Engrácia era uma jovem de Bracara Augusta (actual Braga) prometida
em casamento a um nobre da região de Rossilhão, na província da
Gália Narbonense, sul da actual França. Para escoltá-la na viagem
fora o seu tio Lupércio (por vezes identificado com Lupércio, o
bispo da antiga diocese de Eauze, dezoito cavaleiros e uma
empregada,
de nome Júlia. Ao chegar à cidade de César Augusta (actual Satagoça)
e ao inteirar-se das atrocidades que o governador, Daciano, estava a
cometer junto dos cristãos (por decreto do Imperador), apresenta-se
espontânea e directamente diante de si para o confrontar com as
crueldades, injustiças e a insensatez com que tratava os seus irmãos
de religião. Termina martirizada com a oferta da sua própria vida e
a dos seus companheiros, assim que se percebe que era também cristã.
Nos
registos do martírio, os feitos encontram-se descritos da maneira
tradicional, tanto que acaba por ser difícil separar a realidade dos
factos daquilo que poderá ser produto da imaginação, consequência da
piedade dos cristãos. Com efeito, o diálogo entre a frágil donzela e
o cruel governador afigura-se-nos claro: ela usando raciocínios
humanos e firmes na sua fé com que acusa a injustiça cometida (que
hoje diríamos serem questões de Direitos Humanos), a existência de
um deus único a quem serve, a loucura dos deuses pagãos e a
disposição em sofrer até ao fim pelo amado; ele, por seu turno,
utiliza recursos como o castigo, a ameaça, a promessa e a
persistência. Em resumo, a pormenorizada e pura descrição do
tormento da jovem conta que primeiro fora açoitada, depois atada a
um cavalo e arrastada, o seu corpo fora rasgado com ganchos e os
seus peitos cortados. Depois foram colocados pregos no seu corpo.
Para que sofresse ainda mais, abandonaram-na quase morta submetida a
um indescritível sofrimento por todas as suas feridas, até morrer.
Os dezoito acompanhantes foram degolados nos arrabaldes da cidade.
O corpo
de santa Engrácia foi sepultado com as devidas honras pelo Bispo
Prudêncio numa urna de mármore, e a ele foram juntadas as cinzas dos
dezoito outros mártires, seus companheiros de caminhada.
Fontes
diversas. |