Transfusão
de sangue
Emissão - 21
Nas
últimas emissões falei-vos dos amigos mais chegados da Beata
Alexandrina. Ainda vos falarei de alguns mais e até mesmo do seu
maior opositor ou inimigo, o Padre Agostinho Veloso. Mas deixo esses
para mais tarde, em momento oportuno.
Hoje
vou falar-vos de um carisma muito particular, visto ser o único que
se conhece na história dos Santos que a Igreja beatificou ou
canonizou: a transfusão do Sangue divino para o coração da
Alexandrina.
Santa
Catarina de Sena, assim como santa Ângela de Foligno receberam o
Sangue de Jesus, mas não de maneira frequente como aconteceu com
ela, que o recebia ao menos uma vez por semana — às sextas-feiras —
a partir de 25 de Junho de 1944.

Como já
foi dito, a Beata Alexandrina viveu 13 anos sem comer nem beber,
alimentando-se unicamente da Sagrada Eucaristia quotidiana.
É bom
saber igualmente que a ainda jovem – 40 anos — “doentinha de
Balasar”, pesava então apenas 40 kg, o que era pouco para uma pessoa
normalmente constituída e de estatura média.
No seu
Diário desse mesmo dia ela escreveu:
«Nova prova de amor de Jesus: veio Ele levantar-me do abismo das
trevas e da morte. Tomou-me em seus divinos braços, inclinou-me ao
seu divino lado, deu-me a beber o seu Sangue do seu divino Coração.
Que maravilha!»
Podemos
facilmente compreender a surpresa e alegria da Alexandrina ao ver-se
assim tanto acarinhada e privilegiada por Jesus e a sua exclamação
natural: “Que maravilha!”
Mas
esta solicitude de Jesus vai continuar e continuar até à morte da
sua esposa de Balasar.
Às
sextas-feiras, depois do colóquio com o seu divino Esposo, esta
“transfusão do Sangue divino” se fará mas nem sempre da mesma
maneira.
No
mesmo Diário, mas agora a 29 de Junho de 1945, ela volta a falar
desta oferta de Jesus para alimento da sua alma e do seu corpo:
«Jesus uniu novamente os nossos corações, estavam como que colados
um ao outro. Eu via da chaga do Coração de Jesus passar para o meu o
seu divino Sangue e raios fortíssimos do seu Amor. Só isto foi o
bastante para eu me perder e enlouquecer por Ele.»
Claro
que é mesmo de enlouquecer, de desmaiar ao sentir-se assim tão
amada.
Algumas
vezes este Sangue redentor chegava-lhe como por um tudo que partindo
do Coração de Jesus se ligava ao coração da Alexandrina e deixava
cair uma gota suficientemente forte que lhe dava mais vigor, mais
vida.
No
mesmo Diário, a Alexandrina escreveu no dia 13 de Fevereiro de 1948
este modo que Jesus explica:
«Vou
dar-te a gota do meu divino Sangue, a maior prova do meu
infinito Amor, a maior de todas as maravilhas, a única maravilha,
que tinha destinado dar à maior vítima da humanidade, a quem confiei
a missão mais sublime.»
E a
Alexandrina explica então como se passou:
«Jesus, enquanto falava, introduziu o tubo no meu coração e deixou
passar do d’Ele para o meu o seu Sangue divino. Senti, como se todo
o coração por ele fosse molhado. Jesus foi para mim, como se fosse
um pintor. Dilatou-se-me o coração, ficou grande, grande,
infinitamente grande; tinha a grandeza do Senhor à qual eu não pude
resistir. Acudiu Jesus, passou sobre o meu peito e sua divina Mão,
acariciou-me, fiquei curada, deixei de sentir tal grandeza».
“Dilatou-se-me o coração, ficou grande, grande, infinitamente
grande”, explica
ela; era tão “grande que ela não podia resistir”, porque o
“infinitamente grande” não se adapta facilmente ao infinitamente
pequeno, por isso mesmo a ajuda divina era necessária e urgente.
Jesus estendeu as suas mãos e, como outrora apaziguara a tempestade
no mar da Galileia, agora fez calmar aquela “grandeza” que a
Alexandrina sentia nela.
Sobre
este fenómeno único, que durou, como já disse até à morte da
Alexandrina, escrevi há alguns anos atrás um livro intitulado “O
Sangue do Cordeiro”, que o Sr. Arcebispo de Braga teve a bondade de
aprovar e que foi também editado no Brasil e tem uma versão em
francês.
Junto
de leito da Beata Alexandrina, vinham milhares de pessoas, para lhe
pedirem conselhos e orações. Aconteceram factos que merecem ser
contados. Na próxima emissão vos contarei um deles.
Afonso
Rocha |