Ofereci-me
a Nosso Senhor
EMISSÃO
- 7
Terminei a última emissão afirmando que “uma nova Alexandrina vai
nascer (…), uma Alexandrina que em breve se vai oferecer ao Senhor e
tornar-se uma alma-vítima, uma santa de Deus”.
Será
pois desse oferecimento a Deus que hoje irei falar, por ser um acto
também heróico que vai transformar toda a vida dela e torná-la
simplesmente uma vida de oração e de doação contínua.
Alguns
anos depois do salto pela janela, a Alexandrina em 24 de Abril de
1924, acamou para sempre. Tinha então 20 anos.

Nos
primeiros tempos jogava às cartas com as amigas e assim ocupava os
seus longos momentos do dia. Chegou também a fazer novenas, com sua
mãe e com a irmã, para obter a sua cura, mas estas preces, à
primeira vista, de nada serviram e ela continuou sofrendo no seu
leito.
Mas
esta situação vai mudar: Deus vai tocar mais fortemente o seu
coração juvenil e inspirar-lhe o que deve fazer.
Na sua
autobiografia ela explica:
– Sem saber como, ofereci-me a Nosso Senhor como vítima.
Esta
confissão que parece ingénua é na verdade um acto heróico, maior do
que se atirar pela janela, maior do que qualquer outra promessa em
caso de cura.
A
Alexandrina diz que “vinha, desde há muito tempo, a pedir o amor
ao sofrimento”, constata que “Nosso Senhor concedeu-lhe
tanto, tanto esta graça que hoje não trocaria a dor por tudo quanto
há no mundo.”
Mais
ainda, ela confessa que “com este amor à dor, toda me consolava
em oferecer a Jesus todos os meus sofrimentos” porque “a
consolação de Jesus e a salvação das almas era o que mais me
preocupava.”
Amar o
sofrimento pelo que ele é, chama-se a isso masoquismo, mas amar o
sofrimento para o oferecer pela salvação das almas é heroísmo, é
amar o próximo e desejar ardentemente a sua salvação eterna.
“Com
a perda das forças físicas, fui deixando todas as distracções do
mundo e, com o amor que tinha à oração – porque só a orar me sentia
bem – habituei-me a viver em união íntima com Nosso Senhor.
Que
transformação!
A
partir de então, tudo muda para ela, como ela mesma o explica:
“Quando recebia visitas que me distraíam um pouco, ficava toda
desgostosa e triste por não me ter lembrado de Jesus durante esse
tempo.”
Neste
enleio com Jesus e Maria, o tempo vai passando.
Alguns
anos mais tarde, em 1928, a paróquia de Balar organiza uma
peregrinação a Fátima. A Alexandrina tem de novo o desejo de cura e
pede para ir a Fátima, mas o Pároco e o médico não autorizam a
viagem, dado o estado dela.
A
consequência desta recusa, é para ela um motivo mais da aceitação da
vontade de Deus. Então um pensamento muito particular vem ocupar a
sua mente:
“Jesus está prisioneiro no Tabernáculo; também eu sou prisioneira”.
E esta
curta oração vinha naturalmente aos seus lábios, ditada pelo seu
nobre coração:
«Amo-Vos, Jesus, de todo o meu coração. Compadecei-Vos desta pobre
doentinha e levai-a para Vós quando for da Vossa vontade. Sim, amado
Jesus? Nunca Vos esqueçais de mim, que sou uma grande pecadora.»
Na
próxima emissão falarei do seu amor aos sacários e da oração que ela
compôs para eles…
Afonso
Rocha |