Continuo a sentir duas coisas ao mesmo tempo: a perda de Jesus e a
perda das almas. A perda de Jesus faz-me sentir tal horror e revolta
que não se pode explicar. Quero amaldiçoar esta perda e amaldiçoar a
terra. Parece que me atormentam todos os horrores do inferno. Sinto
que era melhor perder tudo e tudo sofrer do que perder a Jesus. Só a
Sua perda basta para ser o maior martírio do corpo e da alma.
— Meu
Jesus, perder-Vos! E sobre esta grande dor cai o peso da Vossa
justiça divina.
Que
tormento e dor sem igual. E a perda das almas! Ai quanto custa! O
meu coração corre atrás delas. Que ternura e amor lhes dispensa. A
alma com os seus olhares vê a sua fugida. Que agonia! Não há amor
que as prenda, não há palavras que as comova, nem ouvidos que as
escutem. Correm, correm para a perdição. Oh, que dor a de Jesus. E
que dor a minha, sentindo isto. Não posso consentir que as almas se
percam. Esta manhã, com a vinda de Jesus ao meu coração,
levantaram-se em mim novas ânsias que deram princípio dum novo mundo
dentro em meu coração. É um edifício mundial a construir-se. As
ânsias são de pureza e de amor; o edifício é levantado com isto. Que
chamas ardentes, que fogo abrasador. Esta pureza e este amor não são
meus, não me pertencem; pertencem ao edifício, pertencem ao mundo.
Meu Deus, que ânsias consumidoras. Queria falar ao mundo inteiro,
queria falar só em amor e pureza; só destas riquezas queria que ele
vivesse. Durante a tarde, senti-me no grande convívio, nuns grandes
laços da mais estreita amizade. De manhã, senti um novo mundo de
amor. Ao cair da tarde, a grande ceia do amor. Amor, que grande
ingratidão recebeu. Com esta ingratidão vi e senti a cruz
atravessada em meu coração; era regada com o sangue que momento a
momento jorrava dele. a cada respiração saía uma golfada de sangue.
Dolorosa quinta-feira, tão cheia de espinhos. A dor tirava-me a
vida. Já de noite, veio o demónio, maldoso como sempre.
Figurou-se-me que, com os seus dentes, retalhava o meu corpo e punha
em bocadinhos o terço e levava para longe a imagem da Mãezinha.
Foram só as manhas dele, depois da luta, tudo tinha junto de mim.
Que estrondo fazia o meu coração.
— Queres gozar? Oh, quanto vale o prazer! Posso sossegar. Oh, como
tu pecas!
Quando
ele bailava de satisfação, veio juntar-se ao gozo, que ele chama
gozo à dor a que só com um milagre de Jesus se pode resistir. Com
muito custo chamei por Jesus, chamei muitas vezes, a afirmar-Lhe
sempre que não queria pecar. Os demónios com caras muito feias
afirmavam o contrário. Veio Jesus, e à Sua voz divina eles fugiram.
Ele chamou:
— Anjo
bendito, suaviza a dor da minha esposa, da minha vítima, da minha
crucificada; leva-a ao seu lugar: é vítima da pureza, vítima do meu
amor, vítima das almas.
Depressa tomei a minha posição, sem esforço, sem sentir dores.
Depressa vieram as nuvens negras, as dúvidas de ter ofendido
gravemente a Jesus. |