Satanás é o anjo do
mal, o rei da mentira e o usurpador mais feroz dos bens divinos dos quais, em
todas as ocasiões ele procura apoderar-se, por todos os meios possíveis e, os
seus meios e poderes são importantíssimos.
Expulso do Paraíso
por Deus por não querer submeter-se às leis do seu Criador, ele procura
vingar-se desta expulsão procurando chamar a ele o maior número possível de
almas que, servindo-o já neste mundo, irão gozar, não a glória eterna na Mansão
celeste, mas o fogo eterno, “onde só há dor e ranger de dentes”.
Todas as almas são
por ele atacadas : umas mais do que outras, segundo os desígnios de Deus, mas as
almas predestinadas, aquelas que de antemão o Senhor escolheu para o
servirem ― como a Alexandrina de Balasar ― essas são ainda mais atormentados
pelo espírito mau, pelo “palhaço de Deus”, que muitas vezes se veste como
anjo de luz, para melhor iludir as almas desprevenidas e levá-las ao pecado.
Alexandrina sofreu
muito com os ataques diabólicos, com a fúria infernal.
No Diário de 26 de
Outubro de 1944, ela fala, ao iniciar este, desses ataques violentos e
ameaçadores : “Durante a noite tive com o demónio um violento combate”.
E que lhe diz ele ?
“Tantas coisas feias, tantos gestos e ameaças e convites para o mal,”
porque ele mesmo é a “personificação” do mal, o “agente” do pecado.
Os efeitos da sua
presença são geralmente perceptíveis às almas mais “afinadas” na vida
espiritual. Mesmo se a Alexandrina confessa desconhecer o que ele punha na sua
alma, ela conhece e sente as consequências das manhas atrevidas por ele
utilizadas : “Parecia era a minha alma tinha desejos de pecar e que os meus
lábios pronunciavam : quero pecar, troco à Céu, troco Jesus pelos prazeres,
pelos gozos do mundo”.
Mas, entre ser
tentado e pecar a distância é grande e, se o amor a Deus é mais forte em nós do
que o desejo do mal, a vitória está ao alcance que cada alma. Basta saber que,
como diz a Beata Alexandrina, “isto eram manhas do demónio ; Jesus bem sabia
que eu não queria pecar”.
Um dos maiores
entraves a acção diabólica é a Virgem Maria, que recebeu a missão divina de lhe
esmagar a cabeça. Recorrer à Mãe de Deus nas horas de maior luta contra o
inimigo mordaz, é ter a certeza da vitória, é ter a certeza de alcançar d’Ela a
protecção e a força necessárias para vencer.
Assim procedia a
“Doentinha de Balasar” : “Mãezinha, guardai-me, valei-me, oferecei-me a Jesus
como vítima. Dizei-lhe que não renuncio aos sofrimentos, mas que renuncio ao
pecado. Pecar, não ; amar-vos, sim ! Amar-vos a Vós, amar a Jesus !”
Teimoso, o diabo
pediu-lhe mesmo que o beijasse : “O maldito, no meio de horríveis coisas,
convidava-me a que o beijasse”. Mas a Alexandrina, redobrando de santa
vitalidade e de forças vindas do alto, começou a enviar beijos a Maria e a
pedir-lhe que dissesse a Jesus, seu bendito filho, que era só d’Ele, que só Ele
amava e só a Ele se oferecia como vítima.
Vendo perdida a sua
luta, o demónio tentou ainda empregar outro estratagema : afirmar-lhe que tinha
mesmo pecado e que por isso estava contente. Assim o explica Alexandrina : “O
demónio retirou-se mostrando-se contente por me ter levado ao ponto que desejava
e afirmava-me eu ter pecado gravemente”.
Jesus vem então e,
para que a sua esposa não só descanse, mas tome força para novas batalhas,
convida-a a repousar em seus braços e propõe-lhe depois o seu Sangue divino como
bebida e alimento da sua alma : “Sacia a tua fome, sacia a tua sede, recebe o
meu Sangue que é a tua vida, o teu alimento”.
Alexandrina explica
como esta “transfusão” extraordinária se passou : “Chegou aos meus lábios o
seu Sangue divino, deu-mo a beber por algum tempo. Depois senti o meu coração e
peito aberto, e dentro em mim caía uma chuva de sangue”.
Faz depois este
comentário : “Bendito seja o amor de Jesus, benditas sejam as suas invenções
para salvar as almas !”
* * * * *
Durante a noite
tive com o demónio um violento combate. Meu Deus, tantas coisas feias, tantos
gestos e ameaças e convites para o mal ! Não sei o que ele punha em minha alma,
não sei das manhas de que ele se servia, o que me parecia era a minha alma tinha
desejos de pecar e que os meus lábios pronunciavam : quero pecar, troco à Céu,
troco Jesus pelos prazeres, pelos gozos do mundo. Isto eram manhas do demónio ;
Jesus bem sabia que eu não queria pecar. Mãezinha, guardai-me, valei-me,
oferecei-me a Jesus como vítima. Dizei-lhe que não renuncio aos sofrimentos, mas
que renuncio ao pecado. Pecar, não ; amar-vos, sim ! Amar-vos a Vós, amar a
Jesus ! O maldito, no meio de horríveis coisas, convidava-me a que o beijasse.
Então redobrei de forças e atirava beijinhos para a Mãezinha e dizia-lhe :
— Dai-os a Jesus e
levai-os por mim aos sacrários.
Procurava entrar em
mim o mais intimamente possível e aí beijar o Pai, o Filho e o Espírito Santo,
rico tesouro que possuo. O demónio retirou-se mostrando-se contente por me ter
levado ao ponto que desejava e afirmava-me eu ter pecado gravemente. Apesar dos
meus esforços para não ofender o meu Jesus, fiquei triste e duvidosa. Unidinha
aos sacrários, mas envergonhada diante de Jesus. Queria acreditar nas palavras
de quem me dirige, que não pecava, e custava-me a acreditar. Eram quatro horas
da manhã e eu desfalecidíssima preparava-me para a visita de Jesus. Ele não
esperou que eu o recebesse, veio consolar-me antes. Chamou-me :
― “Minha filha,
vem para os meus braços. Deixa a tua cruz, descansa em mim, toma conforto”.
Senti que Jesus me
desprendeu da cruz, via-a separada de mim : era grande. E eu então sentia-me nos
braços de Jesus, estreitada por Ele ao seu divino Coração. Ao ouvir que Ele me
dizia :
― “Sacia a tua
fome, sacia a tua sede, recebe o meu Sangue que é a tua vida, o teu alimento.
Estou em ti como Rei no palácio do teu coração. Venho a ti como esposo fiel e
cheio de amor. Venho a ti como Pau cheio de doçura, ternura e compaixão”.
Chegou aos meus
lábios o seu Sangue divino, deu-mo a beber por algum tempo. Depois senti o meu
coração e peito aberto, e dentro em mim caía uma chuva de sangue. Jesus
dizia-me :
― “Recebe, é o
Sangue das minhas veias. Toma coragem, enche-te de mim para levares a tua cruz.
Se soubesses o bem que estás aqui a fazer às almas, morrerias de pasmo. Confia
nas palavras de quem te dirige. Não me ofendes ; confia nas palavras afirmativas
do teu Jesus, que valem mais do que uma jura. Confia, confia ; não me ofendes,
não posso consentir que me ofendas”.
Dito isto,
estreitou-me de novo forte e docemente. De novo fiquei na cruz de pés e mãos
cravadas e a cabeça bem penetrada de agudos espinhos inclinada bem firme sobre a
cruz. Pouco depois, comunguei ; não senti novos alívios. Passei o dia abraçada à
cruz. Ai, quantas recordações tristes ! Quantas amarguras e torturas de alma !
Quantas ânsias de amar o meu Jesus ! Quantos pensamentos ! Eu só queria quem me
ensinasse a amá-lo ! A chuva de sangue vinda do alto continua a cair sobre o
cemitério, mas já não encontra cinzas para lavar : tudo desapareceu. Bendito
seja o amor de Jesus, benditas sejam as suas invenções para salvar as almas ! »
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