As
festas dos Santos são geralmente o aniversário da morte, isto é, do
nascimento à vida eterna.
São
João Batista faz excepção desta regra, pelo motivo de ter vindo ao
mundo em estado de santidade, isento
da
lei do pecado original. Sabemos que seu nascimento foi um
acontecimento extraordinário, acompanhado de fatos igualmente
extraordinários, como o relatam os santos Evangelhos. A narração
bíblica do nascimento do Precursor de Jesus Cristo, feita sob a
inspiração do Divino Espírito Santo, é tão clara e circunstanciada,
que não há mister acrescentar coisa alguma.
Em
Hebron, nas montanhas da Judeia, oito milhas além de Jerusalém,
vivia um casal — Zacarias e Isabel. Ambos justos diante do Senhor.
Não tinham filhos, o que muito os afligia, e eram já idosos.
Zacarias, sacerdote, um dia em que estava desempenhando seu
ministério no templo de Jerusalém, entrou no santuário para queimar
o incenso, enquanto o povo orava no adro. Apareceu-lhe então, à
direita do altar dos perfumes um Anjo. Zacarias ficou atónito. O
Anjo, porém, lhe disse: “Não temas Zacarias, porque Deus ouviu a
tua oração. Tua mulher dar-te-á um filho, a quem darás o nome de
João. Grande será a tua alegria e muitos se regozijarão pelo
nascimento do menino, porque será grande diante do Senhor. Não
beberá vinho, nem bebida alguma fermentada, e será cheio do Espírito
Santo. Reconduzirá os filhos de Israel, em grande número, a Deus.
Ele próprio o precederá em espírito e com o poder de Elias, a fim de
preparar ao Senhor um povo perfeito”.
Zacarias disse ao Anjo: “Como saberei com certeza que isso vai
acontecer? Já estou velho e minha mulher já vai adiantada em anos”.
Respondeu-lhe o Anjo: “Eu sou Gabriel e meu lugar é diante de Deus.
Ele é que me manda trazer esta feliz nova. Mas como não deste
crédito a estas minhas palavras, ficarás mudo, até o dia em que tudo
isto se cumprir”. Fora, o povo se admirava da longa demora de
Zacarias no santuário. Afinal este saiu, sem poder falar. Por sinais
deu a compreender que tivera uma visão. Acabando os dias do serviço,
foi para casa.
Tudo o que o Anjo predissera se cumpriu ao pé da letra. Seis meses
depois, o mesmo Anjo Gabriel foi mandado por Deus à cidade da
Galileia, chamada Nazaré, a Maria Santíssima, para lhe comunicar que
tinha sido escolhida para ser Mãe do Salvador. Disse-lhe também que
sua prima Isabel, apesar de idosa e estéril, tinha concebido um
filho, “porque a Deus nada era impossível”. Maravilhada pelos
acontecimentos extraordinários, cheia de gratidão a Deus, que
operara coisas tão maravilhosas, Maria pôs-se a caminho e,
pressurosa, foi à casa da prima. Esta, ouvindo a voz de Maria, ficou
cheia do Espírito Santo e exclamou:
“Bendita sois entre as mulheres e
bendito é o fruto do vosso ventre! De onde me vem a felicidade de
ser visitada pela Mãe do meu Senhor?
"Logo que chegou a meus ouvidos a voz da vossa saudação, o menino
saltou de prazer no meu ventre! Bem-aventurada sois por teres
criado! Pois tudo que vos foi dito da parte do Senhor, se
realizará”.
É
opinião unânime dos Santos Padres, que os sinais de prazer que João
deu, antes do nascimento, foram causados pelo fato do Precursor,
por uma graça especial de Deus, ter conhecido a presença do Senhor e
lhe haver prestado homenagem de adoração. Dizem mais, que ao mesmo
momento, teria João sido santificado, como o Anjo prometera.
Chegada
a época, Isabel deu à luz um filho. Sabendo os vizinhos e parentes
desse grande favor, que lhe fizera Deus, correram todos jubilosos a
felicitá-la.
No oitavo dia se reuniram para a circuncisão da criança e
propuseram, que lhe fosse dado o nome do pai. A mãe, porém, opôs-se
e disse: “Não; deve chamar-se João”. Disseram-lhe: “Mas,
na tua família não há pessoa desse nome”. Isabel, porém,
insistiu que ao menino fosse dado o nome de João. Então, fizeram
sinal ao pai, para que manifestasse a sua opinião. Zacarias pediu
uma tabuinha para escrever e escreveu: “João é o seu nome”.
Ficaram todos admirados. No mesmo instante desatou-se-lhe a língua e
Zacarias falou, bendizendo a Deus. Cheio do Espírito Santo, entoou
um dos cantos mais belos que a liturgia conhece, e que faz parte do
Ofício que os sacerdotes da Igreja diariamente oferecem a Deus — “Bendito
seja o Senhor de Israel, porque visitou seu povo e o resgatou.
Suscitou um Salvador poderosos, na casa de seu servo David, como
tinha prometido por boca dos profetas...” E dirigindo-se ao
filhinho, disse: “E tu, ó
menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás ante a face
do Senhor, preparar-Lhe os caminhos...”
Tendo
ciência desses acontecimentos, toda a região vizinha se impressionou
e por toda a parte, nas montanhas e nos vales da Judeia, se contava
estas maravilhas e cada qual dizia: “Que será um dia deste
menino?” De facto, a mão do Senhor estava com ele.
Alguns
dos Santos Padres são de opinião, que Isabel procurou com o filhinho
o deserto, para salvá-lo da perseguição e crueldade de Herodes.
Outros dizem que João, tendo apenas cinco anos, levado pelo Espírito
Santo, foi para o deserto, com o intuito de santificar-se ainda mais
e preparar-se para a alta missão que Deus lhe dera. Os Santos dos
Evangelhos dizem-nos alguma coisa sobre a vida de São João no
deserto. Trajava vestes de pele de camelo, cingidos os rins com
cintura de couro, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.
Levava uma vida de oração e de penitência. Diz Santo Agostinho que
em João o mundo, pela vez primeira, teve o exemplo mais tarde
imitado pelos eremitas. “Que saístes a ver no deserto?” — perguntou
Jesus Cristo às turbas. “Uma cana agitada pelo vento? Mas, que
saístes a ver? Um homem regaladamente vestido? Eis os que se vestem
com regalo, estão nos palácios dos reis. Mas, que saístes a ver? Um
profeta? Sim, digo-vos, e mais que profeta. Porque este é aquele do
qual está escrito: eis que eu envio meu Anjo diante de ti, que
preparará teu caminho. E eu vos declaro: Que entre os nascidos de
mulher, não há maior profeta que João Batista”. Essas palavras
do Divino Mestre contém o maior elogio que o homem jamais recebeu, e
são equivalentes a uma formal canonização, a única que o Filho de
Deus em vida pronunciou.
Tendo
trinta anos de idade, recebeu São João ordem divina para sair do
deserto e encetar sua missão, que era de pregar os caminhos ao
Messias. João Batista percorreu toda a região do Jordão pregando o
baptismo de penitência, para a remissão dos pecados. Vieram, então,
de Jerusalém e de toda a parte da Judeia, grandes turbas. Todos se
faziam baptizar por ele no Jordão, confessando os seus pecados.
Os
santos Evangelhos contam minuciosamente o que ele pregou, que
conselho deu às pessoas que o procuravam, entre estas aos soldados;
falam da grande graça que teve, de receber a visita de Nosso Senhor,
que quis por ele ser baptizado e naquela ocasião o Espírito Santo
desceu visivelmente, pairou sobre Jesus Cristo e ao mesmo tempo se
ouviu do céu uma voz: “Este é meu Filho muito amado, em quem pus
minha complacência”. Lemos ainda com que amor e dedicação
trabalhou pelo advento do Reino de Deus, dando testemunho de Jesus
Cristo: “Eu baptizo na água, para a penitência; mas vem outro,
que é mais poderoso que eu, e de quem não sou digno de desatar as
correias das sandálias; ele vos baptizará no Espírito Santo e no
fogo. Ele têm a joeira na mão e vai limpar sua eira. Ajuntará o
trigo no celeiro e queimará a palha no fogo, que não se apaga
nunca!” Em certa ocasião os Judeus de Jerusalém mandaram tratar
com João uma comissão, composta de sacerdotes e de levitas, que lhe
perguntaram: “Quem és tu? Por que baptizas, se não és nem o
Cristo, nem Elias, nem profeta?”. João respondeu-lhes: “Eu
baptizo em água; mas no meio de vós está alguém que não conheceis. É
ele que deve vir depois de mim e não sou digno de desligar as
correias das suas sandálias”.
No dia
seguinte, diz o Evangelista, João viu aproximar-se Jesus e disse:
“Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”. Com essas
palavras foi apresentado ao mundo o Messias, como tinha profetizado
Isaías.
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