ESCRITOS DA BEATA ALEXANDRINA

“SENTIMENTOS DA ALMA”
— 1945 —

20 DE FEVEREIRO

 

Que horrível, que extrema é a agonia da minha alma!

Eu queria esconder a minha dor, não queria falar mais dela, queria abafá-la por completo. Parece-me que o coração chora de amargura. De longe a longe as mágoas que ele sente fazem-me bailar nos olhos as lágrimas.

Quero encobrir tudo, bastava que Jesus soubesse, mas não posso; manda-me a obediência. E, embora como que arrastada, vou descobrindo, vou arrancando de dentro para fora alguma coisa do que sofro, do que sinto. Não sei se pelo estado grave do sofrimento em que me encontro, ou se é a realidade, sinto-me no pôr-do-sol da vida; parece-me que a morte se avizinha de mim. Curvo-me, inclino-me de boa vontade a receber o golpe que Jesus lhe aprouver dar-me. Sinto no meu coração a separação dos que me são queridos. Vou para a minha Pátria, mas alguma coisa quero deixar entre eles para os animar e consolar na sua dor. Não sou daqui, vou para o meu lugar, depressa nos veremos nessa glória sem fim.

Meu Deus, meu Jesus, o que será isto?

Quero partir, tenho de partir e custa-me tanto esta separação. A dor que isto me causa parece-me arrancar o coração e com ele todas as veias do meu corpo.

Seja tudo pelo amor do meu Jesus e pela salvação das almas.

Sinto que o mundo está em tanta desordem, tanta miséria e crimes! E eu quero pôr termo a tudo isto e não posso; queria remediar todo este mal e não sei como; não tenho mais que dar por ele.

Ah, se houvesse alguém que por ele quisesse sofrer, que o pudesse salvar, o que lhe daria eu?! O meu amor, tudo o que possuísse, o Céu com toda a glória, se esse me pertencesse.

Ai de mim, não sei a quem pedir e não tenho que lhes dar. Sinto a repugnância que há ao sofrimento e à cruz. Se houvesse quem de boa vontade a aceitasse, e eu pudesse levar a minha e ajudar os outros a levarem a sua, seria a maior alegria e consolação para o meu pobre coração.

Meu bom Jesus, vede o que por Vosso divino amor e amor às almas quero sofrer e aceitai como se o fizesse, porque não posso mais.

Para atender aos pedidos de Jesus, ofereci-Lhe mais ataques do demónio. Para esse fim, só Lhe ofereço os mais custosos. Os de menos sofrimento, deixo-os para reparar todas as almas.

Ele aparece-me em forma de bichos tão variados, tão feios, em monte, misturados uns com os outros. Mas é o que me faz sofrer menos. Atormenta-me muito mais quando ele diz que eu não faço certas coisas porque o sofrimento mas não deixa fazer, o cansaço e males do meu corpo que são o que o impedem. Isto causa-me mais dor, faz sangrar mais o meu coração. Quer ele dizer que tudo é feito por mim, por minha malícia.

Nos dois ataques mais fortes, veio sempre Jesus a confortar-me. Depois de eu ter ouvido os insultos mais feios e as palavras mais vergonhosas, depois de ele usar de todas as manhas para me levar ao pecado e ao prazer, como ele me diz, fiquei sobre abismos assustadores.

O que será de mim, meu Jesus? Valei-me, valei-me, repetia eu.

Senti Jesus a meu lado, sobre mim espalhou o Seu sopro divino, sopro que de repente me levou às almofadas. Jesus continuou a bafejar-me e a dizer-me:

- Coragem, minha filha, não pecaste! É para livrar as almas de caírem neste abismo e perderem-se eternamente que tu estás sobre eles.

As palavras de Jesus encorajam-me, mas não me tiram da dor em que fico mergulhada.

Na segunda afronta do demónio, causou-me uma amargura como ainda não me tinha causado. Foi muito demorado o combate. Os gestos, as palavras, os nomes, os conselhos eram vergonhosíssimos. Eu estava cansada de tanta luta, e o demónio, furioso por não conseguir de mim o que desejava. Principiei então a sentir desejos de pecar, eram uns desejos de fora para dentro e não de dentro para fora. Algumas vezes, dizia a Jesus: “Não, não, eu não quero pecar!” Estas palavras saíam-me do coração, mas a vontade de pecar parecia ser mais forte do que o brado que eu levantava ao Céu.

Oh, agonia, triste agonia!

Ao parecer-me que estava tudo conseguido, os desejos do demónio realizados, gritei por Jesus e pela Mãezinha:

Ai de mim, o que é isto?! Valei-me, valei-me!

Senti a dor indizível que muitas vezes já tenho sentido.

Meu Deus, com certeza a morte não custa tanto! Estava banhada em suor, parecia ter saído dum lago. O coração batia alto e apressadamente. Em espírito, oferecia tudo a Jesus e não cessava de chamar por Ele, pois era dolorosa a posição em que estava e a vergonha e dor que sentia com o receio de ter pecado. O demónio não saía de junto de mim, mas à voz de Jesus retirou-se.

- Basta, basta, maldito, deixa a minha vítima, a vitória é dela; a honra, a glória são minhas, a reparação é pelas almas!

Sofre por amor, ó minha filha querida.

Sem saber como, tomei a minha posição, recebi as carícias de Jesus, enquanto o demónio, voltado para Ele, amaldiçoava-O e raivosamente queria retalhar-me. Retirou-se Jesus, e eu fiquei absorvida numa noite triste e assustadora e numa dor sem fim.

Sinto na minha alma que se levantam à volta de mim ondas fortíssimas como as ondas do mar. Cercam-me com a mesma fortaleza (substituir por força), mas como as do mar que muita vez se infrangem (palavra desconhecida que se pode substituir por desfazem) uma contra a outra; longe da praia, estas também desaparecem sem causarem estragos. Esta visão e o seu ruído, chegando aos meus ouvidos, atormentam-me dolorosamente. Tenho a sensação de que sejam coisas que se levantam contra mim.

 

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