ALMA FIEL
NÃO TEME A CRUZ
Emissão - 26
O dia 5
de Junho de 1943 é o Primeiro sábado do mês. Como habitualmente
Jesus e a sua bendita Mãe vêm visitar a “Doentinha de Balasar”, para
lhe incutirem coragem para que ela possa levar a cabo a grande
missão que lhe fora confiada.
Jesus
começa por afirmar-lhe que “a alma fiel não teme a cruz ; toma-a,
abraça-a, acaricia-a, leva-a só por amor!”
E
como se esta afirmação não parecesse suficiente, Ele acrescenta
ainda que “os espinhos com que Jesus adorna na terra as suas
crucificadas transformar-se-ão no Céu em pétalas das rosas mais
belas e viçosas”.
É assim
que o Senhor trata as suas esposas; é assim que Ele as “adorna”:
com espinhos e sofrimentos de toda a espécie.
Não se
trata aqui de dolorismo ou da apologia deste, mas simplesmente de
mística, de mística pura e de comunhão dos Santos, o que poderíamos
chamar também “vasos comunicantes”.
“Estou convencido ― escreve
S. Paulo aos Romanos ― de que os sofrimentos do tempo presente
não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós” (Ro. 8,
18).
Jesus
quis “precisar” de almas vítimas para continuar, ao longo dos
séculos, o mistério da Redenção; não que a sua morte dolorosa e
redentora não fosse suficiente para resgatar a humanidade inteira,
mas simplesmente por que Ele quis associar a esta mesma Redenção
essas almas predestinadas que livremente se ofereceram para esse
fim. É por isso que lemos em S. Paulo aquela célebre frase em que
ele afirma “completar no seu corpo o que faltou à Paixão de
Cristo”, ou ainda “porque àqueles que Ele de antemão
conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do
seu Filho”.
Dessas
almas predestinadas que livremente se ofereceram para esse fim, a
Beata Alexandrina é um exemplo concreto e “palpável”, se
assim nos podemos exprimir. Ela mesma o afirma aqui categoricamente:
“eu dou-me a vós, eu sofro por vós, despedaçai de dor o meu
coração”. E porque se oferece ela assim tão firme e
categoricamente? A resposta também ela a dá a seguir: “Eu quero
dar-vos as almas”, como se ela dissesse: “Eu quero participar na
redenção da humanidade, participar da maneira que Vós mesmo
desejais, meu Jesus!”
Esta
oferta generosa não fica sem resposta, não cai no esquecimento do
Senhor, porque no Senhor tudo é e está presente: “Como é
encantador para Jesus uma virgem que a Ele toda se dá e por Ele tudo
sofre!”
E
quando assim é, que mais desejará a alma vítima, de que poderá ter
medo?
Esta
pergunta faz também o Apóstolo Paulo: “Quem poderá separar-nos do
amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a
nudez, o perigo, a espada?” (Ro. 8, 35) E, como em S. Paulo toda
a questão tem a sua resposta, ele a dá algumas linhas mais adiante:
“Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem
os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem
a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá
separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso”
(Ro. 8, 38-39).
É, como
diz o mesmo Apóstolo, na mesma Carta (Ro. 8, 14) : “Todos os que
se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus”.
Assim é
também com a Alexandrina.
Mesmo
quando Jesus a “felicita”, quando lhe diz que ela “é o
cofre riquíssimo que Jesus tem na terra”, ela continua humilde,
convicta de que nada é e que aquilo que “tem” lhe é dado pelo
Senhor, “rico em misericórdia”, não podendo pois gloriar-se
daquilo que não lhe pertence e que “recebeu por acréscimo”,
“contando com toda a graça e força do Céu” para poder
“distribuir às almas” as graças de que pela bondade divina foi
feita depositária.
Jesus
tem depois palavras carinhosas para todos aqueles que ajudam a
Alexandrina “a subir o doloroso Calvário”, aconselha-os e
promete-lhes a sua divina protecção “que contem sempre com as
graças e bênçãos do Senhor”.
A
página do Diário termina com a intervenção de Maria, uma curta
mensagem de encorajamento para a Alexandrina:
― Toma conforto, minha filhinha, esposa do meu Jesus, salvação de
todos os meus filhos. Como és amada de toda a corte celeste!
Textos
tirados dos Sentimentos da alma de 5 de
Junho de 1943, Primeiro sábado do mês.
Afonso Rocha |