Primeira Missa no quarto
EMISSÃO - 11
Hoje
vamos falar da primeira Missa celebrada no quarto da Alexandrina.
Como já
foi dito, ela vivia acamada desde já há alguns anos, não podendo por
isso mesmo deslocar-se à igreja paroquial, ao menos ao domingo, para
assistir à Santa Missa.
No dia
2 de Setembro de 1933 o Padre Mariano Pinho escreveu-lhe e
enviou-lhe uma imagem da então Beata Gema Galgani, prometendo
explicar-lhe quem ela tinha sido.
Nesse
mesmo mês e, porque a Alexandrina lhe dissera a pena que sentia por
não assistir à Santa Missa, o bom jesuíta teve uma ideia luminosa:
perguntou-lhe se ela estava inscrita na Obra das Marias dos
Sacrários-Calvários.
Esta
Obra fundada por S. Manuel Gonzalez Garcia, bispo de Valença, na
vizinha Espanha, era já bastante conhecida em Portugal e, a
Alexandrina que nela estava inscrita, confirmou ao Padre Mariano
Pinho este facto.
É bom
saber que esta Obra beneficiava de um privilégio concedido pelo Papa
S. Pio X ao Santo fundador: a possibilidade de celebração da Santa
Missa nos domicílios dos membros doentes, o que era o caso da
Alexandrina.
Em
carta enviada à sua dirigida a 12 de Novembro de 1933, o Padre
Mariano Pinho escreve:
«Então é Maria do Sacrário? Ainda bem; por conseguinte para ter
Missa aí [em casa], basta só mandar dizer ao Senhor Arcebispo de
Braga. Ele está para Lisboa. Como há-de ser? Não se aflija, que
antes de sair de Braga fui falar com ele e já lhe pedi a licença
precisa. Por isso no dia 20, se Deus quiser, aí me tem depois do
tríduo em Outis — paróquia vizinha de
Balasar — a dizer-lhe Missa no seu quarto. Tratem de arranjar
tudo o que é preciso: pedra de altar, com as três toalhas,
crucifixo, 2 velas, missal, paramentos (brancos), alva, cordão,
(amito e sanguíneo não é preciso que eu levo o meu), cálix,
galhetas, vinho puro de missa, hóstia grande para mim e pequena para
si e para as outras pessoas que aí quiserem comungar. Suponho que
terão maneira de arranjar isso tudo facilmente.»
Claro
que arranjaram, tão grande era a alegria causada por esta boa
notícia.
Na
carta em que responde ao bom sacerdote e que tem como data 6 de
Novembro de 1933, a Alexandrina diz:
«Senhor Padre Pinho, perguntava-me na última carta se eu era Maria
dos Sacrários-Calvários. Sim, sou. Se queria a Missa... Já há muito
que tenho grandes saudades disso.»
Mais
adiante, na mesma carta ela conclui:
«Se
isso se puder conseguir, para mim era uma grande alegria, que me não
é possível explicar-lhe.»
Todavia, esta alegria que ela sente não a impede de pensar no
sacrifício que o bom jesuíta terá de fazer: vir em jejum de Braga a
Balasar para ali celebrar a Santa Missa:
«Mas
apesar dessa alegria — escreve ela —,
custa-me imenso o grande sacrifício que vai fazer em ter de vir em
jejum, estando umas manhãs tão frias.»
***
– E foi
assim que, no dia 20 de Novembro de 1933, foi celebrada, pelo Padre
Mariano Pinho, a primeira Missa no quarto da Alexandrina.
Depois
desta, muitas outras foram celebradas, não só pelo Padre Mariano
Pinho — até princípios de 1942 — como por outros, entre os quais, o
seu segundo director espiritual, o salesiano italiano, padre
Humberto Maria Pasquale.
Digno
de notar também: um dos filhos do médico da Alexandrina, o Dr.
Manuel Augusto Dias de Azevedo, que se tornou sacerdote, celebrou
uma das suas primeiras Missas no quarto da Alexandrina que era
também sua madrinha.
Afonso
Rocha |