Imaculado Coração de Maria
A festa
litúrgica do Coração de Maria passou por muitas vicissitudes. De
acordo com a história, houve primeiramente uma devoção privada
ininterrupta, que não chegou a formas públicas oficiais.
Efectivamente,
a primeira festa litúrgica do Coração de Maria foi celebrada a 8 de
Fevereiro de 1648, na diocese de Autun (França). Em 1864, alguns
bispos pedem ao Papa a consagração do mundo ao Coração de Maria,
aduzindo como justificativa e motivo a realeza de Maria.
O
pedido decisivo partiu de Fátima e do episcopado português, após ter
sido pedido por Jesus à Beata Alexandrina, em Balasar desde
1935. Importante notar igualmente que o documento enviado de Fátima
para pedir ao Papa esta consagração foi redigido pelo sacerdote
Jesuíta Padre Mariano Pinho, então Director espiritual da
Alexandrina Maria da Costa, de Balasar.
É bom
saber, para que a história seja fiel aos acontecimentos, que a
Beata Alexandrina de Balasar, tinha ela mesma escrito ao Santo
Padre fazendo esse pedido, como consta no documento oficial da
beatificação, que diz o seguinte:
«No ano de 1936 [Alexandrina]
pediu ao Sumo Pontífice a Consagração do mundo ao Imaculado Coração
de Maria, o que fez Pio XII no dia 31 de Outubro de 1942.»
Inesperadamente, a 31 de Outubro de 1942, Pio XII, na sua mensagem
radiofónica em português, consagrava o mundo ao Coração de Maria. O
Papa Paulo VI, a 21 de Novembro de 1964, ao encerrar a terceira
sessão do Concílio Vaticano II, renovava, na presença dos padres
conciliares, a consagração ao Coração de Maria feita por Pio XII.
Mais recentemente, João Paulo II, no fim de sua primeira encíclica,
“Redemptor Hominis” (4 de março de 1979), escreveu um significativo
texto sobre o Coração de Maria. Ao tratar do mistério da redenção
diz o Papa: “Este mistério formou-se, podemos dizer, no coração da
Virgem de Nazaré, quando pronunciou o seu “fiat”. A partir de tal
momento, este coração virginal e ao mesmo tempo materno, sob a ação
particular do Espírito Santo, acompanha sempre a obra do seu Filho e
dirige-se a todos os que Cristo abraçou e abraça continuamente no
seu inesgotável amor. E por isso este coração deve ser também
maternalmente inesgotável. A característica deste amor materno, que
a mãe de Deus incute no mistério da redenção e na vida da Igreja,
encontra sua expressão na sua singular proximidade do homem e de
todas as suas vicissitudes. Nisso consiste o mistério da mãe”.
A
Exortação Apostólica “Marialis cultus” (2/2/1974), do Papa Paulo VI
inclui a memória do Coração Imaculado da bem-aventurada Virgem Maria
entre as “memórias ou festas que ... expressam orientações surgidas
na piedade contemporânea”, colocando-a no dia seguinte à solenidade
do Sacratíssimo Coração de Jesus.
Essa
aproximação das duas festas (Sacratíssimo Coração de Jesus e
Imaculado Coração de Maria) faz-nos voltar à origem histórica da
devoção: na verdade, São João Eudes, nos seus escritos, jamais
separa os dois corações. Aliás, durante nove meses, a vida do Filho
de Deus feito carne pulsou seguindo o mesmo ritmo da vida do coração
de Maria. Mas os textos próprios da missa do dia destacam mais a
beleza espiritual do coração da primeira discípula de Cristo.
Ela, na
verdade, trouxe Jesus mais no coração do que no ventre; gerou-o mais
com a fé do que com a carne! De acordo com textos bíblicos, Maria
escutava e meditava no seu coração a palavra do Senhor, que era para
ela como um pão que nutria o íntimo, como que uma água borbulhante
que irriga um terreno fecundo. Neste contexto, aparece a fase
dinâmica da fé de Maria: recordar para aprofundar, confrontar para
encarnar, reflectir para actualizar.
Maria
nos ensina como hospedar Deus, como nutrir-nos com o seu Verbo, como
viver tentando saciar a fome e a sede que temos dele. Maria
tornou-se, assim, o protótipo dos que escutam a palavra de Deus e
dela fazem o seu tesouro; o modelo perfeito dos que na Igreja devem
descobrir, por meio de meditação profunda, o hoje desta mensagem
divina. Imitar Maria nesta sua atitude quer dizer permanecer sempre
atentos aos sinais dos tempos, isto é, ao que de estranho e de novo
Deus vai realizando na história por trás das aparências da
normalidade; em uma palavra, quer dizer reflectir, com o coração de
Maria, sobre os acontecimentos da vida quotidiana, destes tirando,
como ela o fazia, conclusões de fé. |