A Face de
Jesus - A HÓSTIA QUE VOA
Emissão - 39
Alegra-me contar-vos um caso muito particular sucedido no quarto da
Alexandrina e que mostra os seus dons “de ciência” e de bons
“conselhos” extraordinários e a misericórdia de Deus para com
aqueles que são humildes, mesmo se grandes aos olhos do mundo.
Como já
disse, a Alexandrina só esteve na escola 18 meses, durante os quais
aprendeu as bases de sua língua materna, o que permite dizer que ela
tinha apenas uma cultura rudimentar. Ela mal sabia ler e escrever!
Apesar
dessa desvantagem, ela foi dotada de uma ciência divina que
surpreendeu todos os que a questionaram sobre vários pontos difíceis
da doutrina católica. Um exemplo esclarecedor é o de um grande
teólogo e professor de teologia num importante seminário português.
«Um
dia, um sacerdote, teólogo confirmado, visitou a “Doentinha de
Balasar”, fez-lhe muitas perguntas, algumas das quais representavam
dificuldades teológicas reais, e Alexandrina respondeu-lhe com a
simplicidade e humildade a que estava habituada. O sacerdote, que
não se considerava alguém tendo a “ciência infusa”, ficou
maravilhado com as suas respostas simples e de bom senso. Antes de
partir, perguntou à sua hóspede se ela concordaria em rezar com ele.
Alexandrina aceitou, e com alegria. O padre ajoelhou-se ao lado da
cama e ambos recitaram algumas orações. Ao levantar-se para partir,
sua surpresa foi grande, porque já não viu o rosto de Alexandrina,
mas o do Cristo sofredor — a imagem do Ecce Homo. Ele testemunhou
voluntariamente sobre este caso e acrescentou este comentário:
«Eu
sou professor de teologia, mas nunca ninguém me explicou com
palavras tão simples e tão correctas o mistério da Santíssima
Trindade, como fez Alexandrina.»
Jesus
tinha anunciado diversas vezes que assim seria:
«Este bálsamo que ponho nos teus lábios é para que sejam
fortalecidos e fales às almas do meu amor, para que as aconselhes
com a luz do Espírito Santo, a fim de que se reconciliem comigo e
sigam a minha lei.» (S. 01-09-1950)
E
ainda:
«Felizes aquelas (as almas) que se aproximam de ti e que o teu olhar
as atinge! É o meu olhar sobre elas, é o meu olhar terno e
compassivo. Criei-te para elas, para esta missão sublime.»
«Eu
sou a tua vida; não tens vida humana, tens vida divina. Não tens a
vida da terra, Vives a vida do Céu.»
O
professor de teologia não sabia isto. Mas, é preciso dizê-lo, ele
nos dá uma grande lição de humildade e lealdade: sabia aceitar uma
evidência e, talvez por causa dessa humildade e simplicidade, o
Senhor lhe concedeu a graça de ver seu santo Rosto.
Noutras
circunstâncias, quando algumas pessoas se aproximavam de sua cama
para pedir conselhos e até graças por sua intercessão, Alexandrina
não tinha necessidade de fazer perguntas: ela sabia para o que
vinham e quais eram os problemas de suas vidas: ela lia nos corações
daqueles ou daquelas que vinham ao seu encontro, submetendo-lhe
muitas vezes casos delicados.
Aconteceu que homens viessem encontrá-la para que ela os ajudasse a
abandonar os maus caminhos que enveredavam. Ela aconselhava-os e
rezava com eles.
Quando
se preparavam para sair do quarto, ela os chamava e a alguns dizia :
“Dê-me a chave que tem no seu bolso”. A chave do pecado, para certos
homens casados, mas infiéis.
Ainda
hoje existe, na casa onde viveu a Alexandrina, uma cestinha que está
quase cheia de chaves dessas… as “chaves do pecado”.
Casos
como o que contei, aconteceram muitos, com outras pessoas e mesmo
com os seus Directores espirituais, os Padres Mariano Pinho e
Humberto Pasquale.
O mesmo
aconteceu igualmente — e mais do que uma vez — com o Dr. Augusto de
Azevedo, seu médico assistente.
***
Vou
contar-vos o que aconteceu com o seu primeiro Director a quando do
primeiro encontro entre eles:
No
primeiro dia em que o Padre Mariano Pinho, foi a Balasar para ali
pregar um tríduo, o Pároco confidenciou-lhe que tinha uma doente com
uns sinais de algo de sobrenatural na sua vida, mas que a ele lhe
custava acreditar. O Padre Pinho logo se ofereceu para a visitar e
para fazer o que estiver ao seu alcance no discernimento dos sinais.
Foi prontamente convidado a levar-lhe a Sagrada Comunhão logo no fim
da Santa Missa. De bom grado aceitou.
Recolhido, levando o Santíssimo Sacramento, lembrando o que o Pároco
lhe havia confidenciado, humildemente segredou ao Senhor:
— Se
estais presente e actuando as maravilhas da Vossa graça nessa alma,
dignai-Vos fazer-me um pequeno sinal.
Este
curto pedido faz-nos pensar em S. Tomé! E como S. Tomé, o Padre
Mariano Pinho vai ter uma resposta luminosa, como sempre são as
respostas de Jesus aos homens de coração puro… e não só!
Caminho
feito, sobe as escadas, vê a Alexandrina de olhar vivo como quem
espera Nosso Senhor. Feitas as orações rituais, chegou o momento de
mostrar a Hóstia Santa, dizendo “Eis o Cordeiro de Deus que tira
o pecado do mundo!”, e, sem saber como, a Sagrada Hóstia
desaparece de suas mãos para a ver logo na boca da Alexandrina, que
fica envolvida pela graça da Comunhão, o momento maior e mais
marcante de cada um dos seus dias.
Evidentemente, o Padre Mariano Pinho ficou estupefacto, mas com a
certeza que “o dedo de Deus” estava ali, o que facilitou grandemente
a longa conversa que ambos iam ter pouco depois.
O Padre
Manuel de Araújo, homem de certa cultura e bom pregador, deve ter
recebido a opinião do Jesuíta com um certo alívio, ficando
provavelmente menos céptico quanto ao caso da sua paroquiana.
Pouco
depois ele deixará Balasar por motivos de saúde.
Na sua
autobiografia a Alexandrina recorda algumas vezes o Padre Manuel de
Araújo.
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