No
seu Diário (Sentimentos da alma) de 28 de Fevereiro de 1945 — uma
sexta-feira — a Alexandrina conta-nos uma conversa que ela teve com
Jesus a respeito da salvação das almas.
Jesus começa por lhe dizer que se sente bem no seu coração puro e
humilde, que Ele diz ser um “trono de Rei”, mas qui aí está presente
a Santíssima Trindade, porque o seu coração de esposa tem “encantos
e belezas de tão variadas flores, de perfumes atraentes”, mas que
ela só poderá aperceber-se disso na eternidade.
Jesus afirma-lhe que o sofrimento dela é poderoso e que a sua missão
é bela.
Alexandrina parece envergonhada depois destas declarações do Senhor
e responde com a sua humildade habitual, que se assim é, não é por
ela que nada vale, que “está sempre caída” e que “não sofre com
perfeição”, mas que é Jesus que vive nela e que sofre nela. E uma
vez mais ela se oferece como vítima das almas.
São
indizíveis os sofrimentos da Alexandrina… mas ela não se cansa de
tudo oferecer ao Senhor por todos os pecadores, sobretudo pelos mais
obtusos…
A
uma pergunta de Jesus — “não querias tu, Minha filha, sofrer tudo
isto só para salvares uma só alma?” — a sua resposta é
verdadeiramente a de uma alma-vítima: “Meu Jesus, perdoai a todos.
Eu não Vos digo que eles Vos amem como eu Vos amo, mas sim como
desejo amar-Vos”.
Mais
adiante Jesus mostra-se-lhe tendo nas mãos uma balança, aquela que
serve para pesar os pecados do mundo. Uma vez mais a Alexandrina vai
mostrar a sua abnegação e o seu desejo sincero de ver salvas todas
as almas. Ela não vai procurar equilibrar os dois pratos da balança,
mas fazer levantar o prato onde estão os pecadores que ela quer
salvar… e que serão salvas graças aos seus sofrimentos livremente
aceites.
Depois, como para a recompensar por este acto heróico, Jesus abra o
seu divino peito e dele extrai o seu Coração que sem tocar o da
Alexandrina, nele deixa cair uma gota de sangue, “para alimento da
alma e do corpo” da “doentinha de Balasar”.
***
― Minha
filha, em trono de Rei estou Eu em teu coração, e sou, na verdade,
Rei e Senhor de todo o teu ser. Sou teu esposo fiel, mas não estou
só, está comigo o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Dizer-te a Nossa
consolação, como estamos aqui deliciados com os encantos, com as
belezas de tão variadas flores, de perfumes atraentes é escusado; só
à vista clara da luz divina, da luz eterna, numa visão beatífica, o
poderás compreender. Fui Eu que rasguei, que rompi as muralhas, onde
estavas encerrada. O seu significado é aquele: quando pela Minha
morte resgatei as almas; resgatei-as do pecado, e deixei-as em plena
liberdade de entrarem no Céu. Há nos teus sentimentos de alma tantos
significados, tantas lições que Eu queria que aprendessem! São
provas tão claras de em tudo te assemelhar a Mim. Tu na continuação
da Minha obra resgatadora com a tua dor rompes os cárceres, as
muralhas em que as almas estão presas pelo pecado. Como é poderoso o
teu sofrer! Como é bela a tua missão!
— Meu
Jesus, dizeis muito bem, se eu soubesse sofrer, com o Vosso poder,
com a Vossa graça rompia tudo, tudo vencia. Mas, ai de mim, estou
sempre caída; não sofro com perfeição! Esmagada com o peso de tantas
humilhações e tanta dor, parece-me que quase ninguém me acredita.
Mais uma vez me entrego a Vós, para ser vítima em Vossas divinas
mãos.
— E não
querias tu, Minha filha, sofrer tudo isto só para salvares uma só
alma! E são tantas, tantas; são milhares e milhões que salvas. Se
soubesses como Me amas e como Me fazes amado! Confia, acredita no
Teu Jesus; e tens tanto quem te acredite! Eu farei que vejam em ti
as Minhas riquezas e maravilhas. Eu farei que aqueles, que te
atormentam, venham a sentir em si horríveis remorsos.
― Meu
Jesus, perdoai a todos. Eu não Vos digo que eles Vos amem como eu
Vos amo, mas sim como desejo amar-Vos. Que todos se enlouqueçam por
Vós, como eu queria enlouquecer-me. Jesus, meu Amor, quanto mais Vos
digo mais queria dizer-Vos, mais ânsias tenho e amor, mais vazia me
sinto, mais queria possuir-Vos. E não vos amo, não Vos amo, meu
Jesus.
― Amas,
amas, Minha louquinha. Não viste, quando, ontem, te conduzi ao
Horto, aquela alma que subiu acima de todas as almas, entrou em Meu
lado e foi beber ao Meu Divino Coração? Fui Eu que te quis mostrar;
eras tu mesma. Não és igualada nem na dor, nem no amor. Salvas com a
dor, salvas com o amor. Tens em ti o poder de Jesus.
― Quanto me custa isso, que me dizeis, só Vós o sabeis, Senhor. Eu
não sou digna de tão grande prova de amor; eu não sou digna que
tanto baixásseis até mim... Eu bem senti, meu Jesus, como se fosse
eu mesma que subi e entrei, à frente de todas as almas, mas não o
disse quando há pouco ditei os sentimentos d’alma. Que vergonha, que
confusão; não pude dizê-lo! Como eu me sentia miserável!
― É
assim mesmo, esposa querida, pequenina, escondida, como a violeta
entre a sua folhagem. Quero-te pequenina, para mais brilhares entre
a folhagem das minhas maravilhas. Quanto mais pequenina, mais
poderosa. Minha filha, tenho tantas almas em perigo. O peso dos seus
crimes levou ao fundo o prato da balança; se lhes não acodes, caem
no inferno. Queres salvá-las com a tua dor?
Vi
Jesus com a balança em Suas mãos divinas, um prato em baixo outro em
cima, um com tudo outro com nada. Bradei logo:
― Jesus, temo os sofrimentos, mas quero-os. E o que virá ainda!
Antecipai-me o valor do sofrimento, como por vezes me antecipais a
dor; colocai-o já sobre a balança; sou a Vossa vítima, quero salvar
as almas. O prato, que estava em cima, baixou logo abaixo.
― Pronto, pronto; heróica, heróica! Estão salvas, estão salvas. Que
alegria para o Meu Coração de Pai! Como Médico Divino da tua alma,
vou dar-te uma gota do Meu sangue divino para viveres, para dares
vida, para resistires à dor. É rápida a operação.
Jesus
abriu-me o peito, e, já com o d’Ele aberto, tomou o Seu Coração
divino sem tocar no meu, deixou cair a gota do Seu sangue. O fogo do
meu coração aumentou; ele crescia, dilatava-se por todo o peito.
― Vai,
esposa querida, vai para a tua cruz; leva este amor, leva este
Sangue divino; é de resgate, é de salvação. Tu, a nova redentora das
almas, possuis em tuas veias o Sangue do teu Redentor. Coragem! Leva
a força, leva o amor do teu Senhor.
― Obrigada, obrigada, meu Jesus. Sinto-me queimada por Vós. Sede a
minha força. (S. 28-02-1945) |