ESCRITOS DA BEATA ALEXANDRINA

“SENTIMENTOS DA ALMA”
— 1945 —

16 DE MARÇO, SEXTA-FEIRA

Fere-me tudo o que é do mundo, tudo me causa dor e agonia. As consolações e alegrias são para mim amarguras, são espinhos que me ferem. A dor uniu à morte; é o que vejo, é o que sinto unido à minha miséria.

Que mais quereis de mim, meu Jesus? Poderei sofrer mais ainda? Eis aqui a escrava do Senhor. Sou, ó Jesus, e quero ser sempre a vítima do Vosso divino amor, a vítima das almas.

Durante a noite, cheguei a escutar se tinha o fogo pegado no soalho do meu quarto e na minha cama. Sentia os efeitos das chamas e os meus ouvidos ouviam rumores de labaredas. Decorreram já muitas horas e o meu corpo ainda parece arder por dentro e por fora. A sede é negra, é abrasadora. O que será arder sempre no inferno, meu Deus! O que será a sede de Jesus pelas almas, quando a mais miserável das criaturas sofre assim!

Na manhãzinha de hoje, foram-me buscar à prisão; vinha de mãos atadas, mas mais atado ainda vinha o meu coração: nem podia palpitar nem os lábios abrirem-se-me para pronunciar palavra.

Senti que alguém, com amor louco, com amor de mãe, andava rua em rua, cega de dor, à minha procura, a ver onde podia encontrar-me. A algazarra era medonha. Vestida com vestes de rei, mas vestida por escárnio, puseram-me na mão uma cana. Que barbaridade contra mim! Era tão grande o número dos que procuravam inventar maior proeza nos sofrimentos, tratando-me mais cruelmente.

No caminho do calvário, tudo eram gritos e vozearias atrás de mim. Não eram gritos de dor, mas de ódio e afronta.

Havia alguém que chorava e se entristecia de mim; havia quem quisesse consolar-me, aliviar-me e curar-me as minhas chagas. Esse alguém causava-me ainda mais dor; era uma dor unida à minha dor, era uma dor que não podia suavizar a minha.

Mãezinha, a Mãezinha, quanto sofreu com Jesus! Na cruz, no calvário, era Ele com Ela um só Coração, uma só alma, uma só dor, um só amor. Jesus abandonado, a Mãezinha abandonada por abandonado ver seu Filho. Se o mundo conhecesse e compreendesse isto, não pecava…

Jesus estava na cruz, mas era dentro do meu coração. Ao bradar “Meu Pai, porque Me abandonaste?”, dizia dentro em Seu Coração:

— Vê, ó mundo, com as tuas maldades a que estado Me reduziste!

Senti-O entregar a Sua alma ao Eterno Pai. Com que alegria ela deixou o Seu Santíssimo Corpo e com que alegria foi recebida no Céu!

Já em união com o meu Jesus, vi-O na cruz, mas dentro em mim a derramar do Seu Divino Coração, já então aberto, o resto do Seu preciosíssimo Sangue e por fim gotas de água. Principiou a dizer-me:

— Arredado de Mim, minha filha, longe, muito longe, está o pecador endurecido e louco pelas paixões. Longe, muito longe vivem os pecadores entregues ao vício e à carne, loucos e cegos de todos os vícios.

Vem cá, minha filha, vem, minha pomba branca, receber do teu Jesus, Pai e Esposo, o remédio, a vida e a luz para os conduzires a Mim.

Jesus uniu o Seu Divino Coração ao meu, assim como o Seu rosto santíssimo e lábios aproximou também dos meus. Acariciou-me e passou dele para mim luz, amor, conforto e vida. Dava-Me tudo o que possuía. E continuou:

— Vai, filhinha, medicina das almas, vai dar tudo isto; escolhi-te para a salvação delas, escolhi-te para amparo delas, escolhi-te para seres a sua luz.

Dá-lha, arranca-as das trevas. Vai com o meu amor e a tua dor inigualável arrancá-las das garras de Satanás; estão presas no lodo e enleadas nos espinhos. Tu és a luz das luzes, a loucura, o amor dos amores.

— Ó meu Jesus, dai-me o que quiserdes, dai-me o que é Vosso, só com o que é Vosso eu posso roubá-las ao demónio, só com a luz do Vosso divino amor eu posso dar-lhes luz. Tenho sede, tenho sede, Jesus, de Vos dar almas, todas as almas.

— A tua sede é a minha, meu encanto: sacia-ma, tenho sede e fome de almas, é sede e fome do que causa a morte. Olha, estão tantas presas, enleadas naqueles espinhos! Se não fores lá tirá-las, lá morrem, de lá passam para o inferno.

— Já, já, meu Jesus, vou, quero ir lá desprendê-las, custe o que custar.

— Minha filha, mas deixas lá tuas carnes…

— Não importa, meu Jesus, quero salvá-las.

— Minha filha, perdes lá o teu sangue…

— Deixá-lo, meu Jesus, também Vós o perdestes até à última gota. Eu quero ir lá, custe o que custar, perca o que perder. Eu vou, Jesus, eu vou ainda que naqueles espinhos se desfaçam e fiquem lá meus ossos. Pelo Vosso divino amor dou tudo e tudo dou pelas almas.

Que tormentosa foi a visão destes espinhos! Sem um grande auxílio, sem a força do Céu, nunca, nunca se desprenderiam de lá tantas, tantas ovelhinhas.

- Ó pura, ó bela, ó vencedora das almas, tu ostentas a bandeira da vitória! Tu és o lírio dos vales, flor mimosa dos prados! As tuas virtudes são lírios, são açucenas, flores do jardim angélico que adornam o trono da Majestade divina!

Que bem fará às almas, quando a tua vida for conhecida, pregada e lida, a tua vida celeste, a tua vida sem igual!

Oh, quanto eu anseio que a luz que de Mim recebeste vá penetrar nos corações de toda a humanidade! Oh, como eu anseio que ela aprenda neste livro de virtudes e ciências divinas!

Tenho, minha filha, um meio ainda, um remédio salutar para salvares muitas almas. Não o aplico já; devia-o aplicar para confusão e punição daqueles que se opõem à minha divina causa, prolongando por muito tempo o brilho da luz que escolhi para as almas. Mas para isso esperarei que venha o teu paizinho, porque necessitas de todo o amparo e conforto amiudadas vezes. Para eu Me esconder é preciso que venha para junto de ti quem te ampare e guie. Todo o amparo da terra será pouco na última fase da tua vida.

Recebe, minha filha, novamente, a luz e vida do Divino Espírito Santo.

Veio Ele, poisou sobre a minha cabeça; a minha alma viu-O bater as asas. Era uma pomba branca mais branca do que a neve. Toda a minha cabeça era luz, veio à minha boca e, como os passarinhos a alimentarem seus filhos, meteu nela seu bico, batia as asas e esforçava-se por passar para mim tudo quanto possuía.

— Minha filha – dizia Jesus – é a tua vida, é a vida divina, a vida de que vives, a vida que eu quero que as almas vivam! É a vida da graça, da pureza e do amor! É luz que te ilumina, é a luz com que iluminas o mundo! É o brilho do céu, é a riqueza e o tesouro das almas!

— Obrigada, meu Jesus. Dai-me a graça de Vos ser fiel, dai-me a graça de corresponder ao Vosso divino amor. Dai-me a força que preciso para combater o demónio e salvar-Vos as almas.

 

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