Alguns
acham exagero dizer que Nossa Senhora é a medianeira de todas as
graças de Deus; mas isto é afirmado por grandes santos e doutores da
Igreja, como descrevo abaixo.
São
Bernardo, doutor a Igreja, falecido em 1153, é autor da célebre
sentença: “Deus quis que recebamos tudo por Maria” (citado em Valle,
Pe. Inácio. “Vamos todos a Maria Medianeira”, Ed. Paulinas. 4ª ed.,
São Paulo, 1953, p. 191 – VtMM, p. 69).
S.
Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e
denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria. Esse
grande Deus tem um tesouro, um depósito riquíssimo, onde encerrou
tudo que há de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio
Filho; e este tesouro imenso é Maria, que os anjos chamam tesouro do
Senhor, e de cuja plenitude os homens se enriqueceram.” (Tratado da
Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima, n. 23-25 – TVD).
Talvez
se possa achar algum exagero nessas palavras do santo, pelo facto de
ser dito que “nenhum” dom é concedido aos homens sem que o seja
pelas mãos de Maria. Contudo, se examinarmos com a devida aten-ção a
vida de Jesus, veremos que foi por Maria que Ele quis agir em muitas
situações. Por Maria Ele se encarnou; pela palavra de Maria
santificou São João Batista, Seu precursor, no seio de Isabel. Foi
por Maria que Ele, nas núpcias de Caná (Jo 2), mudou “seiscentos”
litros de água em vinho da melhor qualidade, Seu primeiro milagre.
Se a
maior de todas as graças que recebemos de Deus Pai, Jesus Cristo,
veio a nós por meio de Maria, como então todas as outras graças
menores chegariam a nós, senão por ela?
É claro
que Deus é o Senhor absoluto de todas as graças. E Maria não é mais
que uma pura criatura, e tudo que obtém recebe de Deus
gratuitamente. Contudo, mais do que qualquer outra criatura na terra
ela honrou e amou a Deus, sendo escolhida para ser Mãe de Seu Filho.
Santo Afonso de Ligório afirma: “Deus quer que pelas mãos de Maria
nos cheguem todas as graças… A ninguém isso pareça contrário à sã
teologia. Pois Santo Agostinho, autor dessa proposição, estabelece
como sentença, geralmente aceita, que Maria tem cooperado por sua
caridade para o nascimento espiritual de todos os membros da Igreja”
(Glórias de Maria, p. 15).
Santo
Afonso ainda explica: “Há quem ache ousada a grande confiança no
patrocínio da Virgem equeira repreender-nos… Mas, como ensina o
‘Doutor Angélico’ (S. Tomás), nada seopõe a que também outros se
designem medianeiros entre Deus e os homens, enquanto como ministros
e instrumentos cooperam na união dos homens com Deus, como os anjos
e santos do céu, os profetas e sacerdotes de ambos os testemunhos.
Esta dignidade gloriosa cabe em ponto mais elevado à Santíssima
Virgem. Pois não se pode imaginar uma só personalidade que operasse
na reconciliação dos homens com Deus como Maria, ou pudesse jamais
operar como ela… Foi dela que nasceu Jesus, e Ela é verdadeiramente
Sua Mãe, e por essa causa digna e legítima Medianeira do Medianeiro”
(VtMM, pp. 32 e 33).
O Papa
Leão XIII, na encíclica “Octobri mense”, de 22 de setembro de 1891
sobre a Anunciação, diz com base em S. Tomás: “No dia da Anunciação
era esperado o consentimento da Santíssima Virgem em lugar de toda a
natureza humana. Donde se pode, com não menos verdade e exactidão,
afirmar que nada desses tesouros de toda a graça que o Senhor nos
trouxe – pois que a verdade e a graça vêm de Jesus Cristo (Jo 1,17)
– nos foi comunicado senão por Maria. E deste modo, como ninguém
pode ir ao Pai senão pelo Filho, assim também, quase de igual modo,
ninguém pode ir a Jesus Cristo senão por Sua Mãe” (VtMM, p. 47).
Também
o Concílio Vaticano II nos ensina que “um só é o nosso Mediador…
Todavia a materna missão de Maria a favor dos homens de modo algum
obscurece nem diminui essa mediação única de Cristo, mas até ostenta
sua potência, pois todo o salutar influxo da bem-aventurada Virgem a
favor dos homens não se origina de alguma necessidade interna mas do
divino beneplácito. Flui dos superabundantes méritos de Cristo,
repousa em Sua mediação, dela depende inteiramente e dela aufere
toda a força. De modo algum impede, mas até favorece a união
imediata dos fiéis com Cristo” (LG n. 60).
E o
mesmo Concílio fala com toda sua autoridade: “A Igreja não hesita em
proclamar esse múnus subordinado de Maria. Pois sempre de novo o
experimenta e recomenda-o aos fiéis para que, encorajados por essa
maternal protecção, mais intimamente adiram ao Mediador e Salvador”
(LG n. 62).
Muitos
santos falaram dessa mediação de Maria junto a Deus. São Bernardo
(1090-1153) assim diz: “Tal é a vontade de Deus que quis que
tenhamos tudo por Maria. Se, portanto, temos alguma esperança,
alguma graça, algum dom salutar, saibamos queisto nos vem por suas
mãos”.
São
Bernardino de Sena: “Todos os dons virtudes e graças do Espírito
Santo são distribuídos pelasmãos de Maria, a quem ela quer, quando
quer, como quer, e quanto quer” (TVD, p.137).
São
Bernardo: “Eras indigno de receber as graças divinas: por isso foram
dadas a Maria a fim de que por ela recebesses tudo o que terias”
(idem).
Santo
Efrém (306-373), doutor da Igreja, já no século IV afirmava: “Minha
Santíssima Senhora, Santa Mãe de Deus, cheia de graças e favores
divinos, Distribuidora de todos os bens! Vós sois, depois da
Santíssima Trindade, a Soberana de todos; depois do Medianeiro, a
Medianeira do Universo, Ponte do mundo inteiro para o céu. Olhai
benigna para minha fé e meu desejo que me foram inspirados por
Deus” (VtMM, p. 97).
São
Boaventura (1218-1274), bispo e doutor da Igreja: “Deus depositou a
plenitude de todo obem em Maria, para que nisto conhecêssemos que
tudo que temos de esperança, graça e salvação, dela deriva até nós”
(VtMM, p. 101).
Santo
Alberto Magno (1206-1280), doutor da Igreja e professor de São
Tomás: “É anunciada à Santíssima Virgem tal plenitude de graça, que
se tornou por isso a fonte e o canal de transmissão de toda a graça
a todo o género humano” (idem).
São
Pedro Canísio (1521-1597), doutor da Igreja: “O Filho atenderá Sua
Mãe e o eterno Pai ouvirá Seu próprio Filho: eis o fundamento de
toda nossa esperança” (idem).
São
Roberto Belarmino (1542-1621), bispo e doutor da Igreja: “Todos os
dons, todas asgraças espirituais que por Cristo, como cabeça, descem
para o corpo, passam por Maria que é como o colo desse corpo
místico” (VtMM, p. 102).
São
Luiz destaca outra razão importantíssima da intercessão de Maria.
Diz ele: “Reconhecemo-nos indignos e incapazes de, por nós mesmos,
aproximar-nos de Sua Majestade infinita; e por isso servimo-nos da
intercessão da Santíssima Virgem. Além disso é uma prática de grande
humildade, virtude que Deus ama acima de todas as outras. Uma alma
que se eleva a si mesma rebaixa a Deus. Se vos rebaixais crendo-vos
indignos de aparecer diante d’Ele e de vos aproximar d’Ele, Ele
desce, rebaixa-se para vir até vós, para comprazer-se em vós, e para
vos elevar.” (Tvd, n. 142).
Santo
Agostinho afirma que as orações de Maria junto a Deus têm mais poder
junto da Majestade divina que as preces e intercessão de todos os
anjos e santos do céu e da terra (Tvd, n. 27).
Maria
Santíssima é de facto a Medianeira de Todas as Graças como inúmeras
vezes afirmou o Papa Pio XI: “É a Rainha de todas as graças, a
Medianeira de Todas as Graças” (VtMM, p. 68).
Durante
o processo de canonização de Joana D’Arc, a Congregação dos Ritos
hesitou, durante anos, em atribuir à santa um dos milagres propostos
para sua canonização, por ele ter acontecido em Lourdes. No entanto,
o Papa Bento XV assim disse: “Se em todos os prodígios convém
reconhecer a Mediação de Maria, pela qual, segundo vontade divina,
toda a graça e todo o benefício nos vêm, não se pode negar que esta
Mediação se manifestou, de modo muito particular, num dos milagres
precisados. Entendemos que o Senhor assim o permitiu, para nos
sugerir que nunca devemos deixar de pensar em Maria, ainda mesmo
quando um milagre pareça dever atribuir-se à intercessão de um
bem-aventurado ou santo. Até quando Deus se compraz em glorificar
seus santos, é preciso supor sempre a intercessão daquela que os
Padres chamam de ‘Medianeira dos medianeiros” – Mediatrix mediatorum
omnium” (VtMM, p. 69).
Esta
mesma doutrina foi confirmada pelo Papa Pio XI na Encíclica sobre o
Santo Rosário, de 29 de setembro de 1937: “Convidamos a todos os
fiéis para connosco agradecerem a Deus por termos recuperado a
saúde. Como em outra parte já havemos dito, atribuímos essa graça à
intercessão de Santa Teresinha do Menino Jesus, mas sabemos também
que tudo quanto nos vem de Deus, o recebemos das mãos de Maria
Santíssima” (VtMM, p. 70).
Fica
assim bastante claro que mesmo as graças que recebemos de Deus sem
recorrermos a Maria nos são dadas também por meio de suas mãos.
Leão
XIII, na mesma Encíclica “Octobri mense”, de 22 de setembro de 1891,
faz suas as palavras de São Bernardo:
“Toda a
graça concedida ao mundo segue esta tríplice gradação: de Deus a
Jesus Cristo, de Jesus Cristo à Santíssima Virgem, da Santíssima
Virgem aos homens: tal é a ordem maravilhosa de sua disposição”
(VtMM, p. 74).
Rui Manuel Tapadinhas Alves
Quarta-feira, 22 de Maio de 2013. |