Amar, sofrer, reparar
EMISSÃO - 9
Na
última emissão falei-vos da entrega total da Alexandrina a Deus, da
sua oferta como vítima pela salvação dos pecadores e da bela oração
que ela compôs aos Sacrários.
Hoje
vou falar-vos das “consequências desta mesma oração, na vida da
beata Alexandrina, que estão na origem do seu lema de vida.
Ela
explica na sua Autobiografia que todas as vezes que recitava esta
oração, sentia no seu corpo um grande calor e uma tal ligeireza que
este se levantava no ar, ou melhor dito, levitava.
De
facto o seu corpo elevava-se acima do leito e ela ficava suspensa no
ar. Chama-se a isto levitar.
Por lhe
parecer estranho, perguntou à irmã e à professora Çãozinha, sua
amiga e confidente se elas também sentiam aquele calor quando
rezavam, visto ela pensar que fosse comum a todas as pessoas que
rezam.
Como
lhe dissessem que não, ela não insistiu, mas explicou que cada vez
que rezava o Hino aos sacrários, sentia aquele calor que ela não
sabia explicar. Mas, mais ainda, quando terminava esta oração, na
sua humildade e inocência perguntava a Jesus o que mais poderia
fazer e, a resposta divina era invariável:
AMAR,
SOFRER, REPARAR.
Isto
aconteceu em 1931.
Assim
ficou delineado o seu lema de vida, o que significa que Jesus tinha
aceitado a sua oferta como vítima e que agora lhe indicava como iria
ser a sua vida doravante: uma oferta contínua e uma vigilância
constante sobre todos os sacrários da terra onde Jesus está tantas e
tantas vezes sozinho.
Tendo
provavelmente compreendido que o caso da irmã se tornava muito
sério, a Deolinda falou a um sacerdote Jesuíta, seu director
espiritual e pediu que este a visitasse quando lhe fosse possível,
visto o dito sacerdote morar longe de Balasar.
Este
encontro vai acontecer no dia 16 de Agosto de 1933.
O Padre
Mariano Pinho — é este o seu nome — gozava de grande fama de
pregador e pregava tríduos do norte a sul de Portugal. O Pároco de
Balasar — Padre Leopoldino Mateus — convidou-o a fazer um tríduo na
sua paróquia durante o mês de Agosto, mais precisamente de 16 a 20
desse mês.
Logo
que o bom Jesuíta chegou à aldeia e, depois de saudar o Pároco, foi
visitar a Alexandrina, como prometera à Deolinda.
A
Alexandrina não sabia o que era um director espiritual, mas recebeu
de bom grado aquela visita que iria pacientemente transformar o seu
modo de entender a sua vida interior.
Ela
contou-lhe tudo, ou quase tudo, pois ela, cientemente ou não, omitiu
de lhe falar do calor que sentia quando rezava o Hino aos sacários e
das palavras que ouvia quando perguntava a Jesus o que devia fazer…
Parece
provável que o Padre Mariano Pinho a tenha visitado de novo no dia
20 de Agosto, antes de voltar para Braga, visto que na primeira
carta que a Alexandrina lhe escreve a 28 de Agosto desse mesmo ano,
ela pergunta:
«Então
como tem passado desde o dia 20 até hoje?»
O Padre
Mariano ter-lhe-á enviado um livro — não se sabe qual — visto que na
mesma carta ela agradece:
«Agora tenho a agradecer a Vossa Reverência o livrinho que me
mandou. Não é fácil imaginar como fiquei contente!»
Entre
estas duas almas de excepção vai estabelecer-se uma harmonia de
sentimentos espirituais que vão elevá-las progressivamente, segundo
os desígnios divinos, ao mais alto nível da espiritualidade cristã
e, coisa extraordinária, vão aprender um do outro, estabelecendo-se
entre eles uma complementaridade exemplar, uma complementaridade
cheia de recato, toda emprenhada no amor divino de Jesus e Maria,
porque ambos são loucos pela Eucaristia e por Paria, nossa Mãe do
Céu.
Na
mesma carta já citada e em previsão de nova visita do bondoso
sacerdote, a Alexandrina escreve:
«Marcará a [hora] que melhor lhe convier: se for de manhã, fazemos
gosto que Vossa Reverência jante aqui.»
Quanto
a nós, também ficará novo encontro marcado para breve.
Afonso
Rocha |