caso a considerar.
O estudo que andava
a fazer revelou-se também de grande utilidade por altura da Beatificação: foi do
meu computador que saíram as fotografias para serem enviadas para Roma e mesmo
textos para vários fins.
Como membro do
Secretariado para a Beatificação, tive a honra de estar presente àquele acto
solene. Na altura publiquei o livro Vinde todos… à descoberta da Alexandrina,
que se rapidamente esgotou.
De tudo isto
resulta a grande consolação de ter servido a Igreja e a Causa desta Beata. O que
então fiz e continuo a fazer acabará certamente por ser um dia motivo das minhas
melhores recordações.
Que esta grande
santa nos coloque a todos sob a sua generosa e eficaz protecção.
Vila do Conde, 24
de Maio de 2007. |