ESCRITOS DA BEATA ALEXANDRINA

“SENTIMENTOS DA ALMA”
— 1945 —

15 DE FEVEREIRO

           

Não acredito nas minhas dores nem no que digo nem no que faço: tudo me parece mentira, uma completa intrujice. Sinto que o é, mas por graça de Deus não encontro nada em mim a que possa chamar intrujice. O que sofro é por Jesus e pelas almas, o que faço é com os olhos n’Ele e por Seu amor. Alguém me julga da forma que eu me sinto, por isso sofro ainda mais. O que seria de mim se Jesus não visse e não soubesse tudo! O que eu quero é agradar-Lhe a Ele e consolá-Lo com esta penosa vida, que não é vida ou, se o é, não me pertence. Tudo passa, tudo me foge; tudo passa, tudo me roubam, e eu sempre aqui, não chega o meu céu.

Para não faltar à minha palavra com Jesus, não lho peço. Mas ai que saudades e que sofrimentos, mais do tempo a parecer-me insuportáveis!

É no meio da dor que o coração vai perdendo a vida, não pode resistir; não explico o meu tormento. É certo que Jesus sofre em mim, mas mesmo assim a dor domina-me, caio no desfalecimento. Sinto que a morte vai caminhando para mim, a morte por que tanto suspiro, a morte que eu quero chamar vida, a morte que me leva a gozar de Jesus e da Mãezinha.

Deixo então as minhas tristezas, dores e amarguras, vou pedir por todos os que amo, vou pedir pelo mundo inteiro. Não vou esquecer os causadores de tanto sofrimento para mim: hei-de pedir por eles, quero que Jesus lhes dê amor, quero que lhes dê o céu.

Sinto que sou o mundo, um mundo do rochedo mais duro e fechado e sinto que estou dentro desse mundo. Tenho de transformar esse rochedo de pedra dura, transformá-lo em pedras preciosas, em oiro fino.

Que esforço o meu no meio desse rochedo sem poder mover-me para nada! Tenho de o mover, de o desfazer, tenho que fazer dele um mundo belo, agradável a Jesus, de encantos para todo o céu.

Ó Jesus, vede esta louquinha, vede o martírio que a consome! Que hei-de fazer pelo mundo, como hei-de transformá-lo? De que forma hei-de consolar e alegrar o Vosso divino Coração?

Faltou-me a acção do Divino Espírito Santo; parece-me que não tenho as Suas graças, as Suas luzes. Sou pobrezinha que nada tem e nada pode vir a ter.

Que será de mim, meu Jesus! Não posso viver sem Vós, sem Vós nada posso sofrer.

Ofereci a Jesus mais um ataque do demónio para acudir às almas que Ele me pediu. Os mais violentos são por elas, os outros ficam por quem Jesus quiser.

Que coisas feias me diz o maldito de pessoas, para me ensinar a pecar, e de Jesus, acusando-O de grandes crimes!

Horror, horror é o que mais me custa ouvi-lo dizer coisas contra Jesus!

Durante alguns ataques, sinto que eu mesma sou o inferno com todos os sofrimentos e horrores e que eu mesma sou o demónio com todas as manhas e toda a malícia.

Não sei explicar-me melhor, o que sei é que em alguns momentos sou um verdadeiro inferno, um verdadeiro demónio.

Ele apareceu-me em forma de homem muito feio, vestido de caçador, de arma às costas, passeando à minha frente. Ao lado, estavam muitos em forma de esqueletos, de armas em pontaria direitas a mim. Causavam-me muita impressão, mas não me assustei grande coisa. Eles não podiam matar-me.

Temo mais que me matem a alma com outras coisas que ele faz e diz. Oh, como eu receio ofender o meu Jesus!

Não posso lembrar-me que hoje é quinta-feira. Que sofrimentos tristes me trazem estes dias!

Durante a tarde, sentia-me a passar por entre ruas, seguia o meu caminho e por todos quantos me viam era escarnecida e apontada como ré de todas as culpas e a maior criminosa. Pouco tempo depois do anoitecer, senti-me num convívio de amigos e nessa amizade sentia um traidor, que pouco depois havia de beijar-me, e senti a dor que esse beijo ia causar-me. Senti que era Jesus e sobre o Seu peito se inclinou um rosto que eu muito amava. O meu coração enterneceu-se de amor por esse rosto.

Que conversação de tantos mistérios, de tanta grandeza! Senti que nesse convívio lavei os pés a todos os que me rodeavam. Em mim estava a água, a toalha e a bacia. Senti que um, a quem causava muita impressão lavar-lhe os pés, a um olhar e poucas palavras até já se despia para, se preciso fosse, lavar-lhe todo o corpo. Ah, se eu pudesse exprimir aqui todo o amor, toda a bondade e ternura de Jesus… que bem podia fazer às almas! Mas não sei melhor.

Supri Vós, Jesus, a minha falta.

 

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