Monsenhor Mendes do Carmo, professor do seminário, no seu apreciado
artigo sobre as últimas horas da Doentinha de Balasar, afirmou que
todos os que de perto conheceram a Alexandrina sabiam que ela era
uma apaixonada sublime da Eucaristia.
Poucas
pessoas conheceram tão de perto a saudosa extinta como o pároco que,
durante bastantes anos, lhe administrou diariamente a Sagrada
Comunhão, saindo de junto de seu leito de sofrimento verdadeiramente
edificado pela compostura, recolhimento, fervor e amor com que
recebia o Pão Eucarístico, que era toda a vida da sua alma, o
conforto nas dores e a coragem nas angústias que tantas vezes a
torturaram.
Tudo
sofria pelo bem das almas e em reparação das ofensas dos inimigos de
Deus. Aceitava de bom grado a cruz das tribulações para confortar o
seu Jesus sobrecarregado com as iniquidades e misérias morais da
humanidade, que Ele antevira na oração da agonia no Horto de
Getsémani, que tanto o afligira que chegou a suar sangue. Quem a
incitava a este espírito de sacrifício tão heróico e tão
privilegiado? A paixão que a Eucaristia acendia no seu coração
adornado de preciosas virtudes.

Ela não
ia à igreja desde o início do seu martírio, mas interessava-se por
tudo o que se relacionava com o brilho dos actos de culto.
Conseguiu a aquisição de um terno de paramentos brancos, com capa de
asperges e véu de ombros branco, para as festas, paramentos para as
missas rezadas aos domingos, uma artística lâmpada para ser colocada
diante do Santíssimo Sacramento, pálio para as procissões e umbela
para as comunhões aos doentes e entrevados, sendo esta estreada numa
das conduções solenes da sagrada píxide à sua casa onde recebia o
Pão dos Anjos com tão boas disposições.
Adquiriu para a igreja o altifalante para acompanhar mentalmente o
Santo Sacrifício da Missa, escutar as homilias do seu pároco, as
leituras e cânticos das horas de adoração. Durante este tempo, não
falava para pessoa alguma, recolhia-se em meditabundo silêncio no
santuário da sua alma, pensando nas verdades ouvidas e acompanhando
os louvores de Deus, a quem tanto amava.
Ela
vivia para o seu Jesus, amor da sua alma, porque, segundo a palavra
autorizada de S. Tomás de Aquino, é pela Sagrada Comunhão, recebida
com as disposições requeridas, que a nossa alma se pode manter
permanentemente na graça e amizade de Deus. A Eucaristia é amor e
consequentemente penhor de salvação, pois o que ama verdadeiramente
não pode deixar de tudo fazer bem visto que é o amor o único motor
que a isso nos impele; ama e faz o que queres, diria o Apóstolo São
João.
Quem
durante a vida recebe frequentemente em seu coração este Hóspede
Divino, este penhor de resgate das almas, não pode deixar de lhe
permanecer fiel até à morte.
E por
este motivo sentia, como S. Tomás de Aquino, no momento de levantar
voo da terra para o Céu, indizível alegria – Alexandria sorria-se ao
receber a Extrema-unção – porque quem tem na vida a ventura de ter
por companheiro a Jesus Sacramentado tem, no momento da morte, plena
convicção de que Ele Não pode deixar de ser o seu Viático e
inseparável companheiro na viagem do mundo para a eternidade.
A
última e mais valiosa prenda que ela ofereceu ao templo paroquial
foi um rico cofre-sacrário para guardar as Sagradas Hóstias e tanto
afecto lhe consagrava que não pôde deixar de escrever nas suas
últimas disposições: “quero ser enterrada – se puder ser – de rosto
virado para o sacrário da nossa igreja. Assim como na vida anseio
estar junto de Jesus Sacramentado e voltar-me para o sacrário as
mais vezes possíveis, quero, depois da minha morte, continuar a
velar o meu sacrário e manter-me voltada para ele.
Sei que
com os olhos do corpo não vejo o meu Jesus, mas quero ficar assim
para melhor provar o amor que tenho à Divina Eucaristia”.
Voltado
para o Sacrário, estava o seu corpo durante os ofícios fúnebres e na
mesma posição continua sepultado no cemitério.
Sim, a
Alexandrina era uma apaixonada sublime da Eucaristia!
Pe.
Leopoldino Mateus
19/11/55 |