OS SANTOS
PERSEGUIDOS
EMISSÃO - 36
Quando
lemos as vidas dos Santos e Santas de Deus constatamos, quase
sempre, que foram mal percebidos e sobretudo que foram perseguidos.
Isto não
nos deve causar admiração porque Cristo também perseguido e mesmo
condenado à morte e morte na cruz.
Todavia
os Santos tiveram opositores muito particulares: o próprio clero e a
Igreja nossa Mãe.
Poderia
citar uma ladainha dos Santos e Santas que foram perseguidos pelo
clero, antes de serem colocados nos altares pelo mesmo clero e,
algumas vezes pelo mesmo clero que alguns anos antes os tinham
perseguido ferozmente. Apenas citarei dois deles:
S. João
da Cruz, perseguido e molestado pelos próprios Carmelitas;
S. Pio de
Pietrelcina, capuchino italiano que sofreu durante muitos anos a
perseguição, não só dos seus próprios colegas, mas também por parte
de Bispos, para quem ela era um quebra-cabeças.
Mais
perto de nós temos o caso da Beata Alexandrina.
Primeiramente, por causa de ditos e mexericos orquestrados pelo
Jesuíta Padre Agostinho Veloso, perdeu o seu primeiro director
espiritual, o Padre Mariano Pinho.
Mais
tarde perdeu também o seu segundo director espiritual, o Padre
Humberto Pasquale, por este ter tomado posição contra a comissão de
inquérito, mandatada pelo Arcebispo de Braga e que emitira um juízo
desfavorável, dizendo que nada havia de sobrenatural na vida da
“Doentinha de Balasar”.
Esta
comissão nomeada pelo Arcebispo de Braga tinha à sua frente o Cónego
Molho de Faria, que nunca interrogou a Alexandrina.
Sim, veio
uma vez visitá-la mas unicamente para a ameaçar:
— “Lembra-te, Alexandrina, que o teu caso está nas minhas mãos.”
— “O meu
caso, Sr. Cónego, está nas mãos de Deus”, respondeu ela
gentilmente.»
Na
declaração final da dita Comissão, escrita pelo Arcebispo, podemos
ler na alínea A o seguinte:
a) que se
faça silêncio sobre os pretensos factos extraordinários atribuídos à
referida doente ou de que ela se afirma protagonista, os quais não
devem ser expostos nem apreciados em público, mas confinar-se quando
muito ao âmbito restritamente privado.
Surrealista!
O Sr.
Arcebispo de Braga —
D. António Bento Martins Júnior —
tinha assinado pouco antes o pedido de Consagração do mundo ao
Coração Imaculado de Maria, sabendo pertinazmente que este pedido
tinha origem em Balasar, portanto na Alexandrina.
Esta
posição do Arcebispo Primaz teve outras consequências: influenciou
outros Bispos que também tomaram posição contra a Alexandrina, como
por exemplo o Bispo de Aveiro que publicou uma nota pastoral, para
ser lida em todas as igrejas da sua diocese, proibindo quaisquer
visitas à “Doentinha de Balasar”, o que causou a esta uma grande
pena.
Convém
dizer e até mesmo afirmar que a Igreja deve mostrar-se prudente
nestes casos, porque, como disse Jesus, no meio do trigo também se
encontra o joio, no entanto há posições tomadas que mais parecem
vindas da antiga inquisição e que pouco têm de caridade cristã.
Estas
informações nada têm de azedume contra a Igreja da qual me sinto
plenamente filho e o serei até à morte, mas era necessário dizê-lo,
que mais não seja para que se conheça esta faceta da vida da Beata
Alexandrina.
O mesmo
Arcebispo de Braga, pouco após a morte de Alexandrina, veio celebrar
uma missa a Balasar e falou dela em termos que mostravam a sua
retractação quanto ao conteúdo da declaração publicada alguns anos
antes.
Quanto ao
Cónego Molho de Faria, ele foi uma das testemunhas no processo
informativo diocesano para a beatificação e canonização de
Alexandrina e nessa ocasião mostrou o seu arrependimento e o seu
desejo — que pareceu sincero — de a ver sobre os altares de Portugal
e do mundo.
Mais vale
tarde do que nunca!
Afonso
Rocha |