ESCRITOS DA BEATA ALEXANDRINA

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4 de Julho – Primeiro sábado

― Sol brilhante, sol esplendoroso será aquele que se vai reflectir no mundo. Os homens não querem deixar reflectir seu brilho. Ai deles, pobres daqueles que se opõem à frente dos caminhos do Senhor! Jesus todo Se consola e alegra nas almas suas amadas. Jesus todo Se delicia no arminho das almas puras. Os raios do amor divino formam sobre elas uma auréola brilhante e encantadora que atrai a si o mundo e os corações. Os que se dizem amigos de Jesus não conhecem as almas suas esposas. Jesus está descontentíssimo com a maior parte dos seus discípulos: não têm luz, não a procuram, não sabem, não procuram saber. Lançam-se como Satanás a deitar por terra as obras do Senhor. Desviam de si as bênçãos divinas e toda a protecção da Virgem Maria.

A Mãezinha celeste está preparada para vir buscar a sua filhinha para junto de Si. O prémio é brilhantíssimo.

A dor do Paizinho da louquinha de Jesus tem dado toda a glória e triunfo ao Céu. Pobres daqueles que assim o têm feito sofrer. Jesus nada deixa sem recompensa.

Jesus dá toda a graça e amor ao médico da alma e ao médico do corpo da louquinha da Eucaristia. Jesus será todo e tudo para eles.

27 de Julho

Os homens tornam-me pesada e triste a minha vida na terra! Oh, triste não, deixai-me dizer: tudo o que é suportado por amor de Jesus e das almas é alegre e consolador! Pobres daqueles que se opõem contra a vontade de Jesus!

Fui subindo, subindo vagarosamente e muito ferida com os sofrimentos que os homens me inventaram. Subi e tive que suspender viagem à portinha do Céu. É lá que me encontro parada há longos dias, aparecendo-me uma entreaberturazinha; compreendi que era a entrada para o Paraíso. Porém foi tal a prisão que os homens me fizeram que tenho que demorar por largo espaço de tempo. Até quando? Só Jesus o sabe. Eu fio e espero nele. Os meus voos estão presos fortemente e só Jesus os pode desprender, só Ele pode transformar os corações dos homens que nada compreendem e não sei o que julgam de mim. É doce amar e seguir a Jesus, mas ai de mim se Ele me abandona um só momento! Ele deu-me sinal de que tudo na terra estava completo. Era de noite, mas tenho a certeza de que não dormia e estava em meu juízo perfeito. Apareceram à minha frente dois Anjos: que belos que eles eram! Só do Céu podiam vir! Um sustentava nas suas mãozinhas uma cora brilhante e toda completa, e o outro a par uma grande palma de martírio. Tudo isto deu conforto à minha pobre alma. Animei-me ao ver que Jesus me mostrava que a minha missão na terra estaria terminada, mas por mais que me esforçasse por me desprender destas prisões terrenas, não consigo. Esperarei que Jesus me solte, pedindo-Lhe sempre por aqueles que me prendem. Pobrezinhos! Não compreendem a grandeza nele e nas almas. Hei-de sofrer por eles. Se não fossem os sofrimentos causados por eles, não poderia dar tanta glória a Jesus e salvar-Lhe as almas. Que grande dor ver-me assim tão pertinho do Céu! Querer entrar e não poder! Por vezes me custa conter as lágrimas. Parece-me morrer de saudades! Na terra não tenho vida, nem nada que me satisfaça! Só o Céu, só no Céu!... Só o Céu será a minha vida, só no Céu serão satisfeitas as minhas ânsias! Que belo que ele é! Quisera que todos já na terra o conhecessem! Pobres daqueles que desprezam a Jesus e seguem a Satanás!

1 de Agosto – Primeiro sábado

― O Coração de Jesus com o de sua Santíssima Mãe alegram-se e enchem-se de regozijo com os sofrimentos da louca, louca de Jesus, da crucificada do calvário e com os sofrimentos do seu Pai espiritual, que o tem sido é e será por toda a eternidade. Que meses de tanta honra e glória para o Céu! As almas esposas de Jesus, as almas martirizadas, a imolarem-se por Jesus e pelas almas... Jesus e Maria anseiam por verem brilhar no mundo inteiro este farol resplandecente. Os homens tentam apagá-lo e destruí-lo, mas em vão. Jesus, escondido na sua vítima, submete-se aos seus falsos juízos. Jesus, escondido na sua vítima, sujeita-se à vontade de seu Pai espiritual e do médico da sua louquinha. Tudo o que fizerem para glória do Altíssimo, Jesus acolherá bem. Nada seria preciso, Jesus mesmo não o queria se os ceguinhos quisessem ver. Que cegueira e crueldade! Sujeitam aos maiores martírios as almas mais amantes de Jesus. Levam às maiores humilhações aqueles que são as pupilas mais queridas dos olhos de Jesus. Jesus, o Rei de Amor, tem vencido e sempre vencerá. Ama com toda a loucura de amor as almas que amam e rodeiam a sua crucificada. São belos os desígnios de Jesus. Tudo é encantador o que Ele deixa transparecer através da sua amada.

- Ó meu Jesus, que grande é o vosso amor para comigo! Dai-me toda a coragem precisa, dai-me o vosso amor infinito e levai-me para a minha Pátria. Sou do Céu e não da terra, sou vossa e não do mundo.

― Em breve vai o Céu gozar esse grande triunfo, ver entrar nele a maior heroína da humanidade.

Obrigada, obrigada, meu Jesus!

15 de Agosto

― É com os laços mais firmes e do mais puro amor que Jesus enleia ao seu divino Coração e de sua Santíssima Mãe a sua louquinha de amor, a vítima de maior imolação, a maior alegria e glória do Altíssimo que tem e poderá ter na terra.

É com os mesmos laços de amor que Jesus prende aos mesmos divinos Corações o Pai espiritual da sua benjamina, o médico e almas amadas que por ela se sacrificam.

As predilecções da heroína do calvário são as predilecções de Jesus. Jesus ama apaixonadamente a sua benjamina, mais do que às pupilas dos seus olhos. Vai dar-lhe o Céu. Vai dar-lhe toda a glória e todo o amor para ela distribuir às almas.

– Ó meu Jesus, são tão doces as vossas carícias e da vossa querida Mãezinha!

― É a recompensa de tanta dor e martírio; é a loucura de amor que Jesus e a Mãezinha têm pela sua crucificada. É com o mesmo amor que Jesus e Maria ama e se dá às almas amantes da sua louquinha.

A Santíssima Trindade inclina-se, o divino Espírito Santo estende os seus raios, irradia-os sobre este cofre riquíssimo do Santíssimo Coração de Jesus.

– Obrigada, obrigada, meu Jesus!

26 de Agosto

Não custam as nossas ofertas a Jesus; dizer-Lhe que todo o corpo é dele, dizer-lhe: Sou vossa para o martírio e para a cruz. Mas quando se sentem os rigores da sua divina Justiça, quando Ele dá sinal que tomou a sério e se utilizou do nosso frágil instrumento para assim salvar o mundo, é de morrer. Que tremenda e aterradora é a Justiça divina!

No dia 21 de Agosto, que era sexta-feira, Jesus veio como de costume desabafar comigo, mimoseando-me com os seus doces e ternos carinhos. Neste dia a sua bondade infinita não quis dispensar-mos. Tinha que sofrer, tinha que experimentar o que o Eterno Pai reservava para o mundo culpado, mas sobretudo para Portugal. Sentia tudo em fogo, tudo em ruínas. Eram tais as labaredas que incendiavam Portugal que não deixavam nele pedra sobre pedra, nem se podia descobrir o maior edifício. Com todas as queixas de Nosso Senhor, com todo o peso da Justiça divina, fiquei deveras assustadíssima durante dois dias e duas noites. Repetidas vezes todo o meu ser estremecia aterrado de medo. As labaredas continuavam e eu sentia-me no meio de toda esta destruição. Era impossível poder resistir a este sofrimento se ele se prolongasse por muito tempo e se Jesus não tivesse para ele uma atenuante. O que vou descrever não juro que foi a realidade, se bem que me parece poder jurar.

Deviam ser 4 horas da manhã, formou-se sobre mim um Paraíso. Este era formado só de anjos formosíssimos, brilhantes como ouro. Só via cabecinhas e asinhas; com estas esvoaçavam continuamente, fitando-me todos com os seus olhos brilhantes. Compreendi que aquele bater de asas era a chamar-me para o Paraíso. A minha alma sentiu tanto conforto que me fez sair fora de mim. Já não vivia na terra e uma força invisível me fez subir e aproximar-me desses anjinhos. Não sei o que me sustinha no ar. Desde então, todo esse medo das ameaças do Senhor foi suavizando, o brilho dos anjos, aquele bater de asas vence tudo o que é dor, tudo o que ameaça o mundo e Portugal. O Céu pode mais que a terra! O amor de Jesus é mais forte que a sua divina Justiça!

A minha alma obriga-me a descrever tudo isto, deixando ao juízo do meu Pai espiritual se isto foi sonho ou ilusão minha ou a verdadeira realidade. Parece-me que não dormia e o conforto que me deu só do Céu podia vir. Foi um remédio divino.