Junto
da igreja paroquial de Santa Eulália de Balasar, deste concelho,
existe uma capela dedicada à Santa Cruz, levantada em memória da
aparição em Junho de 1832, de uma cruz de terra, no lugar de
Calvário.
O
pároco de então, Reitor António José ele Azevedo, narra essa
aparição numa representação dirigida ao Sr. Dr. António Pires de
Azevedo Loureiro, Desembargador-Provisor e por ausência do
Governador, Vigário Capitular, sede vacante, encarregado
interinamente do governo temporal e espiritual do Arcebispado de
Braga.
Eis o
teor da representação:
Exmo. e
Revmo. Senhor
Dou
parte a V. Ex.ª de um caso raro acontecido nesta freguesia de Santa
Eulália de Balasar. No dia do Corpo de Deus próximo pretérito (1832)
indo o povo da missa de manhã por caminho que passa no monte
Calvário, divisou uma cruz escrita na terra: a terra quê demonstrava
esta cruz era de cor mais branca que a outra e parecia que tendo
caído orvalho em toda a mais terra, naquele sítio demonstrava a
forma de cruz, em que não tinha caído orvalho algum.
Mandei
eu varrer todo o pó e terra solta que estava naquele sítio e
continuou a aparecer como antes no mesmo sítio a forma de cruz.
Mandei
depois lançar água com abundância tanto na cruz como na mais terra
em volta e então a terra que demonstrava a forma de cruz apareceu de
uma cor preta que até ao presente tem conservado.
A haste
da cruz tem quinze palmos de comprido e a travessa oito.
Nos
dias turvos divisa-se com clareza a forma de cruz a qualquer hora do
dia e nos dias de sol claro vê-se muito bem a forma de cruz de manhã
até às 9 horas e de tarde quando o sol declina mais para o ocidente
e no mais espaço do dia não é bem visível.
Divulgada a notícia do aparecimento desta cruz, começou a concorrer
o povo a vê-la e venerá-la, adornando-a com flores e dando-lhe
esmolas.
É a
esta Cruz que, no colóquio de 14 de Janeiro de 1955, Nosso Senhor se
refere quando disse à doente Alexandrina:
Há mais
de um século que mostrei a Cruz a esta terra amada, Cruz que veio
esperar a vítima. Tudo são provas de amor!
Ó
Balasar, se não correspondes!...
Cruz de
terra para a vítima que do nada foi tirada, vítima acolhida por Deus
e que sempre existiu nos olhares de Deus.
Vítima
do mundo mas tão enriquecida das riquezas celestes que ao Céu dá
tudo e por amar às almas aceita tudo.
Confia,
crê minha filha. Eu estou aqui. Repete o teu creio.
Confia!
Toda a tua vida está escrita e fechada a chave de ouro.
Aqui a
tenho nas minhas mãos...
E
Alexandrina continuou até à hora da morte, abraçada à Cruz, a pedir,
a sofrer a martirizar-se pelos pecadores!
Quanto
lhe devemos!
Pe.
Leopoldino Mateus
3/12/1955
Nota
– Quando o Pe. Leopoldino fala da “representação dirigida ao Sr. Dr.
António Pires de Azevedo Loureiro, Desembargador-Provisor e por
ausência do Governador, Vigário Capitular, sede vacante, encarregado
interinamente do governo temporal e espiritual do Arcebispado de
Braga”, está errado. Em Agosto de 1832, o Dr. António Pires de
Azevedo Loureiro deveria estar entre os invasores liberais cercados
no Porto e só tomaria conta do cargo mencionado em1834, à ordem dos
liberais maçónicos. |