ESCRITOS DA BEATA ALEXANDRINA

“SENTIMENTOS DA ALMA”
— 1945 —

13 DE FEVEREIRO

Que hei-de eu dizer da minha dor? Nada em comparação do que sinto.

Ó meu Deus, que dias tão cheios de dores, tristezas e amarguras! Oh, quanto eu tive de oferecer a Jesus! Oh, se eu Lhe soubesse oferecer tudo quanto magoou o meu coração, o meu corpo e a minha alma!

Pobre de mim, não sei falar ao meu Amado, ao meu tudo!

Ai, quem me dera que estes dias fossem cheios de amor a Jesus, como foram cheios de grande martírio! Que miséria a minha, eu não O sei amar. Sinto que é Ele a minha loucura em tudo e acima de tudo; sinto que tudo o que faço é por Ele e para Ele. Sinto que todo o amor que dedico a todos os que me são queridos nada é em comparação daquele com que desejo amar o meu Jesus. E não tenho nisto consolação alguma. Não tenho gosto em nada do que sofro e Lhe ofereço, nada é meu, nada vejo em mim a não ser os maiores horrores de miséria.

Ó Jesus, ó Mãezinha, como nada mais tenho para oferecer-Vos, aceitai esta minha miséria, fazei que ela sirva de honra e consolação para Vós e proveito para as almas.

Ando louquinha à volta do mundo, numa canseira incessável, levo comigo fortes cadeias, quero cercá-lo, quero prendê-lo nessas cadeias. Quero o mundo todo num molhinho, no meio dele, Jesus e a Mãezinha.

Ó meu Deus, se eu conseguisse não deixar sair deste molhinho nenhuma alma! Se o fogo de Jesus e da Mãezinha incendiasse todos os corações deste molhinho, que bendiria eu por toda a eternidade todos os meus sofrimentos! A chuva orvalhosa continua a cair sobre a humanidade.

Jesus, Jesus, fazei que seja chuva de amor, chuva de salvação. Não digo nada do que me vai na alma, não digo nada das aspirações que sinto.

Se eu deixasse o mundo preso e pudesse ir para o Limbo baptizar as almas! E se, depois disso, pudesse ir ao Inferno arrancar para Vós as que lá estão!

Meu Deus, não sei o que hei-de fazer. Jesus, resisti Vós à minha dor. Vede o meu coração e a minha alma a rasgarem-se continuamente com esta amargura. É por Vós, é pelas almas.

Jesus disse-me que o demónio viria em algumas noites com dois ataques e logo na primeira noite ele não faltou: foram dolorosos. Atormentou-me tanto e por tanto tempo! Vi o Inferno e nele uma chuva de almas. E tantos demónios: não tinham conta.

Dizia-me coisas tão feias, um que era o senhor deles todos. Sentado numa bancada de delícias, como ele lhe chamava, dizia as palavras mais feias e maliciosas.

Tanto queria recorrer ao Céu e só tarde o consegui fazer. Ele dava-me a afirmação de me levar ao prazer, ao pecado, à ofensa a Deus. O primeiro ataque ofereci-o a Jesus em honra da chaga do Seu santíssimo ombro e para reparar pelo sacerdote, como Jesus me pediu. Quando eu dizia a Jesus que era pelo sacerdote, então é que o demónio se enraivecia contra mim. Senti a dor, dor mortal, que já expliquei. Sem poder resistir a ela, disse:

Morro, morro, Jesus. Se morrer, morro contente, morro vítima do Vosso amor, morro vítima daquela alma.

Ao dizer isto, uma aragem passou por mim, colocou-me nas minhas almofadas. Horas depois, ofereci o segundo combate em honra das cinco chagas de Jesus por uma das outras almas. Quando me parecia estar sem vida, num cansaço indizível, ouvi Jesus dizer:

— Anjo bendito, suaviza a dor da minha esposa querida, coloca-a no seu lugar. És, à minha ordem, o seu enfermeiro celeste.

Fiquei libertada das artes manhosas de Satanás e direitinha sobre as minhas almofadas. Não sinto mãos, mas sim um enlevo fofo, uma frescura suave.

Fiquei em tanta amargura, na tristeza mais profunda. Se houvesse um lugar onde eu pudesse esconder-me de Jesus, fugiria para lá. Ó meu Deus, que vergonha! E quando Jesus veio para eu O receber!... Ansiava pela Sua vinda, mas queria fugir e desaparecer-Lhe; não era digna de O receber em meu coração.

Já ofereci mais três combates a Jesus, pois só Lhe ofereço os mais dolorosos. O maldito aparece-me em formas de bichos e feras tão desconhecidas! É horroroso vê-los à minha frente. Um em forma de crocodilo, só mais alto do que eles; tinha uns poucos de metros de comprido. E o Inferno com umas cabanas tão feias, tão medonhas! Fogo, um fogo tão escuro e atormentador. Por entre ele tantos cornos de demónios a sobressair. Ele dizia-me coisas tão feias. Que vergonha ao eu ouvi-las e que medo de as ouvir. No auge da minha aflição, bradei por Jesus, porque a dor atormentadora tirava-me a vida.

Morro, morro, Jesus, e não quero pecar.

O meu coração dava estalos estrondosos, só a morte podia causar tão grande sofrimento. Ao meu brado de agonia, veio Jesus.

— Não pecas, não morres, minha esposa amada. A morte que sentes não é real, a tua morte dá a vida, vida de pureza, vida de amor. Se soubesses o valor desta reparação!... Levanta-te, toma o teu lugar, sou o teu Jesus, tenho poder para o fazer, assim como tive poder para mandar levantar e caminhar os mortos.

Já nas minhas almofadas, Ele estreitou-me ao Seu Divino Coração, acariciou-me e beijou-me.

— Se o mundo conhecesse, minha filha, o que é a vida do amor divino!

Dito isto, senti-me sozinha, confortada, sim, e só em ânsias de consolar o meu Jesus, mas logo mergulhada num mar imenso de dor. De vez em quando a receber espinhos, que vêm cercar o meu coração, e continuamente a ser esmagada por desgostos e humilhações.

Esperava receber um pouquinho de alegria, não por mim, mas por ver os meus contentes. Jesus não o permitiu, tirou-me a ocasião dessa alegria, desse bocadinho de consolação que eu queria sentir. Ao ver que Jesus me tirava tudo, não tive outras palavras a não ser repetir muitas vezes:

Bendito seja o Senhor, a Sua santíssima vontade se faça. Ó meu Jesus, aceitai a consolação e alegria que eu poderia sentir, seja ela consolação e alegria para Vós. Aceitai a alegria e aquele regozijo que eu poderia ver entre os que me são queridos. Seja tudo pela salvação das almas.

Ontem, depois das três horas ou mais que passei a falar das coisas de Jesus com uma alma arredada d’Ele há muitos anos e que nunca conheci a frequentar a igreja, fiquei banhada em suor e cansada, sem poder mover meus lábios para dizer palavra. Mas este meu esforço não ficou sem recompensa. Jesus permitiu que eu sentisse por algum tempo alegria em meu coração. Essa alma deu-me sinais de arrependimento e prometeu-me esforçar-se por em breve mudar de vida. Parece-me bem que, dentro de breves dias, ela vai ser arrancada das garras de Satanás.

Ai, se eu visse assim nestas disposições todas as que estão arredadas de Jesus! Quero sofrer, quero sofrer, quero salvá-las. Amo-as, são de Jesus.

 

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