Os
pretendentes da Alexandrina
EMISSÃO - 35
A
Alexandrina era uma “Portuguesa bonita”, como canta o José Cid. E,
como ele diz:
«As do
Norte são mais claras, de pele branca,
São muito alegres, muito simples, muito francas.»
Este é
quase um retrato da nossa querida beata Alexandrina.
De facto,
quando olhamos para uma fotografia dela, podemos constatar um belo
rosto, que dois olhos negros ornamentam — olhos que mais tarde irão
ler nos corações — e nesse rosto uns lábios sorridentes, aquele
sorriso “enganador” do qual ela mesma fala nos seus escritos; dois
lábios que sorriem à dor.

Esta
beleza natural não podia deixar indiferentes os rapazes que ela
cruzava, ela que expandia jovialidade, que sempre tinha uma palavra
divertida para todos, mas sempre sob a aba do respeito e do temor de
Deus.
Conta ela
que desde os 16 anos começou a ter pretendentes, mas que a todos
recusava namoro, por não ser essa a sua vocação.
Ouçamo-la
contar-nos, com o seu humor habitual, estas cenas em que lhe foi
oferecida a ocasião de fundar um lar:
«Com os
meus dezasseis anos, pouco mais ou menos, fui continuar o meu
tratamento para a Póvoa de Varzim.
Numa
manhã, quando me dirigia para a igreja, percebi que alguém
apressadamente se aproximava de mim. Era um militar que se dirigia a
mim a pedir-me namoro. Recusei imediatamente, mas como ele
insistisse e não deixasse de me acompanhar, disse-lhe que se
retirasse, que ia para a igreja. Pediu-me licença para estar comigo
quando voltasse da igreja. Prometi-lhe que estaria, só para me
livrar dele, com a ideia de trocar o caminho. Ao voltar, pus-me a
ver se o via e, como nada enxergasse, vim pela mesma rua. A certa
altura surgiu-me ele, não sei de onde, e disse-me:
“Ó
menina, você que me prometeu?”
E tratava
de me acompanhar a casa. Parei e falei-lhe, dizendo que era doente e
que minha mãe não consentia que eu namorasse. Custou-me muito a
convencê-lo. De repente, apareceu a minha irmã e ralhou-me, pensando
que eu estava a namorar. Não voltei mais por aquele caminho, com
receio de me encontrar com ele. Com isto, tudo terminou.»
Uma outra
vez, outra proposição e uma resposta imediata e seca:
«Várias
vezes me vi apoquentada por rapazes a pedirem-me namoro, mas nunca
aceitei. Cheguei a dizer a um que me falava em casamento: “Não deixo
a minha família por causa de um homem.”»
Mesmo o
pároco de Balasar pensou que seria judicioso ajudá-la a encontrar um
rapaz, para se casar. Ela conta:
«Sendo do
conhecimento do Senhor Abade que um outro me pretendia, Sua
Reverência falou-me assim: “Se queres o rapaz, isso é tudo comigo.”
Eu respondi-lhe: “Eu estou boa para casar!”, pois já me sentia
bastante doente e, além disso, não tinha inclinação nenhuma para o
casamento.
Às vezes
pensava, se um dia fosse casada, como educaria os filhinhos para
serem todos de Nosso Senhor.»
Já neste
período da sua vida, apesar dos seus momentos de sofrimento, apesar
da sua juventude alegre, ela só pensava viver em Deus, de Deus e
para Deus, mesmo se, é verdade, não conhecia o caminho exacto que
lhe fora reservado na via espiritual.
Pouco
depois ela iria fazer o seu acto de entrega total a Jesus e viver só
para ele e “só por amor”, sorrindo ao céu, sorrindo à vida e
distribuindo bons conselhos a todos aqueles que a visitavam.
Terminarei como comecei, parafraseando o José Cid:
“E o
sorriso com que tu me encantas,
Dá vida e aquece o meu coração.”
Afonso
Rocha |