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Alexandrina Maria da Costa
Eugénia e Chiaffredo Signorile
Tradução Prof. José Ferreira

FILHA DA DOR MÃE DE AMOR

INTRODUÇÃO

A presença da Alexandrina na Igreja impõe-se sempre mais. Mas impõe-se como paradoxo e como desafio. Encarnam nela, como transparência de Cristo, a beatitude na pena, a liberdade na obediência, a alegria na dor, a Vida na Morte. Alexandrina é humilde, puríssimo ícone do Crucificado e Ressuscitado Senhor que ama. Por isso, a jovem de Balasar é uma presença e uma «memória perigosa, mas necessária», pelo Dom que é para a Igreja, pela representação – na sua carne e no seu espírito – do Amor que nos envolve a todos no Mistério da Páscoa de Salvação.

O paradoxo evangélico está aqui: a alegria da cruz. Mas porquê? Porque é a alegria do Amor. Alexandrina é como que toda contida nestas duas palavras que delineiam o seu vulto interior, exprimem a sua maturação mística, conformam o seu testemunho evangélico e a sua mensagem eclesial.

Sem dúvida, a Alexandrina não está toda aqui. Ela é uma alma imensa, como o seu céu de Balasar. Mas exactamente neste imenso horizonte de co-redenção destaca-se aquela amorosa e amada cruz que toda reluz e vibra de alegria pascal, a alegria de Cristo que na Alexandrina vive e nela se oferece ao Pai e salva os homens.

«Vós que participais nos sofrimentos de Cristo, alegrai-vos». Este convite apostólico (1ª Pe 4,13) encontra acolhimento na carne e no espírito de Alexandrina, a ponto de colocá-la – por vocação e missão – na onda central da Redenção.

Sim, Alexandrina participou na alegria dos sofrimentos de Cristo. Uma alegria que é reverbero daquela divina paixão de Cristo pelo baptismo de sangue e fogo celebrado na sua Páscoa[1].

Oh, divina paixão de amor de Cristo!

Ao seu coração, aos seus membros tudo pediu o Amor. Pediu as pancadas e os escarros, as mãos perfuradas e o coração trespassado. Não era justo que Cristo padecesse assim, sofresse assim a morte, mas era necessário ao seu Amor[2] para que o ódio e a mentira do mundo fossem transmutados em amor e verdade do homem.

Se a Cruz é a revelação mais alta do Amor, quem ousará sufocar aquela alegria «indizível e gloriosa»[3] que irrompe do coração de Cristo, dos seus discípulos, da Alexandrina? Ela afirma: «Como é feliz a alma que conhece o valor do sofrimento!» Alegria gloriosa, porque gloriosa é a Cruz. E a glória da Cruz é a humildade; é o aniquilamento de Jesus sobre a quem se lançam todos os pecados do mundo e são redimidos.

A alegria na dor. Nenhuma complacência doentia no sofrimento está aqui, mas o admirável paradoxo cristão que parte das profundidades mesmas do Amor de Jesus Cristo e se regenera – para as almas fiéis – na fornalha ardente do Mistério Pascal.

Na linguagem franciscana a alegria é «letícia»: um cambiante de duradoura, suave leveza. E se para Francisco de Assis a «letícia» jorra da pobreza e da humildade[4], na Alexandrina da Costa brotou do coração e do corpo devastado pelas trágicas sequências da paixão de Cristo que revivem nela. Como no santo ita­liano, assim na humilde mulher portuguesa, o martírio dos estigmas é a experiência da alegria mais inebriante.

«O último selo»[5] para Francisco e para Alexandrina é o selo da «alegria dolorosa», do «choro gozoso»[6] de que foi feita participante a criação inteira.

Compreenderemos nós a mensagem da alegria na cruz, da «letícia» no sofrimento, que nos confiam o corpo e a alma de Alexandrina? Basta que não esvaziemos a cruz de Cristo[7]; que não profanemos mesmo só destemperando-a – aquela divina paixão de Amor, aquele fogo que Jesus veio a trazer aos corações para que o mundo arda![8]

Destas páginas de biografia e de biografia espiritual, redigidas com tanto entendimento de amor pelos caríssimos Eugenia e Chiaffredo Signorile, urge ao coração nosso – hoje – o convite apostólico: “Na medida em que participais nos sofrimentos de Cristo, alegrai-vos!” Vós, que no coração e no corpo levais os estigmas dolorosos e gozosos da Vontade do Pai, senti-vos confirmados e abençoados pelo Amor crucificado do Senhor ressuscitado; senti-vos acompanhados pela mão amiga da Alexandrina da Costa e da sua humilde voz – seu programa e nosso empenho: «sofrer, amar, reparar», em co-redenção pascal, em beatitude plena.

 

Frei Franco Fusar Bassini, capuchinho.

Festa do Corpo de Deus de 1989»


[1] No Evangelho de Lucas, no capítulo 12, v. 50, vêm estas palavras de Jesus: «Há um baptismo que eu devo receber; e como estou angustiado enquanto se não cumpre!»
[2] Sempre Lucas, no capítulo 24, v. 26, refere as seguintes palavras que Jesus diz aos dois discípulos no caminho de Emaús: «Não era preciso que Cristo suportasse estes sofrimentos para entrar na sua glória?»
[3] No capítulo primeiro da sua primeira Carta, Pedro, nos versículos 8 e 9, escreve: «… Exultai de alegria indizível e gloriosa, enquanto conseguis a meta da vossa fé, isto é, a salvação das almas.»
[4] S. Francisco assim diz na sua Advertência: «Onde há pobreza com letizia, aí não há cupidez nem avareza»: in Gli Scritti de Francesco e Chiara d’Assisi, Ed. Messaggero Padova, 1987, p. 111.
[5] Por «último selo» entendem-se os estigmas que S. Francisco recebeu no monte da Verna. Na Divina Comédia, Paraíso, Canto XI, veros 106-109, Dante faz dizer a S. Tomás: «Na crua pedra, entre o Tibre e o Arno,/ tomou o último selo de Cristo,/ de que os seus membros durante dois anos foram portadores.»
[6] Estas expressões são de Tomás de Celano, primeiro biógrafo oficial de S. Francisco. Ele refere-as às cotovias, como a entender que toda a criação participa da atitude interior de Francisco, todo absorvido e transformado no Mistério do Senhor crucificado na Verna. Cfr. Tratatto dei Miracoli de Tomás Celano, cap. IV, n. 32, in Fonti Francescane, editada pelo Movimento Franciscano, Assis, 1978, n. 855, p. 756.
[7] S. Paulo na sua Primeira Carta aos cristãos de Corinto, no cap. 1º, v. 17, escreve: «Cristo realmente não me mandou baptizar, mas pregar o Evangelho; não porém com um discurso sábio, para que não seja tornada vã a cruz de Cristo.»
[8] No Evangelho de Lucas, no cap. 12º, v. 49, está escrito: «Vim trazer o fogo à terra; e como queria que ele estivesse já ateado!»

   

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