6 de
Abril de 1945 – Sexta-feira
Continua em mim o edifício mundial e os desejos, ânsias de amor e
pureza. Quero o mundo em fogo de amor, em pureza de corpo, alma e
coração. Levanto os meus olhos ao céu e brado muitas vezes:
— Que
fazer a isto, meu Jesus? O que posso fazer para que o mundo inteiro
se purifique, arda e só viva o Vosso amor divino?

Com
estas ânsias saí da prisão, percorri muitos caminhos, abraçando
fortemente a minha cruz; amava com todo o amor os espinhos que toda
a minha cabeça cercavam. Do capacete de espinhos saía um capacete de
sangue, corria pelo meu corpo, regava a terra. Sentia que a Mãezinha
andava louca à minha procura, ou melhor, à procura do Seu Jesus.
Rompia por entre as multidões a ver onde O poderia encontrar. O Seu
santíssimo Coração estalava, desfazia-se em dor e fazia estalar e
desfazer O de Jesus. Em momentos deste sofrimento, veio o demónio
aumentá-lo ainda mais. Atormentou-me ao máximo.
— Ao
prazer vais tu; pecar, pecas sem remédio. Deus não existe, porque,
se Ele existisse, salvação não tinhas: tal é a maldade dos teus
actos. Serve-me, adora-me, prostra-te diante de mim.
Eu
parecia-me dizer: “não quero Jesus, não quero a Mãezinha”.
Que
aflição a minha! Consegui dizer muitas vezes: “Jesus, Jesus, não
quero pecar”. Quando eu dizia isto, parecia-me já ter pecado e muito
gravemente. Senti a dor de que já muitas vezes tenho falado.
Parece-me que esta dor não pode ser humana, tal é a sua agudeza;
parece tirar a vida. Será a dor que causamos a Jesus com as nossas
maldades? Jesus veio dar-me a vida, perdida por essa dor.
— Coragem, minha filha, coragem, minha esposa, coragem, minha
vítima. Não pecaste, não pecaste. É o teu calvário. São os demónios
os teus algozes, são eles que te açoitam e crucificam. Sofre por meu
amor, sofre pelas almas. Une a tua dor à minha e à da minha Bendita
Mãe. A dor dela é a minha, a tua é a reparação dos filhos meus.
No
calvário, sentia a alma do bom ladrão a expirar dentro do meu
coração. Com que paz ele dava a sua alma a Jesus! Caiu a noite sobre
o calvário, todo o solo estremeceu e fez estremecer a cruz. Jesus
entregava o Seu espírito ao Eterno Pai, enquanto um grande número de
curiosos, aterrados, desciam como formigas o alto da montanha. Veio
Jesus suavizar a grande dor e retirar de mim o pavor que tudo isto
me causava.
— Minha
filha, universo de dor, universo de pureza, universo de amor. A tua
dor, pureza e amor, são de redenção. Que dor, minha filha, sente o
meu Divino Coração por ver as minhas divinas graças perdidas! O que
opero em ti destinei-o para as almas: é remédio eficaz, é remédio
divino. Está escondido, está oculto por causa da cegueira e maldade
dos homens. A tua vida observada, lida e pregada, vai ser o maná
celeste, vai ser um mundo de amor, um mundo de vida e de salvação. É
este o edifício que em ti levantei. Tu és um anjo de pureza, porque
aos anjos te assemelhas. És serafim de amor, porque com igual amor
me amas. É à tua imitação que no futuro o mundo me amará. É com a
tua pureza que ele se purificará. Os homens não deixam que o
remédio, que destinei para as almas, lhes seja dado; o que eles não
proíbem, porque não podem, é a continuação das minhas maravilhas em
ti. Que belezas! Que encantos! Eu sou o artista divino, trabalho em
ti e em ti opero os maiores prodígios. Quem te contempla, contempla
Jesus; quem te ama, ama a Jesus; quem te imita, imita a Jesus.
Retratei-me em ti, és a cópia mais fiel de Cristo crucificado. O
mundo exultará de alegria ao ter conhecimento do que foi a tua vida
na terra.
— Ó meu
Jesus, que falassem assim aqueles que não me conhecem e não sabem o
muito que Vos ofendi; mas falardes Vós, que tudo conheceis, a quem
nada da minha vida foi oculto, que vergonha e confusão a minha!
Remediai Vós todo o mal, purificai-me e enchei-me de amor, cobri-me
com a Vossa graça, para que eu possa ser o remédio que quereis que
seja para as almas.
— O teu
martírio aumenta, o peso da tua cruz redobrará. O perfume das tuas
virtudes encherá, irradiará o mundo. O céu desceu sobre ti,
rodeiam-te os anjos por seres anjo em carne. Abrasa-te o amor dos
serafins por ao mesmo amor seres assemelhada. É com este amor que o
mundo se salvará; é neste fogo que ele se abrasará. O céu dá-me
louvor pelo teu martírio, por aquelas almas que, se te conhecessem,
me podiam dar. Supre o céu o lugar da terra; fazem os anjos o que os
homens não deixam. Salva-me as almas. Toma conforto, descansa em
mim.
Inclinada ao rosto de Jesus, descansei um pouco. Recebi fortemente o
Seu divino amor. O coração não me cabia no peito, se Jesus não o
retira depressa, o coração não resistia, não aguentava tal fogo.
Sinto-o a arder, apesar de já passarem algumas horas. Este fogo não
me dá alegria, dá-me força, muita força na minha amargura. Posso
lutar, posso levar a minha cruz com mais amor. É o que eu desejo:
sofrer tudo com perfeição, para consolar Jesus. |