FESTA DA BEATA ALEXANDRINA
13 de Outubro de 2009

 

D. Manuel Linda em Balasar

“Só vive para Deus quem vive de Deus

Do “Diário do Minho” de 14/10/09, copiamos este óptimo trabalho noticioso sobre a Festa da Beata Alexandrina, do dia anterior.

Centenas de pessoas, entre as quais doentes e idosos, encheram, ontem, a igreja paroquial de Santa Eulália de Balasar, Póvoa de Varzim, para celebrarem a festa litúrgica da Beata Alexandrina, onde se recordava o 54.º aniversário do seu nascimento para junto de Deus.

Presidiu a esta celebração eucarística o Bispo Auxiliar de Braga D. Manuel Linda, sendo concelebrada pelo pároco de Balasar, padre António Loureiro Lopes, pelo vigário paroquial, padre Paulo Sérgio, pelo arcipreste de Vila do Conde/Póvoa de Varzim, padre Manuel Sá Ri­beiro, e outros sacerdotes.

Foi uma celebração cheia de emoção, de fervor e de fé. Diante de uma assembleia tão diversifi-cada e numerosa, respirava-se um profundo clima de oração, de paz, um aroma que, através dos cânticos e da Palavra de Deus, a todos contagiava.

O padre António Loureiro tomou a palavra, no início da celebração, para dar as boas-vindas a todos os devotos da Beata Alexandrina, estendendo as felicitações a D. Manuel Linda, que foi a primeira vez que esteve em Balasar.

Na sua intervenção, o sacer­dote referiu que, através deste dia, dá-se «graças a Deus pela vida e pelo testemunho de vida da querida Beata Ale­xandrina: uma vida apaixonada pela Eucaristia e pela reconciliação; um amor especial pelos sacerdotes; uma vida voltada para os sacrários; no fundo, uma vida com uma espiritualidade marcadamente eucarís­tica. Assim, este santuário reveste-se hoje de festa».

«As rosas brancas, flor muito admirada por ela, e com as quais a igreja estava ontem embelezada, falam-nos da pureza, falam-nos da brancura, falam-nos que a vida, a nossa vida, tem também duas dimensões: a alegria, simbolizada na brancura e no aroma das rosas, e os espinhos que, simbolizam as amarguras, os sofrimentos que a nossa vida de todos os dias nos apresenta. Só o perfume, só o suave odor das rosas, que simbolizam o próprio Deus, são capazes de atenuar os dramas da nossa vida», acrescentou.

As palavras proferidas pelo novo Bispo Auxiliar de Braga, no momento da homilia, foram bastante profundas e convincentes, resumidas a três aspectos:

1) Centralidade eucarística: ligação de Fátima e Balasar. No dia 13 de Outubro, lembramos também todos os pe­regrinos de Fátima; há uma ligação, uma ponte muito gran­de entre Balasar e o Altar do Mundo. Lembremos a aparição do Anjo com o cálice e a hóstia consagrada, convidan­do à adoração. Em Tui, Lúcia recebe a visão de Jesus Cristo. Isto para dizer que a mensagem de Fátima começa e ter­mina com a Eucaristia.

A Beata Alexandrina exemplo disso: não tinha força física, não tinha grande saúde, mas deixou-se fortalecer com a força de Deus, através da Eucaristia; uma vida somente a partir de Deus, chegando ao extremo de se alimentar ape­nas da Eucaristia.

Verifica-se, hoje, um afrouxa­mento da prática religiosa. Deixando-se a Eucaristia, deixa-se o mistério de Deus e fica apenas o dormir, o comer, ou seja, meramente humano.

Neste momento da sua reflexão, D. Manuel Linda deixou um desafio-compromisso a todos os presentes: que daqui até ao Natal, cada um de nós fosse capaz de trazer um nosso irmão que, em alguma fase da sua vida, abandonou a prática da Eucaristia, orientando-o, propondo as nossas ideias e os nossos ideais cristãos, mas nunca impondo, pois só vive para Deus quem vive de Deus.

2) Dimensão missionária da vida de Alexandrina. Habituada a dar tudo, Alexandrina chega mesmo a oferecer a sua saúde. No seu coração cabem todas as intenções do mundo, quem vive de Deus sente pena daqueles que não vivem de Deus. Há vizinhos nossos em que esta situação acontece. Há pessoas que conhecem Cristo, mas nunca tiveram com Ele uma experiência de intimidade, nunca se deixaram ena­morar por Ele.

Mês de Outubro, mês das missões: impulso a que todos os cristãos estão chamados, este amor que cada um deve dedicar para com aqueles que ainda não conhecem Cristo, tal como foi a vida e o testemunho de Alexandrina que, embora "presa" na sua cama, a quem a visitava deixava sem­pre uma palavra de estímulo, coragem, fé, profunda oração e sintonia com o sentimento de Jesus Cristo, que a ninguém deixava indiferente.

3) Mentalidade dominante. Aparentemente, a nossa sociedade não rejeita de forma expressa as pessoas que não têm saúde ou que já são mais idosas. Contudo, começa a estabelecer-se a ideia de que os jovens são os únicos que con­tribuem para a sociedade. Esta ideia é perigosa pois valorizam-se os que estão no auge da vida e desprezam-se os doen­tes e as pessoas de mais idade. Não pode passar por aqui a mensagem de Deus, da Igreja, pois Deus ama a todos, todos somos criados à Sua imagem e semelhança. Uma sociedade que não reconhece a todos de igual modo, é uma sociedade perigosa.

Com Alexandrina não se verificou isso. Balasar é uma terra histórica. Doentinha, Alexandrina levou tão longe o nome desta paróquia, muito mais do que os grandes ilustres desta terra do seu tempo, por quem aos olhos do mundo não davam "10 reis”.

Aos olhos de Deus todos somos iguais. A contabilidade de Deus é diferente da nossa, pois diante de Deus, tal como foi a vida de Alexandrina, aqueles que pensam que nada fazem são os que fazem mais, e isto mesmo se passa no campo da evangelização.

A Beata Alexandrina é um exemplo acabado do que é viver a partir de Deus e não das nossas próprias armaduras. A nossa vida não tem sentido fora da vida em Jesus Cristo, celebrada na Eucaristia.

D. Manuel Linda terminou a sua bela e profunda reflexão com um excerto de um dos escritos de Alexandrina em 1942-43: «Anseio viver a vida de Jesus, ser sua, só sua. A Ele me entreguei. É neste abandono que me deixo levar por alguém em quem sei que posso confiar. Vou com confiança. Vou em segurança. A vida que me leva é sábia, tem força, tem poder infinito».

Após a Comunhão procedeu-se à bênção do Santíssimo Sacramento a todos os doentes presentes. Momento de intenso silêncio e emoção. Este Jesus a que os presentes foram convidados a adorar e que os convidava: “Vinde a mim todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei; o meu jugo é suave a minha carga é leve”.

Neste clima de oração e de festa, Balasar homenageou D. Manuel Linda com um ramo de flores. Agradecendo este gesto, o Bispo Auxiliar de Braga disse que consagrava e confiava o seu ministério episcopal à Beata Alexandrina, pedindo-lhe que fizesse crescer nele o fervor e a paixão pela Eucaristia. E, como sinal disso, foi seu desejo deixar o ramo de flores junto do túmulo da Beata, acompanhado pela sua oração. 

Padres António Loureiro e Paulo Sérgio