Padre
Alberto Gomes
Emissão - 20
Desde
algumas semanas para cá tenho estado a falar-vos dos amigos da Beata
Alexandrina, aqueles que mais de perto lidaram com ela, como o Padre
Mariano Pinho, seu primeiro director espiritual; o Padre Humberto
Pasquale, seu segundo director; o Dr. Augusto de Azevedo, seu médico
e por último o Dr. Henrique Gomes de Araújo, que não sendo, à
partida, seu amigo, veio a sê-lo depois do internamento na Foz do
Douro.
Mas a
lista ainda se alonga um pouco mais, porque mais alguns merecem ser
conhecidos e falados, para que não fiquem esquecidos, como tantas
vezes acontece.
Hoje
vou-vos falar do seu confessor, o Padre Alberto Gomes.
Quando
o Padre Mariano Pinho adquiriu a certeza que ia ser afastada da
direcção espiritual da Alexandrina, procurou colocar ao lado dela um
sacerdote santo, um sacerdote que a pudesse compreender e ajudá-la e
a sua escolha não foi um outro jesuíta, mas um sacerdote simples,
recatado e frágil, em suma, uma sacerdote segundo o Coração de Deus.
Segundo
as informações que dele tenho actualmente, sei que o Padre
Alberto Guimarães Gonçalves Gomes
nasceu no dia 17 de Agosto de 1888 em Travassos, Póvoa de Lanhoso e
que ali faleceu igualmente a 29 de Março de 1974. Sabemos que era o
primeiro dos oito filhos do casal formado por Domingos António Gomes
e Joaquina Rosa Alves, e que estes deram aos filhos uma sólida
instrução cristã.
Diz um
dos seus biógrafos que Alberto Gomes “era
de constituição muito frágil e de saúde delicada”
e que “durante a infância, sofreu
de graves problemas de saúde”.
Em 1904
“entrou no seminário de Santo António, em Braga, seguindo sete
anos depois, para o seminário de São Tiago, onde completou o curso
de Teologia”.
Com a
implantação da República e as elucubrações anticlericais do Dr.
Afonso Costa que queria acabar com a religião católica em Portugal,
Alberto não pôde ser ordenado em Braga, mas sim no Porto, pelo Servo
de Deus, Dom António Barroso, que pouco depois seria exilado pelo
mesmo governo, sob pretextos falaciosos. A primeira Missa do Padre
Alberto foi celebrada em Travassos, no dia 29 de Julho de 1914.
“Depois
de desempenhar várias funções em algumas paróquias
– escreve
o mesmo biógrafo –, tornou-se, dois anos depois da sua ordenação,
pároco da paróquia que o viu nascer.”
A
referência ao primeiro encontro do Padre Alberto com a Alexandrina,
encontramo-la numa carta escrita pela Deolinda (irmã mais velha da
Alexandrina) ao Padre Mariano Pinho, a 27 de Setembro de 1934. Ela
explica:
“Ontem recebeu aqui a visita de um Padre e da Candidinha Almeida.
Nós não contávamos, não conhecíamos. A Candidinha chamava-lhe o
Senhor Padre Albertinho; a Alexandrina confessou-se e ficou contente
que já não tem de se confessar ao nosso para a primeira sexta-feira”.
Noutro
documento, este da “Obra do Amor divino” fundada pelo Padre Alberto,
encontramos uma explicação mais detalhada deste acontecimento,
certamente escrita pelo próprio Padre Alberto Gomes:
«Em
Setembro de 1934, (...) de passagem pela Póvoa de Varzim, teve
conhecimento da existência, em Balazar, de uma donzela muito falada,
por causa dos seus sofrimentos e muito notável pela sua virtude.
Dali, em viagem de caminho-de-ferro, foi, só e oculto, fazer uma
visita à veneranda, sendo recebido cristãmente pela família, que o
conduziu ao leito da paralítica Alexandrina Maria da Costa, na sua
humilde casinha, no lugar do Calvário. Depois de uma conversa
espiritual, que durou cerca de uma hora, o Sr. Padre Alberto
retirou-se santamente impressionado com tudo o que notou e nunca
mais esqueceu».
Como as
coincidências não existem nas coisas de Deus, que tudo planeia
segundo o Seu bom prazer, podemos deduzir que esta primeira visita
do Padre Alberto à Alexandrina foi o “ponto de partida” para uma
colaboração que iria durar muitos anos: até à morte da “doentinha de
Balasar” em 1955.
De facto,
o bom Padre Alberto tornou-se, desde fins de 1940 um visitante
assíduo da “casa do Calvário”. Foi todavia só no dia 20 de Janeiro
de 1942 e depois de um encontro com Padre Mariano Pinho que a
“função de confessor ordinário da Alexandrina” se “oficializou.
Alguns
dias depois, numa sexta-feira, o Padre Alberto alugou um táxi e veio
a Balasar assistir à “Paixão” da Alexandrina, que acontecia então
todas as sextas-feiras, pelas 3 horas da tarde.
É útil
dizer que a distância entre Balasar e Travassos, onde o Padre
Alberto paroquiava é de mais ou menos 60 km.
Aconteceu que ele chegasse a Balasar molhado por ter apanhado chuva
durante o longo trajecto, mas sentia-se feliz por poder cuidar
daquela alma santa que o Senhor pusera no seu caminho.
A Padre
Alberto Gomes foi confessor da Alexandrina de 1942 até 13 de Outubro
de 1955, dia da morte da “Doentinha de Balasar” à qual ele assistiu.
A “Obra
do amor divino” à qual aderiu a Alexandrina foi fundada pelo Padre
Alberto e ainda hoje beneficia do carinho dos paroquianos de
Travassos e não só.
Afonso
Rocha |