Nascimento e meninice
EMISSÃO 2
Amigos
auditores, bom dia.
Na
minha primeira intervenção nesta rádio, expliquei-lhes quem eu era e
“confessei” quais eram os meus passatempos favoritos, precisando que
aquele ao qual me entrego mais é o de tornar mais conhecida e amada
a Beata Alexandrina de Balasar. Por isso mesmo vou começar hoje a
falar-vos dela, esperando que o vosso interesse vá crescendo à
medida que as imissões irão prosseguindo a bom ritmo.
Alexandrina Maria da Costa nasceu em Gresufes, paróquia de Balasar
no dia 30 de Março de 1904, numa quarta-feira Santa e foi baptizada
no sábado seguinte, portanto sábado da Aleluia.
No
registo do baptismo pode-se ler que ela era filha natural de Maria
Ana da Costa, também natural de Gresufes.
Esta
situação merece uma explicação, sabendo-se que naquele tempo estes
casos de mães solteiras eram relativamente frequentes em Portugal.
De
facto, Maria Ana da Costa conheceu um jovem, também natural de
Gresufes e, com promessa de casamento, deixou-se convencer e 9 meses
depois — em
21 de Outubro de 1901
— nasceu a Deolinda. Nessa ocasião, o pai explicou à jovem mãe que
ia para o Brasil, para ajeitar dinheiro para se casarem. E assim
foi.
Voltou
dois anos depois e, utilizando o mesmo estratagema, fez que a jovem
ficasse de novo grávida, desta vez da Alexandrina.
Antes
mesmo que a outra filha nascesse ele voltou para o Brasil, para
ajeitar dinheiro para casarem…
Mesmo
se a ingenuidade de Maria Ana parece grande, assim se passaram as
coisas.
Dois
anos depois o homem voltou do Brasil, mas não procurou Maria Ana
para tratar de casamento e assumir a responsabilidade de pai…
A jovem
mãe sabendo do retorno do pai de suas duas filhas, foi procura-lo à
Póvoa de Varzim e viu-o com outra mulher com a qual ele casou pouco
tempo depois.
Caindo
em si e compreendendo que nada mais poderia esperar dele, vestiu-se
de luto, como se fosse viúva, e mudou completamente de vida, dando a
suas filhas uma excelente educação cristã, e tornando-se para os
paroquianos um exemplo de conversão.
A sua
mudança de vida foi tão evidente e surpreendente — começou a ir à
missa todos os dias antes de ir para o trabalho nos campos — que o
pároco de Balasar lhe confiou a chave da igreja paroquial, para que
ela pudesse rezar de manhãzinha e acabou mesmo por lhe confiar a
ornamentação da igreja.
Portanto destes amores ilícitos de Maria Ana e António Gonçalves
Xavier, nasceram Deolinda e Alexandrina.
As duas
irmãs sempre se entenderam muito bem, mesmo se Alexandrina, muito
marota ao ponto de lhe chamarem “Maria-rapaz”, fizesse frequentes
farsas à irmã que pacatamente aceitava e perdoava.
Cresceram as duas neste ambiente de educação sem falhas, onde a
religião ocupava um lugar de honra, com a reza do terço e outras
orações, todos os dias.
Os anos
foram passando e, quando chegou o memento de irem para a escola, a
mãe confiou-as a uma família da Póvoa de Varzim, para que ambas
pudessem aprender a ler e a escrever.
Estiveram lá durante dezoito meses e ali também a Alexandrina
continuou a fazer as suas marotices, agarrando-se, por exemplo aos
autocarros e provocando mesmo os condutores ao ponto de fazerem
queixa dela à senhora que a recebera em casa.
Desafiava os polícias que cruzava e cantava-lhes motes contra Afonso
Costa…
Por um
certo lado pode-se dizer que era ardil e provocadora!
Mas
também tinha os seus bons momentos: ia muitas vezes para a praia da
Póvoa apanhar sargaço e trazia-o à senhora que a guardava, para que
esta o vendesse aos lavradores como estrume para os campos.
Fazia
vénias aos sacerdotes que cruzava e beijava-lhes a mão com grande
respeito e religiosidade.
Passados os 18 meses voltaram par Gresufes, para a casa materna e
ali viveram algum tempo. Depois mudaram para outra casa que a mãe
herdara, para um lugar chamado Calvário, nome predestinado.
Foi
naquela casa que as três mulheres viveram até à morte.
Na
próxima emissão irei entrar em pleno na vida da Beata Alexandrina, e
contar-vos a sua juventude um tanto ou quanto movimentada.
Afonso Rocha |