Ao
anoitecer de 13 de Outubro, correu velozmente por toda a freguesia a
notícia do falecimento da Alexandrina Maria da Costa, do lugar do
Calvário. Muitas pessoas ficaram em dúvida da veracidade do boato
porque várias vezes tinha corrido idêntica notícia sem fundamento. É
verdade que o estado da doente era grave porque, na véspera, o Rev.
Pároco, assistido de dois sacerdotes, tinha-lhe administrado a
Extrema-Unção, mas nesse dia ainda tinha recebido a Sagrada Comunhão
porque a Unção tinha-lhe sido administrada a seu pedido por querer
recebê-la em seu juízo, como recebeu. Mas ter morrido terá sido
verdade?

Quando
no dia seguinte os sinos deram o sinal fúnebre logo todos se
entristeceram, cobriram-se de luto e exclamavam doloridamente: “Já
morreu a mãe dos pobres, o amparo dos miseráveis, a consoladora dos
aflitos!”
Até às
missas do sétimo dia, todas as pessoas vestiam de luto e não se
ouvia uma canção nos trabalhos do campo, nem de adultos nem de
crianças.
Pode-se
afoitamente dizer que Balasar sentia o passamento da Alexandrina
pelo vácuo que ela deixava na missão de caridade, virtude altíssima
que ela praticou de um modo singular.
Eis um
resumo do seu dossier de beneficiar o próximo:
Intercedeu junto de Deus pela colocação de muitas pessoas, que lhe
agradeciam por carta.
Conseguiu a colocação em fábricas de chefes de família pobres,
cheios de filhos, vivendo na maior miséria e, se ainda vivesse,
teria mais para colocar.
Distribuía muitas esmolas aos necessitados e não deixava sem socorro
os que lhe batessem à porta.
Para os
pobres sem habitação, dava-lhes socorro monetário e conseguia
abonadores para construção de casas que, se não fosse ela, nunca a
possuiriam.
Internou em casas de previdência doentes anormais e crianças para
educação.
Obteve
a entrada em ordens religiosas de crianças de ambos os sexos para
serem educadas e ainda algumas lá estão a estudar.
Protegia com mensalidades várias pessoas que já tiveram recursos,
mas agora estão na miséria.
No
Natal e na Páscoa, distribuía roupas ou calçado a todos os
necessitados da freguesia.
Aos
órfãos, vestia-os para não sentirem a falta de seus progenitores.
Não
consentia que a família negasse esmola aos pedintes e dava dinheiro
para medicamentos.
Conseguiu, pelo seu conhecimento, madrinhas para estudantes, estando
alguns já colocados.
Quando
chegasse ao seu conhecimento alguma precisão em pessoas
envergonhadas, logo lhe enviava socorro em roupas ou em comida.
Ainda
teríamos mais que dizer, mas o exposto já é suficiente para saber os
motivos que levaram o povo de Balasar a chorar a sua morte e a
cobrir-se de luto. Com verdade e com razão exclamaram, repassadas de
dor e desalento: “Já morreu a mãe dos pobres, o amparo dos
miseráveis, a consoladora dos aflitos!”
Leopoldino Mateus
5/11/55 |